Brasileiros com passagem comprada para Paris criaram, depois dos ataques terroristas à capital francesa, na última sexta-feira (13), grupos de mensagens para trocar informações, tirar dúvidas e até desabafar sobre a insegurança em relação às viagens.

O mais ativo deles, o "Paris - Brasil!!", acumulou, desde o começo da semana, quando foi criado, 69 participantes; até a noite desta quinta-feira (19), eles haviam trocado mais de 5.500 mensagens.

Outro grupo de Whatsapp, o "Fim de ano em Paris", tinha 56 integrantes e pouco menos de 1.300 mensagens. No Facebook, a comunidade "Paris_2015" –criada no dia 16 para complementar os grupos do WhatsApp– era a menos ativa, apesar de ter mais membros: 174 pessoas haviam feito cerca de 50 publicações.

As iniciativas partiram de leitores do blog de viagem Conexão Paris, editado por uma brasileira que mora na cidade, a historiadora Lina Hauteville.

Alguns dos responsáveis por responder às perguntas feitas nos grupos estão na categoria de "correspondentes" –brasileiros que já chegaram a Paris e dão informações sobre o dia a dia da cidade.

"Hoje fui até o Jardim de Luxemburgo, sossegado e bonito. Depois fui visitar a place des Vosges, tranquilo novamente. Daí fui para a torre Eiffel, pois tinha tickets comprados pela internet (...) Subimos e encontramos vários brasileiros lá, era muito brasileiro lá hoje (...) Foi animal", escreveu um deles.

Outra reportou: "Fui ontem... [ao mercado de Natal da avenida Champs Elyseés]. Lindo e maravilhoso. Roda-gigante funcionando". Alguns enviaram relatos em áudio.

Com isso, vários usuários aproveitam para tirar dúvidas específicas sobre os desdobramentos dos atentados: "Com a imigração mais rigorosa, só levando a identidade e passaporte já é suficiente ou é necessário levar também certidão de casamento/nascimento?", perguntou uma moça.

"Vocês ficaram sabendo algo sobre os aviões? Da Air France agora", foi mais um questionamento –sobre o caso de voos da empresa francesa desviados por ameaças de bombas na terça-feira (17).

Entre o envio de alguns links com notícias sobre os atentados, que geram certa apreensão, muitas das mensagens acabam servindo para tranquilizar quem ainda vai embarcar e está inseguro –há registros de brasileiros que desistiram de viajar.

"Foi muito bom escutar as palavras de quem está aí vivenciando isso (...) Eu estou apreensiva nesse momento, hoje liguei na companhia de viagem para desistir, mas escutando e lendo tudo o que vocês estão falando, me tranquilizo", disse uma integrante de um dos grupos.

"A cada relato ou foto que vejo de Paris, fico um pouco mais tranquila!", completou uma segunda.

Os integrantes aproveitam para combinar encontros por lá: "Quem estiver em Paris no Natal e/ou Réveillon!!! Mantenha contato comigo (...) Estamos planejando uma festa!!!!"

E fazer brincadeiras, ainda que algumas tenham certo humor duvidoso. Um deles mandou a mensagem "Meu primo acabou de me ligar... Primeiro voo internacional dele e o coitado está preocupado!!! Medroso, ele tirou uma foto do pessoal do lado dele e todos estão tranquilos", enviando na sequência a montagem de um grupo de três árabes em um avião.

Muitos ainda comparam o atentado na França à violência urbana em cidades como São Paulo e Rio.

DÚVIDAS TRIVIAIS

Com as principais atrações turísticas e lojas voltando ao funcionamento normal, apesar do pessimismo local, a maior parte das mensagens, após o início de discussões sobre a tragédia, passou a tirar dúvidas mais triviais: como chegar ao palácio de Versalhes? Vale a pena comprar o Museum Pass? Quanto custam os ingressos dos jogos do PSG? Como é o esquema de comprar chip de celular? A TAM oferece travesseiro no voo?

Também circulam fotos de Paris –"ai, que tudo. Como desistir olhando essas fotos?"–, dicas de viagem para outros destinos europeus, cotações do euro em casas de câmbio –há membros das mais variadas cidades do Brasil, de Angra dos Reis (RJ) a Teresina (PI)– e dicas de sites e serviços. "Olhem que casaco lindo e o preço: 35,99 euros", sugeriu uma moça, com o link de uma loja de roupas.

Outra contou: "Me indicaram uma bota que se chama Ugg... Fui olhar o preço e quase caí pra trás". Não faltam, como é comum em grupos de WhatsApp, pedidos para "manter o foco" das discussões e longas rodadas de "bom dia".

Mas o clima geral é mais de otimismo: "Planejem a viagem e esqueçam um pouco as más notícias", recomendou uma mulher.

Foram os votos também de uma segunda: "Vai dar tudo certo para todos! Já está dando... Pessoal que está em Paris está curtindo e não aconteceu nada de ruim... Vai ser perfeito para todos!"