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    depoimento

    Depois de milhas de solidão, comprei um amigo por US$ 25 na Tailândia

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    15/10/2015 02h00

    Narong Sangnak/Efe
    Mulher reza em frente a estátuas gigantes em parque de Bancoc, naTailândia; as obras representam antigos reis do país
    Mulher reza em frente a estátuas gigantes em parque de Bancoc, naTailândia; as obras representam antigos reis do país

    Viajar sozinho é um caminho cheio de vantagens! Sem dar satisfações a ninguém, é possível mergulhar no seu íntimo, refletir sobre a vida e, sobretudo, evitar trazer na bagagem uma inimizade.

    Depois de muitas milhas de solidão, o inevitável: bate aquela "deprê", geralmente porque a gente se depara com uma vista incrível, onde tudo é lindo e maravilhoso, tira fotos, posta nas redes sociais, mas falta uma alma de corpo presente com a qual compartilhar a emoção do momento.

    Foi numa circunstância como essa, em uma jornada que começou pela Tailândia, que decidi "comprar" um amigo.

    Os tailandeses são muito amáveis e sorriem à beça. É difícil compreendê-los no começo. Imagine alguém que fale igual ao Cebolinha, trocando os "erres" pelos "eles".

    Assim que desembarquei de uma viagem de 11 horas, que partira de Zurique (Suíça), tudo o que desejava era provar o "pla raad prik", prato típico da Tailândia.

    Deixei minha mala no hotel e parti em busca do perfumado peixe frito, que, naquele calor estival, veio acompanhado de uma reconfortante e geladíssima Chang, tradicional cerveja tailandesa, cujo rótulo traz dois elefantinhos.

    Era só o aperitivo. Queria descortinar um mundo novo de surpresas, cores, cheiros e sabores superlativos. A sugestão de um taxista boa-praça me levou a Khao San Road, a barulhenta e fervilhante rua das comidas exóticas.

    O que vi foi um território caótico e repleto de turistas, dominado por alemães em ritmo de "diversão": em outras palavras, enchendo a cara.

    O país é um dos destinos favoritos de quem busca conhecer uma cultura diversa. Os suntuosos templos budistas, os bangalôs em praias paradisíacas e a gastronomia para lá de exótica, com direito a espetinhos de gafanhoto e a escorpião assado, estão entre os atrativos locais.

    TRUQUES E MONGES

    Procurava por algo mais tailandês propriamente dito, além ou aquém da agitação de turistas. Pedi ao taxista que seguisse para algum bar na beira do rio Chao Phraya, a grande artéria que corta Bancoc. Quando chegamos, convidei-o a se sentar comigo: "Você é o meu convidado", disse. Delicadamente, ele me respondeu que precisava fazer novas corridas para garantir aquela noite.

    Um homem na casa dos 35 anos, o motorista poderia ser meu amigo, "nem que fosse por uma noite de bar", pensei. Insisti bastante e ele acabou cedendo depois que ofereci pagamento pelas horas que ele perderia à mesa.

    Embarquei na sua história: ele me contou que morava sozinho e que o dinheiro que ganhava era para sustentar a mulher e duas filhas que viviam ao norte da Tailândia. Deu dicas de passeios, bares e restaurantes fora do circuito turístico e me ensinou a escapar dos truques de uma categoria com fama mundial na arte de ludibriar –"Abra os olhos com os meus colegas taxistas".

    O melhor de tudo: presenteou-me com o endereço de seu tio materno, um monge que habitava um mosteiro perto da divisa com Mianmar, a minha parada seguinte.

    Essa amizade em noite mítica de estreia no Sudeste Asiático me custou cerca de US$ 25 –sem contar os outros US$ 20 gastos no boteco.

    Saí no lucro: converti os dividendos numa relação um tanto fugaz do outro lado do globo. Uma pechincha! Afinal, o dólar flutuava longe desses tempos bicudos e de vacas tão esqueléticas.

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