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    Maior favela da Índia vai ganhar museu itinerante

    DE SÃO PAULO

    18/01/2016 02h00

    Mumbai, com seus mais de 12 milhões de habitantes, é uma das maiores metrópoles do mundo. Tem, entre as atrações turísticas, uma vida cultural rica, com museus, templos, monumentos... E muitas favelas (estima-se que ao menos metade da população more nesse tipo de conglomerado urbano).

    Em Dharavi, a principal delas e uma das maiores do país, onde vivem cerca de 1 milhão de pessoas, há hospitais, escolas, academias, templos... Mas nenhum museu.

    Esta foi uma das inspirações de um grupo de artistas para criar o Design Museum Dharavi, que abre as portas no mês que vem. Trata-se de um museu sobre e para a favela.

    "Apesar das condições de vida difíceis, os moradores são capazes de criar, desenhar, fabricar e comercializar todos os tipos de bens. Acreditamos que objetos feitos em Dharavi podem ser tão valiosos quanto aqueles garimpados por museus de design", diz o site do empreendimento.

    "Quando fui para lá pela primeira vez, em 2011, encontrei um lugar cheio de energia: inspiração e criatividade eram vistas virtualmente em todo lugar", disse à Folha o artista espanhol Jorge Mañes Rubio, um dos criadores do projeto.

    "Era algo muito distante do imaginário apocalíptico vendido em filmes, livros e tabloides. Famílias que há gerações dominam certos artesanatos vivem ao lado de outras que usam tecnologias modernas como cortes a laser. E ainda assim mantemos uma perspectiva preconceituosa e enviesada quando falamos desse tipo de lugar", afirma.

    Dharavi, que ganhou fama mundial por ser locação e pano de fundo do filme vencedor do Oscar "Quem Quer Ser um Milionário?" (2008), já foi elogiada por figuras como o príncipe Charles, da Inglaterra, como exemplo notável de vida sustentável –muito em parte graças ao reaproveitamento do lixo na região, e não exatamente pela falta de estrutura e saneamento básico.

    Com o museu, a ideia de Rubio e seus parceiros (a arquiteta holandesa Amanda Pinatih e o escritório Urbz) é valorizar essas manifestações criativas e estimular a veia artística da favela –também ao firmar parcerias com outras instituições culturais de Mumbai, que serão convidadas a expor no local e participar de atividades e oficinas.

    Cerâmica, tecidos, peças recicladas e mesmo itens triviais –mas culturalmente relevantes para a comunidade–, como pipas e tacos de críquete, devem fazer parte do acervo, sempre renovado.

    O local do museu, diga-se, também vai mudar: em vez de um imóvel fixo, ele será montado em uma espécie de trailer e estacionado em diferentes pontos da favela. "Com os fundos que arrecadamos, ele ficará aberto por dois meses. Mas estamos mapeando potenciais locações, que podem ser espaços públicos, escolas, grandes avenidas ou pequenas lojas na região", diz Rubio.

    Segundo o artista, que afirma conhecer as favelas brasileiras só por filmes e pelo noticiário –ele conhece os impactos do processo de pacificação nas comunidades cariocas–, há a possibilidade de expandir o projeto do museu itinerante.

    "Nossa ideia é criar um modelo que possa ser implementado em locações similares", disse à Folha. "Com a população global crescendo sem parar, assentamentos informais terão um papel central na expansão das megacidades. Acreditamos que o design também terá um papel central na colaboração e inovação sociais."

    OUTRAS INICIATIVAS

    Além do novo museu de Mumbai, outras iniciativas buscam valorizar a vida cultural de favelas ou suas histórias. No Rio, a ONG Museu de Favela foi fundada em 2008 para atuar nas comunidades de Pavão, Pavãozinho e Cantagalo.

    Em Nova York (EUA), o Tenement Museum, com um conceito um pouco diferente, explora os cortiços de imigrantes que viviam na cidade na virada do século 19 para o 20.

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