"Lembre do Álamo!" A frase tem proporções míticas na cultura americana, presente em filmes, seriados, músicas e camisetas. Guardadas as proporções, foi como um Grito do Ipiranga para que o atual Estado do Texas não desistisse de sua guerra contra o México pela independência.

A referência é a uma das derrotas mais sangrentas dos soldados texanos, em 1836, a batalha do Álamo. Na missão franciscana transformada em fortaleza, os mexicanos aniquilaram, em menos de uma hora, 200 soldados do Texas.

Um mês e meio após o massacre, os insurgentes venceram o México e, em 1845, viraram parte dos EUA.

Hoje, o palco da batalha é um santuário patriótico dedicado aos mortos, visitado por 3 milhões de pessoas por ano e nomeado patrimônio da humanidade em julho de 2015.

"Pessoas do mundo inteiro passam por aqui e se identificam com os heróis que morreram pela independência", explica John Richardson, guia do Álamo há mais de 15 anos.

No lugar, um complexo de quatro acres (pouco mais que dois campos de futebol), não se pode entrar de chapéu, nem tirar fotos, falar no celular ou tocar as paredes.

A batalha se concentrou na praça em frente à construção principal, com dramática fachada de igreja. Hoje, a área é tomada por lojas e atrações mais mundanas que heroicas: museus de estátuas de cera e recordes bizarros.

CULTURA MEXICANA

Ao lado do bem-sucedido time de basquete Spurs, o Álamo é uma das principais atrações de San Antonio, a 128 quilômetros da capital, Austin (e a 320 de Houston, cujo aeroporto recebe voos do Brasil).

Ainda que menos divertida, a cidade tem seu charme, principalmente para os que logo encontram as escadas que levam ao Passeio do Rio, abaixo do nível das ruas.

Suas margens estão lotadas de restaurantes, bares e lojas, num labirinto de calçadas, enormes ciprestes e pontes cinematográficas. Um passeio de barco é a melhor pedida para escapar dos preços altos da região.

Ainda que carregue o símbolo da independência do Texas, San Antonio tem sua cultura e culinária fortemente ligadas ao México. A 20 minutos a pé do Álamo fica o maior mercado mexicano nos EUA, El Mercado, com mais de cem vendedores de cerâmicas coloridas, roupas bordadas e esculturas de caveiras.

Aqui também está um dos restaurantes mais populares e decorados da cidade, o Mi Tierra, aberto 24 horas. Na entrada, há uma padaria com "tortas tres leches" e pães doces. Mariachis e altares completam a decoração.

Atualmente, San Antonio passa por uma revitalização, tentando aderir ao movimento de comidas saudáveis para deixar de ser a segunda cidade mais obesa do país.

Uma feira de orgânicos, com pães artesanais, guloseimas locais e música ao vivo, é realizada nos fins de semana em Pearl Brewery, bairro com duas microcervejarias e restaurantes moderninhos.

fiesta

A temporada mais concorrida para visitar San Antonio é durante a chamada Fiesta, uma celebração de duas semanas e mais de cem eventos que ocorre na primavera dos EUA (a partir de março).

Os festejos remontam ao final do século 19, quando começaram as homenagens aos heróis da batalha do Álamo.

Uma das principais tradições é a coroação de uma rainha, uma princesa e 24 duquesas, escolhidas entre a elite do Texas.

Após desfilar em carro aberto com luxuosos vestidos bordados que chegam a pesar 40 quilos, a "realeza" faz sua festa nos salões do hotel The St. Anthony, considerado a joia da cidade e reaberto em novembro do ano passado depois de uma série de grandes reformas.

"Quando termina a Fiesta, o vestido é exibido na casa da família e às vezes usado como enfeite ao redor da árvore de Natal", explica Linda Blount, uma das organizadoras.

Durante o ano, a rainha e a princesa visitam hospitais e escolas.

Construído em 1909, o hotel restaurado fica na frente da praça Travis, onde há mais de três décadas é realizado um festival de jazz gratuito no outono. Desde 2014, o local é palco também de um evento da companhia de balé de San Antonio.

Com a reabertura cheia de pompa, o St. Anthony trouxe dois novos bares à cidade, incluindo o Haunt –cujo nome tem sentido duplo em inglês, tanto para "lugar favorito" como para "assombrado".

Os drinques do local brincam com lendas de fantasmas do hotel, como o "lady in red" (mulher de vermelho), feito com vodca, licor de hibisco e grapefruit (toranja).

O segundo bar fica no restaurante Rebelle, com culinária contemporânea que privilegia produtos locais. As bebidas levam o nome dos sete pecados capitais: o mais caro, "avareza", é feito com bourbon texano e licor Amaretto.