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    Em Alagoas, cânions do rio São Francisco fornecem visual exuberante

    PAULO GOMES
    ENVIADO ESPECIAL A ALAGOAS

    25/02/2016 02h00

    Quando a ideia é viajar ao Nordeste, uma das imagens que vêm à mente é a de uma tranquila praia, com larga faixa de areia branca, sol abundante, águas claras e coqueiros curvados em ângulos que desafiam a gravidade.

    Apesar de servir bem ao propósito de atrair turistas, esse arquétipo de cartão-postal da região ofusca de maneira injusta as belezas que, distantes do litoral, permanecem escondidas.

    Em Alagoas, por exemplo, conhecer as margens do rio São Francisco, em uma viagem Estado adentro, oferece uma experiência rica em caráter histórico, gastronômico e cultural –e com o mesmo visual exuberante, acredite.

    O principal responsável pelo deslumbramento são os cânions do chamado "rio da integração", desfiladeiros em pleno sertão, na região rural de municípios como Delmiro Gouveia e Canindé de São Francisco –este já na margem sergipana. Seja a partir do topo de algum deles ou do leito do rio, a vista recompensa quem enfrenta o deslocamento (são cerca de quatro horas e meia de carro a partir de Maceió).

    Em passeios de catamarã, é possível visitar ilhas fluviais com restaurantes e diferentes atividades de lazer. Seja descansar em redes com os pés na água e tomar banho de rio, para os mais tranquilos, seja pular de plataformas e trampolins na água ou praticar stand-up paddle, para os mais agitados.

    HISTÓRIA E CANGAÇO

    Descendo o rio em sentido ao litoral, chega-se a Piranhas, um dos polos da região, com belos mirantes, e célebre pela história do cangaço na primeira metade do século passado. À noite, seu centro charmoso fica cheio e torna-se um agradável reduto da boemia.

    A poucos metros dali, no píer, pode-se pegar mais um catamarã durante o dia para visitar a vizinha Poço Redondo –do outro lado do rio, já em Sergipe. Lá, as trilhas pela caatinga levam até a grota do Angico, local onde Lampião, Maria Bonita e parte de seu bando de cangaceiros foram mortos, em 1938. A história da manhã da emboscada é contada em detalhes pelos guias, caracterizados como as milícias da época.

    Cerca de 160 quilômetros rio abaixo está a cidade histórica de Penedo, atrativo para os apreciadores da arquitetura do período colonial. Entre as edificações católicas com séculos de existência destaca-se a igreja Nossa Senhora da Corrente, em frente ao Velho Chico –como o rio é carinhosamente chamado pelos habitantes locais.

    Um pedaço de madeira na parede, que pode passar despercebido pelo visitante ou dar a impressão de ser apenas um remendo, guarda um pedaço da história do Brasil. Trata-se, na verdade, de uma espécie de alçapão utilizado no século 19 por escravos que tinham fugido de seus senhorios. Conta-se que os negros ficavam "emparedados" no estreito vão da igreja ao longo do dia e só saíam à noite, na esperança de embarcar em algum navio para a liberdade em outras paragens.

    A viagem pelo São Francisco termina em Piaçabuçu, onde o rio se encontra com o mar. Um cenário repleto de dunas emoldura a foz e, entre Alagoas e Sergipe, no meio do rio, um farol abandonado resiste à força do mar.

    Depois da construção de tantas usinas hidrelétricas em seu curso, a polêmica transposição e a estiagem, o São Francisco não tem força de vazão para desaguar no mar –hoje, é o mar que adentra o rio. O que faz pensar: ainda que mereça mais visitantes, é até bom que uma experiência tão singular como a oferecida pelo Velho Chico ainda não seja tão exposta.

    O repórter viajou a convite do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade

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