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    Passeie por Montevidéu em um tour inspirado no escritor Eduardo Galeano

    LUIZ FELIPE SILVA
    CAMILA SPÓSITO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MONTEVIDÉU

    04/02/2016 02h00

    De ar clássico e mentalidade moderna, o Uruguai tem espírito cultural pulsante. E um de seus mais célebres cidadãos deixou marcas pela capital do país –que vive, desde abril passado, a nostalgia da perda do escritor e jornalista Eduardo Galeano.

    Não é difícil encontrar entre seus conterrâneos em Montevidéu alguém com uma história relacionada ao autor de "As Veias Abertas da América Latina".

    A forte relação de Galeano com a cidade natal foi contada em suas obras, textos jornalísticos e na rotina pessoal.

    Mesmo nos últimos anos de vida, contam pessoas próximas, diariamente ele saia de casa em Pocitos para viver a cidade onde as pessoas "amam sem dizer e se abraçam sem tocar". O "Turismo" preparou um guia de lugares por onde o autor escreveu história (leia abaixo).

    ATRATIVOS

    Charmosa e pacata, Montevidéu já se consolidou como destino queridinho de brasileiros. Não é exagero dizer que talvez tenha virado uma das cidades latino-americanas em que o portunhol é espécie de idioma não oficial.

    De todos os turistas que o Uruguai recebe, os brasileiros só não são mais presentes do que os argentinos.

    O fluxo para nosso vizinho ao sul tem se mantido na ordem de mais de 400 mil visitantes por ano: foram 462 mil brasileiros por lá em 2014, 429 mil no ano passado, de crise (cerca de 15% do total de turistas que o país recebe).

    Em época de dólar alto, o Uruguai atrai ainda com uma série de incentivos estatais.

    Por exemplo, a isenção de impostos para turistas em serviços de hospedagem, gastronomia e outros serviços –a medida, que promove descontos de 21% nos pagamentos feitos com cartão de crédito, vale até 31 de março e costuma ser prorrogada.

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    SAIBA MAIS

    Uruguaio Foi Um Pensador Da Esquerda
    Importante intelectual e ativista da esquerda latino-americana, Eduardo Galeano (1940-2015) formou-se na escola de jornalismo crítico, calada pelas ditaduras. Exilou-se nos anos 1970 na Espanha e preferiu seguir atuando por meio dos livros de história e ensaios.

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    Veja um roteiro por lugares frequentados por Galeano

    Ezequiel Scagnetti-12.abr.2013/Zuma Press/Xinhua
     (150413) -- MONTEVIDEO, abril 13, 2015 (Xinhua) -- Imagen del 12 de abril de 2013 del escritor uruguayo Eduardo Galeano posando en Montevideo, Uruguay. El escritor uruguayo Eduardo Galeano, autor de "Las venas abiertas de América Latina" (1971), falleció el lunes en Montevideo a la edad de 74 años. Galeano, quien sufría de un cáncer de pulmón, estaba internado en el hospital privado Casmu, dijeron fuentes del nosocomio citadas por los medios locales. (Xinhua/Ezequiel Scagnetti/ZUMAPRESS) (rtg) (ah) ***PROHIBIDO SU USO EN EUROPA***
    Eduardo Galeano no café, em 2013

    CAFÉ BRASILERO

    A tradicionalíssima cafeteria chegou muito antes: abriu as portas em 1877 –Galeano nasceu em 1940. Mas, de tão habitué, o escritor acabou intimamente ligado ao lugar. "Sou filho dos cafés de Montevidéu. Neles aprendi tudo que sei, foram minha única universidade", dizia.

    Todas as manhãs, o escritor ocupava no Brasilero uma mesa entre a parede de madeira e a janela envidraçada para ler o jornal. Acompanhava a leitura com uma taça de vinho, um cortado (café com leite) ou com o café batizado com seu nome (leva licor Amaretto, creme e doce de leite; 80 pesos, R$ 10).

    Requisitado por turistas que o viam pela janela, atendia a todos com paciência –e justificava a atenção dada contando uma história: "As pessoas querem ver Deus, mas não sabem como ele é. Então, criam deuses nas pessoas. Como faz bem a elas, deixo que me vejam".

    Hoje, as paredes do café ainda mantêm fotos do escritor e os garçons, o gerente e o dono do café lembram vividamente a convivência com o escritor, a quem reputam elogios.

    MAIS calle Ituzaingó, 1.447, Ciudad Vieja; cafebrasilero.com.uy

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    Luiz Felipe Silva
    Livraria Linardi y Risso
    Livraria Linardi y Risso

    LIVRARIA LINARDI Y RISSO

    A livraria era uma espécie de parque de diversões de Galeano, que a frequentava desde os anos 1960 –quando o lugar ocupava um casarão do outro lado da rua onde está hoje.

    Especializada em livros antigos e sobre a América Latina, a Linardi y Risso tem papel importante na formação intelectual de Galeano e de outros escritores da região: por décadas, promoveu em seu café grupos de discussão que reuniam a nata intelectual do continente –gente do calibre de Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, Haroldo de Campos, Mario Benedetti e Julio María Sanguinetti.

    Os debates já não acontecem, mas o acervo de 50 mil livros segue em exposição. Nos últimos anos de vida, Galeano era mero comprador: encomendava livros raros e ia lá só para buscá-los. A maior parte era sobre futebol, mas também obras sobre a história política e social da América Latina. "Ele comprava muitos livros, vinha aqui quase que semanalmente", conta Andreas Linardi.

    MAIS calle Juan Carlos Gómez, 1.435, Ciudad Vieja; linardiyrisso.com

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    Luiz Felipe Silva
    Jornal "Brecha"

    JORNAL BRECHA

    Uma das principais heranças que Eduardo Galeano deixou para Montevidéu é o jornal "Brecha". Semanal, o veículo nasceu em 1985 como uma segunda fase do "Marcha", publicação de esquerda fechada pelo governo militar em 1973. Entre os fundadores, ao lado de nomes como Carlos María Gutiérrez e Mario Benedetti, estava Galeano.

    O escritor também ocupou um assento no Conselho Editorial até sua morte e foi fiador do jornal: certa vez, doou parte do cheque que havia ganho por um prêmio literário à publicação, que andava mal das pernas.

    "A grande herança que nos deixou foi sua visão jornalística de independência", diz o atual diretor de Redação, Daniel Erosa. Nos últimos anos, Galeano pouco frequentou o prédio da avenida Uruguay onde está a Redação, embora fosse pessoalmente checar sua caixa postal –literalmente, uma caixa de papelão.

    MAIS Não há visitas regulares à Redação, mas pode-se fazer contato pelo e-mail hola@brecha.com.uy

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    Luiz Felipe Silva
    Estádio Centenário
    Estádio Centenário

    ESTÁDIO CENTENÁRIO

    "Todos os uruguaios nascem gritando gol. Eu quis ser jogador de futebol, como todos os garotos". Galeano era apaixonado por futebol e pelo clube Nacional.

    Tinha apreço especial pelo estádio Centenário, onde o time foi campeão da Libertadores três vezes e onde o Uruguai se sagrou campeão da primeira Copa do Mundo, disputada em 1930.

    "O estádio Centenário suspira de nostalgia pelas glórias do futebol uruguaio", escreveu em seu livro "El Fútbol a Sol y Sombra" (1995). Uma de suas primeiros obras também foi sobre futebol, "Su Majestad el Fútbol" (1968).

    Por 100 pesos (R$ 13), o Centenário abre as portas para seu museu, onde há fotos, recortes de jornal, uniformes e troféus dos mais importantes títulos do futebol uruguaio. O tour dá direito ainda de ir à arquibancada, que pode receber 60 mil torcedores. Sem eles, na visita ao lendário estádio, vem à mente mais um escrito de Galeano: "Não há nada mais vazio que um estádio vazio. Nada mais silencioso que as escadas sem ninguém".

    MAIS av. Dr. Américo Ricaldoni, Parque Batlle; estadiocentenario.com.uy

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    Raquel Cunha/Folhapress
     Pedestres caminham na Rambla, na costa de Montevidéu, no Uruguai Foto: Raquel Cunha/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Pedestres caminham na Rambla, na costa de Montevidéu

    RAMBLA

    Galeano fez das caminhadas pela rambla de Montevidéu (calçadão que margeia a costa da capital, alinhado ao mar e ao rio da Prata) uma espécie de compromisso diário.

    "Vou caminhando pela costa da cidade onde nasci. Ando nela e ela anda em mim. E, enquanto vou, as palavras caminham dentro de mim e vão formando histórias", disse em uma entrevista, sobre suas andadas pela Ciudad Vieja.

    Sua trajetória tradicional incluía a plaza Independencia e os arredores do mercado do porto e de outras construções históricas de Montevidéu, como o teatro Solís.

    Como Galeano, os moradores locais fazem da rambla um passeio tradicional. Nos finais de tarde e fins de semana, sobretudo na primavera e no verão, é comum ver famílias e jovens lotarem o calçadão e as praias que se espalham pelos muitos quilômetros da avenida. As atividades se dividem entre tomar chimarrão, treinar rúgbi, correr, caminhar...

    MAIS Rambla Francia, Ciudad Vieja

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