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    Há 43 anos no 'Copa', porteiro se emociona ao falar de Lady Di

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    ENVIADO ESPECIAL AO RIO

    03/09/2015 02h00

    Gabriel Cabral/Folhapress
    Rio de Janeiro, RJ, Brasil 10-07-2015: Jorge, mais conhecido como Cafu, capitão porteiro do hotel Copacabana Palace, localizado na Av. Atlântica, 1702 - Copacabana, Rio de Janeiro. (foto Gabriel Cabral/Folhapress)
    Jorge Freitas, 63, o Cafu, que trabalha como capitão-porteiro do Copa

    Em seus 92 anos de existência, a porta dourada de madeira, metal e vidro do número 1.702 da avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio, continua a girar, impulsionada pelo vaivém de famosos e de uns tantos anônimos.

    Ninguém, todavia, a cruzou tantas vezes quanto um homem franzino que esconde a calvície já avançada sob um quepe branco de capitão-porteiro, função exercida pelo capixaba Jorge Freitas.

    Quando chegou ali, em 1972, era um rapaz de 20 anos que nem conhecia o Rio. Recebera de um tio, que, à época, trabalhava no Copacabana Palace, uma carta em que lhe oferecia uma oportunidade de emprego no hotel. O moço pegou um ônibus em Vitória (ES) e aportou na capital fluminense, pronto para viver novas experiências.

    Fez limpeza, cuidou das toalhas da piscina, apertou botões dos elevadores, correu pra lá e pra cá como mensageiro. Há 23 anos, porém, tudo mudou: ele passou a ser a "cara" do Copa. Até hoje, é o primeiro funcionário com quem os hóspedes se deparam antes de adentrar o hall.

    Conhecido entre os colegas do hotel como Cafu, apelido que ganhou quando era artilheiro do time de funcionários que batiam bola na areia ali da frente, Freitas coleciona lembranças de hóspedes famosos: de Tom Cruise recebeu um aperto de mão, de Roberto Carlos e Barbra Streisand ganhou discos autografados e do astro Will Smith obteve um amistoso tapinha nas costas, mas é por Lady Di que seus olhos ainda se enchem de lágrimas.

    Leia mais: Copacabana Palace tem atrações abertas a não hóspedes; veja opções

    O momento mais marcante de seus 43 anos de hotel foi a despedida da princesa. Em certa tarde de abril de 91, ela cruzou a porta ante uma ruidosa multidão de admiradores que, ancorada na grade de proteção diante da fachada de estilo neo-clássico, disputava um lance de olhar.

    Cafu abriu a porta do carro, e Diana segurou na mão dele por "cerca de três minutos", calcula. "Foi tempo suficiente para ela olhar rapidamente para mim", relembra com orgulho, hoje, aos 63 anos. Acostumado a ver de perto as mais estonteantes atrizes e modelos, filosofa: "Já vi muitas mulheres por aqui, mas a princesa era dona de uma beleza que transcendia o belo". Emocionado, só conseguiu desejar a ela uma boa viagem: "Have a nice trip!", em inglês, língua aprendida ali, no hotel.

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    DE SAPATOS À PRATARIA

    Seis pisos acima, o venezuelano César Cabello, 32, é o mordomo que assessora os "VIPs dos VIPs", hospedados nas "penthouses" do sexto andar, onde uma diária custa mais de R$ 10 mil.

    Formado em gerência de hotéis em Dublin, Cabello é responsável por uma série de detalhes: do polimento da prataria e da organização da porcelana ao arranjo de oito tipos de fruta e à checagem da dobra dos guardanapos de linho. Também é ele quem faz e desfaz malas, organiza o "closet", lustra sapatos, encaminha as roupas para a lavanderia e passa ternos, vestidos e trajes de gala...

    Fluente em espanhol, português, italiano e inglês, vira cicerone dos ilustres. Em abril, serviu refeições ao megainvestidor George Soros, que trouxe seu chef particular. Sem dispensar os sapatos, o terno e a gravata, foi ele quem acompanhou a mulher de Soros, que, durante a madrugada, quis dar um mergulho no mar que via da janela.

    As mínimas coisas ganham importância num hotel de luxo: era preciso certificar-se de que o protetor solar fator 30 estava disponível na "black pool" quando a cantora Miley Cyrus quis nadar sob o sol escaldante do meio-dia. Lá estava Cabello. Nas espreguiçadeiras da piscina, exclusiva daquele piso, já se esparramaram beldades, como a top model Gisele Bündchen, o ator Hugh Jackman e o ex-Beatle Paul McCartney.

    A rotina de Cabello e Freitas inclui o contato com celebridades, mas há quem atue nos bastidores: é o caso de Cláudia Rodrigues, a Claudinha, 50. Cabe a ela revisar o chão, as paredes, os sofás, as almofadas, os quadros, o guarda-roupa. Dos rodapés aos vidros das janelas, do lençol envelopado à organização dos 16 cabides e à disposição dos 12 travesseiros e dos pares de Havaianas brancos, tudo passa pelas mãos dela.

    Só de Copa, são 30 anos. Para liberar o apartamento, pode demorar mais de uma hora. A arrumação da cama, por si só, consome 15 minutos. A operação é cronometrada, seguindo um "checklist" que envolve 58 itens.

    O olhar da funcionária desenvolve uma trajetória circular, pensada para que nada escape da checagem.

    "Com o tempo, lapidei o exercício de observar", diz ela, a voz calma e o sorriso aberto, enquanto corre lentamente os olhos pelos quadros da luxuosa suíte.

    O jornalista viajou a convite da rede Belmond

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