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    Santa Elena quer se tornar destino turístico, mas enfrenta dificuldades

    DA FRANCE-PRESSE

    23/04/2015 11h23

    Perdida a cinco dias de barco da Cidade do Cabo, a ilha de Santa Elena sonha em se tornar um destino turístico com a abertura de um aeroporto em 2016, mas praticamente nada ou quase nada está pronto para a chegada massiva de visitantes nesta pequena ilha britânica de 4.200 habitantes.

    "Se chegarmos a receber 30 mil turistas por ano, os economistas dizem que a ilha poderá ser autossuficiente" e prescindir do subsídio de Londres, diz Cathy Alberts, a diretora da secretária de turismo. Isso significaria cerca de 600 visitantes semanais.

    A cifra causa nervosismo aos habitantes da ilha, já que atualmente ela recebe 1.500 visitantes anuais.

    "Imagina o caos nas estradas com 30 mil turistas?", ironiza Niall O'Keeffe, diretor da empresa de desenvolvimento local Enterprise St. Helena.

    Ainda que nesta ilha de 18 km de extensão por 8 km de largura situada no meio do Atlântico tudo fique "pertinho", as estradas são particularmente estreitas.

    As rotas terrestres não são o único problema nesse território britânico ultramarino. Tampouco há previsões de infraestrutura para receber mais gente nessa ilha tropical sem praias nem coqueiros. As lojas estão normalmente vazias, é melhor avisar antes para poder comer em um restaurante, só há um banco e nenhum caixa, a conexão com a internet é lenta e cara.

    Depois de ter publicado um plano de desenvolvimento particularmente ambicioso –o auge do turismo teria que dar trabalho aos habitantes expatriados em Ascenção e nas Malvinas– as autoridades locais são agora mais prudentes.

    "Em dez anos consigo ver Santa Elena muito mais animada, com mais gente, restaurantes e lojas", prevê em voz alta o governador Mark Capes. "Mas não será uma mudança repentina, não ocorrerá da noite para o dia."

    Com a abertura do aeroporto, prevista para fevereiro do ano que vem, a ilha terá inicialmente uma conexão semanal com Johannesburgo.

    Concretamente, transportará semanalmente mais ou menos o mesmo número de passageiros que o barco atual, que só chega uma vez a cada três semanas. Os profissionais creem que haverá mais turistas a bordo, porque a travessia de barco exige ter pelo menos dez dias de antecedência e bastante desembolso também.

    SUPERMERCADO E CELULAR

    Os visitantes poderão disfrutar de seis dias na ilha, o suficiente para conhecer esse lugar estranho onde pode-se passear por escassos quilômetros de pastos que lembram a Irlanda, com seus quase desertos que dominam o mar.

    Poderão encontrar-se à frente da antiga tumba de Napoleão, visitar a casa onde morreu o imperador francês que esteve exilado em Santa Elena de 1815 a 1821, fazer trilhas, mergulho, fotografas aves ou ir observar golfinhos.

    Já se fala de uma segunda linha aérea, que os hoteleiros gostariam que fizesse uma conexão com o Reino Unido, a pátria mãe de onde vem a maioria dos turistas.

    "Para ter dois voos semanais, teremos que duplicar nossa capacidade hoteleira", diz Dax Richards, responsável pelas finanças do território.

    Um edifício histórico deve ser transformado em um hotel no centro da capital, Jamestown, mas, por enquanto, a ilha só oferece 85 leitos e alguns apartamentos para alugar.

    Santa Elena também deve investir em infraestrutura, como ruas, abastecimento de água e energia elétrica, rede de esgotos, entre outros. Um gasto excessivo que vai contra a tendência de reduzir a dependência em relação à Londres, que proporciana atualmente 60 milhões de libras (ou 88 milhões de dólares) anuais.

    O que alguns profissionais do turismo temem acima de tudo é que os visitantes que chegarem de avião fiquem decepcionados. Que reação terão, por exemplo, quando verem que não se faz nada com o lixo acumulado em Jamestown e em suas imediações?

    Outros moradores temem simplesmente que a ilha perca sua alma.

    "Espero que não percamos nossa coesão, nosso sentimendo de solidariedade", explica o guia Basil George. "Isso que me dá medo com o aeroporto, não é o aeroporto em si", adicionou.

    A revolução já está encaminhada, com a chegada anunciada de um primeiro supermercado moderno a Longwood, muito perto da casa de Napoleão, ou com a transformação de uma serralheiria em um bar de tapas na capital.

    E Santa Elena tem pendente outra revolução importante para realizar antes do final do ano, a chegada do celular.

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