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    Uruguai mescla vinícolas familiares e megaempreendimentos do vinho

    JOSIMAR MELO
    ENVIADO ESPECIAL AO URUGUAI

    30/07/2015 02h00

    Sentados diante de uma fileira de copos e garrafas, provando vinhos produzidos na pequena vinícola Alto de la Ballena, perto de Punta del Este, no Uruguai, somos –os proprietários e eu– interrompidos pela entrada de um casal de turistas. São brasileiros; passavam por ali de carro e resolveram entrar, atravessando os vinhedos até a sede. Queriam provar vinhos e saber os preços.

    Essa região, no departamento de Maldonado, não é a mais tradicional em termos vinícolas. Mas conheci ali dois tipos de empresa que hoje vão desenhando a paisagem vinícola do país.

    Uma delas –na qual bebia quando chegaram os turistas– é a pequena propriedade tocada há poucos anos pela família (no resto do país, especialmente em Canelones, porém, elas podem contar dezenas de anos e gestores de terceira ou quarta geração).

    Outro tipo é representado pela vinícola que visitei a seguir, Garzón: um megaempreendimento de um milionário argentino do petróleo, que reúne uma cantina gigantesca e de ponta (fica pronta em novembro), produção de azeite de oliva e boa infraestrutura para receber visitantes.

    A primeira tem meros 8 hectares de vinhedos (tamanho de aproximadamente oito campos de futebol); a segunda, 300. E em ambas, há visita constante de brasileiros -que, segundo estimativas de todas as vinícolas, chegam a 80% dos turistas. E todos compram algo. O Brasil é o maior mercado de exportação para o vinho de lá.

    O Uruguai se tornou conhecido no mundo por suas bebidas feitas com a uva tannat, variedade francesa do Madiran, introduzida no país há 150 anos. Era inicialmente um vinho encorpado e duro; mas nos últimos 30 anos, quando os vinhedos começaram a ser replantados, o tannat uruguaio, mantendo a cor profunda, passou a ter taninos mais domados e sabor frutado.

    Com isso, uma vinícola como a Pisano –há cem anos na mesma família– vende seus produtos para 50 países, mesmo mantendo-se uma empresa familiar e de pequeno porte. Com efeito, os bons tannat (maioria da produção do país, mas não exclusiva: há muito bons merlot e cabernet franc, por exemplo) encontram-se de várias marcas.

    A maior concentração de vinícolas fica ao norte de Montevidéu, principalmente no departamento de Canelones, e quase sempre ostentando o nome das famílias proprietárias. São exemplo a Antígua Bodega Stagnari, a H.Stagnari, a Varela Zarranz, a Pizzorno, a Toscanini, a Castillo Viejo, a Marichal, a Ariano, a De Lucca e a Carrau (que tem vinhedos no Brasil, na fronteira, além de um irmão dos proprietários que produz vinhos na serra Gaúcha).

    Fugindo um pouco do figurino, a Filgueira foi comprada por brasileiros de Minas Gerais, enquanto a Artesana, pequena vinícola butique, foi idealizada por um americano –mas é tocada por duas enólogas uruguaias.

    Dentre as vinícolas com grande vocação para o turismo, estão a Bouza (com um ótimo restaurante), a Juanicó (com belas construções declaradas patrimônio histórico) e, mais distante, no oeste do país, em frente ao rio da Prata e com Buenos Aires do outro lado, a Narbona, obra de outro milionário argentino e que funciona como hotel.

    Para saber mais sobre o tipo de recepção das vinícolas (em algumas é necessário agendar), consulte o site loscaminosdelvino.com.uy.


    O colunista viajou a convite da Associação Wines of Uruguay

    *

    AS UVAS EMBLEMÁTICAS

    Tannat
    De origem francesa, é a uva icônica do país, onde chegou há 150 anos e ocupa quase metade dos vinhedos. Seus vinhos são encorpados e ricos em taninos; cuidados na produção têm feito com que sejam menos rudes

    Cabernet Franc
    A cabernet franc, como a maioria das demais espécies, é usada para fazer misturas com a rainha local, tannat. Mas alguns produtores fazem vinhos com ela como varietal (ou seja, com um só tipo de uva), obtendo bons resultados

    Alvarinho
    Oitenta por cento do vinhedo uruguaio é de uvas tintas. Entre as brancas, predominam chardonnay e sauvignon blanc -esta cepa de origem ibérica produz alguns vinhos "albariño" de qualidade surpreendente

    *

    AS BOAS PEDIDAS *

    Reserva Sangiovese (Viña Progreso)
    Fiel à expressão da uva, com aromas de frutas vermelhas e notas minerais terrosas. É fresco na boca e com textura agradável
    QUANTO R$ 80
    ONDE Vinci (vinci.com.br )

    Sauvignon Blanc Reserva (Bodega de Lucca)
    Tem notas aromáticas à la frutas brancas maduras, reflexo da colheita mais tardia da cepa; como não passa por barrica, mantém o frescor da fruta e acidez
    QUANTO R$ 80
    ONDE Premium (premiumwines.com.br )

    Estival Blend (Viñedo de los Vientos)
    Chardonnay colhida antes da maturação, como na região de Champagne, aporta grande acidez. As aromáticas gewürtztraminer e moscato bianco mantém seu caráter frutado e floral; na boca, textura macia
    QUANTO R$ 55
    ONDE Wine (wine.com.br )

    *Todas as sugestões foram dadas pela sommelière Gabriela Monteleone, da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers)

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