O fotógrafo Valdemir Cunha passou cinco anos rodando pelo Brasil, atravessando seus rincões e suas grandes cidades, para registrar a relação do povo com a água –no excesso e na falta dela.

O resultado está no livro "Água" (editora Origem), lançado na semana passada, com imagens que vão das terras alagadas do Pantanal e das cheias dos rios no norte do país ao chão rachado e as torneiras vazias no nordeste.

A ideia para o projeto nasceu durante a feitura de outro livro. O fotógrafo estava trabalhando no projeto de "Brasil Invisível", no Nordeste do país, quando pediu um gole d'água para um sertanejo.

"Na casa dele, tinha uma pia e uma torneira, mas não tinha um cano", contou o fotógrafo. "Quando perguntei sobre isso, ele me disse que acabara de receber um poço artesiano e que a água não era mais um problema. Daí eu pensei: aqui tem um livro, aqui tem um grande tema."

O descaso das pessoas em relação à água e à crise hídrica iniciada em 2013 levaram Cunha a expandir o projeto para todo o Brasil –a princípio as imagens se concentrariam no sertão e na Amazônia.

O estouro da crise hídrica também mudou outra decisão do fotógrafo: "Inicialmente, as fotos de seca ou falta d'água seriam em preto e branco e as de água, coloridas. Mas eu queria um livro que sufocasse, e não uma ode à natureza, queria algo que mostrasse que a água é um problema sério", explica ele, que frisa se tratar de um livro documental.

A chance de fazer um trabalho sem fotos coloridas coincidiu com seus 25 anos de carreira e com a chance de celebrar fazendo algo que sempre quis, um livro totalmente em preto e branco –o fotógrafo é daltônico.

Para Cunha, o mais chocante de todo o processo foi entrar nas casa de inúmeros brasileiros que vivem sem água todos os dias e colocar rostos nos números e dados (também chocantes) que pesquisou ao longo dos anos.

ÁGUA
Autor Valdemir Cunha
Editora Origem
Quanto R$ 98 (preço sugerido), 254 págs.

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