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    Passeio em monomotor mostra paisagens do 'verdadeiro' Alasca

    RODOLFO LUCENA
    EM ANCHORAGE, ALASCA

    09/09/2015 02h00

    Quando o piloto aciona o motor e o minúsculo Cessna 185 com espaço para quatro passageiros treme todo, o crente se benze, o ateu sua frio, o curioso arregala os olhos e todos se agarram com força nas bordas das poltronas.

    Chacoalhando como uma batedeira, o aviãozinho rola pela grama, ganha o asfalto, acelera e zum!, está no ar. O piloto, de cabelos e bigode brancos, com voz calma conta que tem mais de 30 anos de experiência e promete que o voo será tranquilo –a viagem pode ter alguns solavancos, mas nada que preocupe.

    Enquanto isso, as grandiosas notas iniciais da música-tema de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" inundam os fones de ouvido dos passageiros. O equipamento serve para a comunicação interna e para abafar um pouco o ruído insano do monomotor.

    Travestido de guia turístico, o piloto apresenta o entorno –o voo turístico decolou das margens do aeroporto internacional Ted Stevens, o mais importante do país em transporte de carga e um dos mais movimentados da América.

    Taxiamos em volta do lago Hood, usado por muitos cidadãos locais como "água de pouso" para seus hidroaviões. O Alasca, ensina o guia, é o mais voador dos Estados norte-americanos –segundo a administração aeronáutica, em 2008 o Estado tinha 10.346 pilotos ativos e 10.732 aeronaves registradas.

    Explica-se: a muitas áreas rurais só se chega por via aérea. A própria capital do Estado, Juneau, não oferece acesso rodoviário –os carros chegantes adentram a cidade transportados por barcas.

    Alimentados com tais curiosidades e estatísticas, os turistas vão se acalmando e podem enfim apreciar a paisagem, observando o entorno de Anchorage –maior cidade do Alasca, com 301 mil habitantes– a partir de mais de mil metros de altura.

    O objetivo do tour aéreo é dar aos visitantes visões do monte McKinley, mais alta montanha da América. É preciso ter sorte, porém: apesar de o pico da montanha estar a 6.168 m acima do nível do mar, nem sempre é visível. Fica encoberto por nuvens ou pela bruma que toma conta do horizonte.

    O que não diminui a emoção da viagem. Depois de quilômetros sem fim de pradarias e rios serpenteantes, com uma casinha isolada aqui ou acolá, finalmente se tem uma vista do "verdadeiro" Alasca: montanhas de neve sem fim, escarpas de rocha geladas, poças de água de um azul até então inimaginado.

    Com pouco mais de uma hora de voo, chega-se ao parque Denali. O avião fica ainda mais diminuto perto dos cumes nevados, passa por gargantas, tira "fino" de escarpas, enquanto o piloto garante que, lá longe, está o McKinley.

    Um solavanco mais forte indica que os esquis do aparelho estão no local adequado. Teremos um pouso em plena neve, em uma das geleiras do Denali.

    Entre os passageiros, há momentos de tensão, que logo se esfumaça enquanto o monomotor desliza no gelo. A aeronave para, todos se livram dos equipamentos de segurança e, em segundos, viram crianças: até bolas de neve são jogadas de um lado para outro enquanto alguns mais aventureiros testam passadas desequilibradas na neve.

    Na volta, mais rápida e tranquila, os viajantes ainda conseguem apreciar grupos de alces se movimentando nas pradarias. Há ursos também, garante o piloto, mas naquela viagem não foram vistos. Mesmo assim, ninguém discute que a viagem valeu cada centavo dos cerca de US$ 500 (R$ 1.930) que cada um pagou pelo passeio de três horas.

    Que é abrilhantado pela trilha sonora escolhida pelo piloto. Cada vista importante foi marcada por um tema cinematográfico ou de série televisiva; na chegada, toca a abertura de "Guerra nas Estrelas".

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