• Turismo

    Friday, 03-May-2024 16:35:57 -03

    Precursor dos campos de concentração preserva detalhes de tragédia nazista

    FELIPE BÄCHTOLD
    EM DACHAU (ALEMANHA)

    27/06/2015 02h00

    Xinhua - 3.mai.2015
    Sobrevivente do campo de Dachau na cerimônia para celebrar os 70 anos de libertação do local
    Sobrevivente do campo de Dachau na cerimônia para celebrar os 70 anos de libertação do local

    As torres dos guardas, as cercas de arame farpado e as oficinas de trabalho forçado seguem intactas como eram 80 anos atrás. Pedaços de trilhos de trem fixados no chão recordam como era o caminho de entrada de um local que por anos não teve nenhuma porta de saída.

    A 20 km do centro de Munique, no sul da Alemanha, o memorial do campo de concentração de Dachau mantém preservado com riqueza de detalhes o cenário de um dos locais mais simbólicos do regime de Adolf Hitler.

    O lugar foi o primeiro dos campos de concentração alemães, aberto menos de dois meses após a chegada de Hitler ao poder, em 1933. Lá foi desenvolvido e testado o conceito que acabou aplicado em outros locais pela Europa, como Auschwitz, na Polônia.

    Inicialmente, o campo de Dachau funcionou como cárcere de presos políticos. Com a crescente perseguição na década de 1930 a grupos como judeus, homossexuais, ciganos e imigrantes, acabou recebendo pessoas de inúmeras nacionalidades, incluindo presos de guerra.

    A superlotação e a precariedade das instalações contribuíam para a matança dos alvos do regime. Dezenas de milhares de pessoas ficavam abrigadas em 36 barracões que serviam de cela. Ao longo de 12 anos, passaram por lá 200 mil presos. O número de mortes é incerto, mas estimado em ao menos 40 mil.

    Hoje, apenas dois dos barracões ainda estão em pé, com réplicas dos beliches da época e de plataformas em que os prisioneiros dormiam literalmente amontoados.

    O pátio onde os presos eram obrigados a perfilar todas as manhãs para a contagem hoje tem instalações artísticas em memória aos que morreram no local.

    Por todo o complexo, painéis contam detalhes inacreditáveis do dia a dia em Dachau, como um manual de instruções milimétricas sobre como cada preso deveria arrumar a cama. Qualquer descumprimento da "regra" servia de pretexto para punições de todo tipo.

    Uma faixa de grama próxima às cercas de arame farpado, também ainda preservada, servia para delimitar a área de circulação dos prisioneiros. Quem ultrapassasse era morto a tiros. E muitos, ainda assim, cruzavam propositalmente o limite para dar fim ao sofrimento.

    O ponto mais impactante de uma visita pelo campo de concentração, no entanto, é a parte do crematório, em uma área afastada do pátio central. Lá estão os fornos usados para se desfazer dos corpos e uma câmara de gás.

    Em um bosque ao lado do prédio, uma pequena trilha leva a um ponto de fuzilamentos e a uma vala comum. Uma placa aterradora informa que ali há os restos mortais de "milhares de desconhecidos".

    Quando militares dos Estados Unidos libertaram Dachau, um dia antes da morte de Hitler, em 1945, a população da cidade foi convocada pelos americanos para ir ao local e testemunhar a carnificina.

    CAPELAS E MUSEU

    A área do antigo campo de concentração, equivalente a 45 campos de futebol, é mantida há 50 anos por uma associação de sobreviventes e vítimas, o Comitê Internacional de Dachau. A visita é gratuita e um audioguia pode ser locado na recepção por € 3,50 (cerca de R$ 12), com opção também em português.

    A entidade transformou um setor ao fundo do complexo em capelas de diferentes religiões. O museu do campo de concentração funciona em um prédio que servia como oficina de trabalhos forçados. O acervo inclui objetos e documentos da época, vídeos, cópias de jornais antigos e uma linha do tempo com o passo a passo da chegada de Hitler ao poder. Um livro traz nome a nome as milhares de vítimas mortas.

    Andreas Gebert-3.mai.2015/Efe
    A chanceler alemã Angela Merkel com Max Mannheimer (na cadeira de rodas), sobrevivente do campo de Dachau
    A chanceler alemã Angela Merkel com Max Mannheimer (na cadeira de rodas), sobrevivente do campo de Dachau

    Às vésperas do aniversário de 70 anos de libertação do campo, em abril deste ano, o comitê providenciou um novo portão de ferro para o complexo, com o característico lema nazista "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta). No fim de 2014, a peça havia sido furtada.

    O aniversário foi lembrado por personalidades como Barack Obama e Angela Merkel, que visitou o local e se encontrou com sobreviventes em uma cerimônia. Obama, em mensagem, repetiu as palavras com as quais um oficial americano relatou o que tinha encontrado em Dachau: "Não se pode imaginar que exista isso em um mundo civilizado."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024