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    Reaproximação com EUA impulsiona viagens temáticas a Cuba

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    17/03/2016 02h00

    Havia uma fila em frente ao carrinho de sorvetes no interior de Cuba, mas o guia deixou o grupo de sete turistas judeus americanos passar na frente. Com US$ 1, eles conseguiam comprar 13 casquinhas. Pagaram para a fila inteira.

    De volta à van, conversaram e decidiram oferecer ao guia um veículo novo –a van em que viajavam estava remendada, caindo aos pedaços. A orientação, no entanto, foi de não dar o presente, por "questões políticas".

    O caso se deu em um tour realizado pela sinagoga Templo Israel, de Nova York, quase dez anos atrás –à época, quando ainda imperava o rompimento diplomático entre os dois países, expedições como essa eram autorizadas por serem, segundo a rubrica oficial, "humanitarismo religioso".

    Mas, por trás disso, o rabino David Gelfand tinha "um interesse mais profundo" pela cultura, pela arte e pela arquitetura cubana –além de curiosidade pela comunidade judaica em Havana. Ele, inclusive, se ofereceu para liderar o serviço religioso na sinagoga Patronato, depois do qual os frequentadores chegaram a chorar, segundo ele, porque não ouviam um rabino desde 1961.

    Agora que os dois países reataram relações diplomáticas, o grupo de Gelfand comemora a abertura econômica gradual, que lhes permitirá fazer contribuições maiores –e comer em melhores "paladares"; alguns, ele diz, "parecem bistrôs chiques de Tribeca [bairro nobre de Nova York]".

    "Por outro lado, há viajantes afobados, que parecem querer chegar antes de a transição se completar, por um fascínio em conhecer o passado –que é o presente em Cuba", pondera o rabino.

    O movimento de americanos na ilha deve crescer de 30% a 40% com a abertura econômica, segundo estimativas de empresas do setor.

    Um filão que já vem sendo explorado são as expedições temáticas, marcadas em geral para o inverno norte-americano. Entre elas, os tours da sinagoga de Gelfand ou uma viagem guiada por um locutor de beisebol, que leva americanos a estádios e promove encontros com jogadores e familiares.

    "Quando assisti a um jogo lá pela primeira vez, no início dos anos 2000, fiquei surpreso como era tão parecido e tão diferente", lembra o presidente da agência Insight Cuba, Tom Popper. "Foi fácil tomar a decisão de criar esse tour." Entre 2014 e 2015, a procura pelos pacotes dobrou.

    O locutor, Eric Nadel, que até aprendeu a falar espanhol, costuma recomendar que os turistas "levem suas luvas" ao visitar o Palmar del Junco –onde, em 1874, ocorreu o primeiro jogo de beisebol cubano– e que "coloquem os seus bonés" para visitar o estádio Pablo Avelino.

    O programa inclui ainda um coquetel com estrelas aposentadas do esporte no hotel Nacional e um jantar em um restaurante temático.

    ROTA DO JAZZ

    Outra possibilidade é conhecer a ilha por meio das lentes de músicos, dançarinos e artistas locais. A agência de turismo do clube de jazz nova-iorquino Blue Note promete uma "imersão cultural".

    Os roteiros incluem uma visita à casa onde o escritor Ernest Hemingway morou, Finca Vigía, e a um de seus barcos. Há uma apresentação de crianças dançarinas e aulas com bailarinos de jazz.

    Claro que shows ao estilo "Buena Vista Social Club" estão previstos, mas há rotas menos previsíveis, como um tour pelo estúdio da gravadora Abdala e um almoço na galeria de Jose Fuster, artista que redecorou sua casa e o bairro de Jaimanitas, com 80 murais.

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