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    Áreas subterrâneas da Cidade do México revelam séculos de história

    SYLVIA COLOMBO
    ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

    03/03/2016 02h00

    Com 21 milhões de habitantes, a região metropolitana da Cidade do México é a mais populosa do hemisfério ocidental. O que boa parte dos viajantes pode não saber é que, sob as calçadas onde tantos caminham durante o dia, há uma longa história ainda não completamente desvendada.

    Desde 1991, o Programa de Arqueologia Urbana investiga os vestígios de pré-colombianos que habitaram a região central da cidade e seus mais de sete séculos de história.

    O perímetro sob observação, de cerca de 500 metros, compreende o zócalo, principal praça da capital, e as ruas ao redor –que constituíram a urbanização fundada em 1325 conhecida como México-Tenochtitlán.

    No seu apogeu pré-hispânico, a cidade era a maior e mais imponente das Américas, com 200 mil habitantes. Segundo relatos da época, o centro administrativo e religioso tinha 78 edifícios.

    O conquistador da região, o espanhol Hernán Cortés (1485-1547), que chegou em 1519, e os que vieram depois foram colocando as bases da administração da colônia exatamente sobre essa área –o que não foi destruído ou levado para a Espanha foi soterrado. Devagarzinho, porém, o passado tem vindo à tona.

    O melhor local para ter uma ideia de como as descobertas vêm ajudando a recontar a história do México é o museu do Templo Mayor, recentemente reformado –e a poucos metros da Catedral e do Palácio Nacional. Sua coleção, com peças que chegam a cada descoberta, conta hoje com 7.000 objetos.

    Sua fundação deve-se a um acaso. Em 21 de fevereiro de 1978, funcionários da companhia de luz e eletricidade da cidade faziam obras em uma esquina do zócalo quando toparam com uma gigantesca escultura da deusa Coyolxauhqui. As escavações começaram imediatamente e foram surgindo outros objetos e estátuas que remontam ao período da fundação da cidade.

    Aos poucos, foi possível ter uma ideia da importância do Templo Mayor. Os achados batiam com os relatos de Cortés, que davam conta dos prédios importantes que viu.

    "Cortés, que por muito tempo foi só o vilão da história mexicana, com o tempo vem sendo revisto. A releitura de suas cartas e o estudo de sua trajetória mostram um aspecto humano antes menosprezado", diz Christian Duverger, autor de "Cortés e Seu Duplo", recém-lançado no Brasil.

    México

    TEMPLOS DE SACRIFÍCIO

    O Templo Mayor acompanhou a expansão do império Mexica. A cada conquista eram adicionadas camadas à construção inicial –que chegou a alcançar mais de 50 metros, com torres dedicadas aos deuses indígenas Huitzilopochtli, da guerra, e Tláloc, da chuva e agricultura.

    Em 2000, descobriu-se um conjunto de oferendas num imóvel diante do templo, a casa das Ajaracas. Ao longo do século 19, nenhum de seus donos se deu conta do que havia no terreno. Na análise dos destroços deixados pelo grande terremoto de 1985 foram encontradas peças de adoração à deusa Tláloc.

    Seis anos depois, foi achado outro imenso altar dos mexicas, em bom estado de preservação. É provável que as tropas de Cortés o tenham destruído, assustados com sacrifícios humanos realizados ali.

    A descoberta mais recente, de agosto passado, resgatou outro templo asteca. O altar de Tzompantli, de 13 metros de altura, foi encontrado junto a mais de 30 crânios humanos –provavelmente, vítimas de sacrifícios.

    AMOR E TRAIÇÃO

    Outro recanto da capital que vale conhecer é a casa da Malinche, em Coyoacán (próximo à casa de Frida Kahlo). Apesar de boa parte das paredes serem de uma reconstituição do século 19, é possível "reviver" o casarão que, em 1527, teria abrigado a amante indígena de Cortés.

    Diz-se que Malinche foi tradutora e auxiliar do conquistador, e muitos a têm como traidora dos indígenas. Sua figura deu origem a um mito explorado por autores como Octavio Paz e Carlos Fuentes.

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