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    Comunidades ribeirinhas do entorno de Belém recebem turistas em casa

    BRUNO MOLINERO
    ENVIADO ESPECIAL A BELÉM

    21/01/2016 02h00

    O calor é de matar. Os termômetros marcam 40ºC, mas é a roupa grudada na pele suada que dá o melhor indício da temperatura. O sol amazônico castiga o asfalto de Belém, capital paraense cujo aniversário de 400 anos foi comemorado no último dia 12, e transforma a cidade em uma verdadeira estufa.

    A falta de ventos, bloqueados pelos altos prédios que foram erguidos nos últimos anos, só deixa uma opção ao belenense e ao turista: pegar um barco, singrar os rios e descansar à sombra da mata de uma das 47 ilhas que formam a região metropolitana.

    À medida que a embarcação se afasta da cidade pelas águas enlameadas do rio Guamá, os edifícios dão lugar a palmeiras de açaí e castanheiras que podem chegar a 80 metros de altura.

    Ruas se transformam em igarapés e em furos –pequenos rios com casas à margem. As motocicletas se tornam rabetas (lanchas), enquanto ônibus viram os popopôs: barcos de madeira que transportam a população entre Belém e os arredores e que recebem esse nome por causa barulho repetitivo do motor.

    Um dos principais destinos é a ilha do Combu. Nos fins de semana e feriados, moradores da cidade atravessam o 1,5 quilômetro que separam a capital e o lugar em busca dos diferentes restaurantes e bares para comer, beber e, é claro, dançar tecnobrega.

    Lembre-se: estamos na terra de Joelma, Ximbinha (que adotou o "X" desde o fim da banda Calypso) e Gaby Amarantos. Mesmo na mata, o som dos pássaros rivaliza com a batida eletrônica.

    Para o turista, uma das opções é o restaurante Saldosa Maloca (assim mesmo, com "L"), com comidas típicas como tambaqui na brasa (R$ 75, para duas pessoas) e o prato Dom Alcides (R$ 63, a porção individual), que leva arroz com jambu, um vegetal usado na gastronomia local que pode deixar a boca dormente.

    Entre o almoço e a sobremesa, de preferência um picolé de açaí, é possível entrar no rio e se refrescar.

    Seguindo pelas águas do furo, a mata passa a ficar mais densa e a abafar as caixas de som dos restaurantes. É onde está a propriedade de dona Nena, que planta cacau à beira do rio e produz um chocolate concentrado usado em receitas de restaurantes como os do chef Alex Atala, em São Paulo.

    O visitante é recepcionado com uma mesa farta de café regional, feito por ela com produtos plantados ali. As visitas precisam ser agendadas pelo telefone (91) 99616-0648 e custam de R$ 40 a R$ 70.

    Outros moradores também abrem as portas de suas casas, onde é possível conhecer de perto a vida dos ribeirinhos. Em Boa Vista do Acará, ainda no rio Guamá, é seu Ladir, 74, quem recebe os turistas.

    Há mais de dez anos ele se senta em um banquinho no quintal e mostra castanhas-do-pará recém-caídas no solo a grupos curiosos. Com um facão, corta a casca até aparecer a carne branca da semente. As galinhas ficam em polvorosa para tentar roubar algum pedaço.

    Após passar por igapós, áreas alagadas propícias para o nascimento de palmeiras de açaí, é hora do show de Ladir. Ele pega uma das folhas dessa árvore e a amarra aos pés. Usando-a como apoio, escala rumo ao topo do tronco, que pode chegar a mais de 20 metros de altura. "Só caí quatro vezes", garante.

    O pôr do sol é sinal de que é hora de voltar a Belém. No barco, à medida que prédios surgem no horizonte, não é difícil ver rabetas com caixas de som prateadas rumo às festas de aparelhagem, os famosos shows de tecnobrega. A noite está só começando no Pará.

    O jornalista viajou a convite do Festival Internacional do Chocolate e Cacau

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