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    China investe na produção de iguarias como trufas para atrair estrangeiros

    JOHANNA NUBLAT
    ENVIADA ESPECIAL A KUNMING, YINCHUAN E HANGZHOU (CHINA)

    26/11/2015 02h00

    Viajar à China em busca da experiência gastronômica autêntica geralmente se resume a espetinhos de escorpião ou bichos da seda, carne de cachorro (para os corações mais fortes) e pimenta, muita pimenta.

    Entretanto, abertos à influência ocidental, os chineses agora passam a oferecer nos cardápios produtos "made in China" de qualidade superior e mais confortáveis ao paladar do estrangeiro.

    É o caso dos vinhos. Os produtores locais ainda precisam gastar muita energia para convencer os consumidores a dar uma chance aos rótulos nacionais –em bons restaurantes, o turista pode só encontrar marcas de fora.

    A região autônoma ao norte do país Ningxia, porém, é tida como a grande promessa na produção da bebida –abocanhou 36 das 43 medalhas dadas ao país no prêmio Decanter Asia Wine Awards 2015.

    Vem de Yinchuan, capital da região, o único vinho chinês vendido por taça no hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai: o cabernet sauvignon com merlot da vinícola Legacy Peak (a R$ 116 a taça).

    O vinho, de taninos suaves, cai bem com a deliciosa carne de carneiro de Ningxia (popular na área devido aos chineses muçulmanos da região).

    "Tem sido bem aceito, especialmente entre ocidentais. E os chineses estão começando a se interessar" diz Jean-Claude Terdjemane, sommelier dos restaurantes do hotel.

    As bebidas que vêm ganhando destaque podem ser encontradas, em Pequim, em locais como os restaurantes Duck de Chine e TRB e o supermercado Jenny Wang.

    Mapa China

    TRUFAS E CAVIAR

    Cerca de 1.500 quilômetros a sudeste de Yinchuan, em um lago cercado por natureza exuberante, é gestado outro produto que amealha reconhecimento pela qualidade e, aos poucos, aparece em mais menus: o caviar.

    Desde 2006, a empresa Kaluga Queen oferece diferentes variedades de ovas de peixes esturjões criados no belo lago Qingdao –conhecido como o das mil ilhas–, a duas horas e meia de carro da próspera cidade de Hangzhou.

    A empresa tem uma variedade da iguaria que vem do cruzamento das espécies kaluga e amur, segundo a companhia só cultivadas no país (a iguaria é mais cremosa e tem gosto mais forte do que o da variante siberiana).

    O caviar nacional tem destaque, por exemplo, no cardápio do Dadong, restaurante da capital famoso por servir o pato de Pequim. Na casa, é possível provar as ovas com a crocante pele do pato (a R$ 55 por pessoa).

    Um terceiro produto que surge no panorama, mas sem a mesma força, é a trufa produzida no sudoeste do país.

    Serko Wang, que comercializa trufas e cogumelos de um vilarejo nos arredores de Kunming (província de Yunnan), diz que os chineses perceberam o potencial comercial das trufas há 20 anos, com olhos no mercado ocidental –já que o ingrediente é estranho à gastronomia nacional.

    Na Europa, porém, a trufa chinesa é vista como um produto sem muito gosto ou perfume, misturado indevidamente às preciosas irmãs italianas e francesas.

    As trufas selvagens do vilarejo visitado pela Folha ficam em um terreno que, a rigor, pode ser explorado por qualquer um, o que faz com que sejam colhidas pelo primeiro que as encontra, antes do amadurecimento –as amostras provadas não estavam maduras e não tinham perfume ou sabor marcantes.

    Mas a melhoria desse processo e a dificuldade de importação das europeias fazem com que a opção nacional venha aparecendo em restaurantes do país.

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