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    Pacotes que misturam intercâmbio e voluntariado ganham força no país

    JÚLIA GOUVEIA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    02/07/2015 02h00

    Você já pensou em trocar as férias na praia para dar aulas para crianças carentes na Índia? Ou cuidar de filhotes na África em vez de fazer compras nos Estados Unidos?

    Cada vez mais brasileiros estão buscando programas de "volunturismo", modalidade de intercâmbio cuja finalidade é fazer um trabalho voluntário no exterior.

    "É um programa que reúne um pouco de tudo do mundo do intercâmbio: o idioma estrangeiro, o contato com a população local e a experiência do trabalho fora do país", diz Carlos Robles, conselheiro da Belta, associação que reúne agências de viagens especializadas em intercâmbio.

    Nessas viagens, em geral o turista faz atividades em uma ONG durante a semana –em período integral ou só em dias selecionados– e tem o fim de semana livre para passear.

    Os programas duram de duas semanas a até um ano e podem ser combinados com cursos de idiomas.

    Além da experiência singular, optar por esses intercâmbios também pode significar economia. Como muitas vezes envolvem acomodação em casas de família ou quartos compartilhados, eles custam de 30% a 40% menos que um programa convencional.

    Apesar de não haver uma idade máxima para participar, o público é majoritariamente de universitários e recém-formados de até 25 anos.

    Segundo Letícia Gonçalves, gerente de marketing da Aiesec, organização estudantil que realiza esse tipo de viagem, o perfil pede "alguém com desejo de mudança".

    "É comum também que a pessoa já tenha feito intercâmbios e busque novas experiências", afirma Eduardo Frigo, gerente da CI.

    O BOOM

    A CI é uma das empresas que tem se aproveitado da moda desse tipo de intercâmbio. O volume de viagens contratadas em 2014 foi 600% maior que em 2009.

    E já tem notado até um novo filão, de famílias de "volunturistas", que viajam para o intercâmbio juntas.

    A unidade brasileira da Aiesec, presente em 120 países, se tornou a segunda maior em emissão de voluntários no mundo –foram 1.900 no ano passado, só menos que na China, e alta de 23% em relação a 2013.

    Desde março o STB também aposta no nicho, depois de registrar um aumento na demanda por esses pacotes.

    Até pouco tempo, esta modalidade de viagem quase não era conhecida por aqui.

    "Mas as pessoas perceberam que é um diferencial até para o currículo", explica Fernanda Semeoni, diretora de produtos da Experimento, que desde 2011 trabalha com pacotes do gênero.

    *

    DICAS PARA VOLUNTARISTAS

    >> "É preciso ter em mente que você não está ali como um turista comum", diz a brasiliense Cris Marques, que já fez mais de dez programas do tipo. "Não dá para acordar um dia e dizer 'não vou', pois o local depende do seu trabalho. Requer muita responsabilidade"

    >> Para a pernambucana Marília Watts, que deu aulas de inglês para crianças em Marrocos, o "volunturista" não pode esperar por conforto e deve estar preparado para imprevistos. Ela ficou em uma casa de família na qual dividia dois cômodos com o resto dos moradores, com direito até a banheiro turco (um buraco no chão)

    >> Participantes devem estar preparados para o choque cultural. A paulistana Marina Graciolli trabalhou no Cairo em uma ONG que defendia o direito das mulheres. "Os vizinhos nos tratavam muito mal por sermos mulheres e estrangeiras –chegaram a dizer que éramos espiãs e prostitutas; não podíamos questionar os homens nem em situações banais", conta

    >> Para a mineira Ana Luisa Rolim, que atuou em escolas de Moçambique por seis meses, a questão racial chamou a atenção. "Eu via muito do Brasil neles, mas eles não nos viam como iguais." Por causa da violência no país, ela evitava andar sozinha à noite ou em grupos só de mulheres

    >> Apesar do trabalho, é possível passear, sim. O paulistano Jefrey Moura aproveitou o voluntariado na África do Sul para conhecer pontos turísticos. "O trabalho era flexível –eu ia à ONG dia sim, dia não", conta. "Meus 'irmãos' na Cidade do Cabo me levaram até a um safári"

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