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    Quanto custa a comida que as companhias aéreas servem nos aviões?

    YOLANDA VALERY
    BBC MUNDO

    11/04/2016 12h52

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    Voar deixou de ser experiência glamorosa e empresas passaram a pagar cobrar por refeições e bebidas
    Voar deixou de ser experiência glamorosa e empresas passaram a pagar cobrar por refeições e bebidas

    Quando, em 1987, o então presidente da American Airlines Bob Crandall decidiu deixar de servir uma azeitona no cardápio da primeira classe, a companhia começou a economizar US$ 40 mil (R$ 144 mil, em valores atuais) por ano.

    A história já foi contada tantas vezes que virou mito. Alguns dizem que a cifra é muito maior; outros, que a economia foi resultado de um menor custo do combustível devido à redução do peso total das azeitonas nos voos.

    Há até os que discutem se a azeitona também foi retirada das saladas e martínis.

    Ao contrário de antigamente, voar já não é mais uma experiência glamorosa e restrita a um seleto grupo de indivíduos.

    A multiplicação das companhias aéreas de baixo custo teve um papel fundamental nessa transformação. E as mudanças na área da aviação civil podem ser observadas de várias formas, a começar pela mesinha que fica à frente do assento.

    Nos anos 1950, companhias como a americana PanAm prometiam "comida deliciosa (...) preparada em quatro cozinhas que operam simultaneamente".

    Mas, no começo do século 21, empresas como a British Airways ou a American Airlines reduziram suas ofertas a lanches e passaram a cobrar separadamente por eles.

    E isso é explicado pelo impacto do aumento do preço dos combustíveis, entre outros motivos.

    Falência

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    Entre 2008 e 2011, oito companhias aéreas internacionais declararam falência
    Entre 2008 e 2011, oito companhias aéreas internacionais declararam falência

    Entre 2008 e 2011, oito companhias aéreas internacionais declararam falência.

    Muitas empresas lançaram mão, assim, de dois recursos clássicos: eliminar tudo o que é considerado supérfluo e cobrar por tudo que seja indispensável.

    Mas, com a queda no preço do petróleo, essa tendência pode estar se revertendo.

    Em fevereiro deste ano, a United Airlines e a American Airlines voltaram a oferecer lanches "gratuitos" –incluídos no preço da passagem– em certos voos.

    A American Airlines também anunciou que restabeleceria o serviço de refeições completas em determinadas rotas de distância média.

    "[Antes] a questão era como sobreviver. O que mudou é que as empresas aéreas conseguiram arrumar seus negócios e retomar a capacidade de reinvestir em nossos clientes", disse Fernand Fernández, vice-presidente de mercado global da American Airlines, à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

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    Custo de refeições ainda é um tabu para a maior parte das companhias aéreas
    Custo de refeições ainda é um tabu para a maior parte das companhias aéreas

    Quanto custa a comida?

    No entanto, o custo das refeições a bordo ainda é um tabu para a maior parte das companhias aéreas.

    "Não temos permissão para discutir isso", disse à BBC Mundo uma porta-voz da SkyChefs, uma das principais fornecedoras mundiais de refeições e lanches para empresas aéreas.

    "De fato, não falamos sobre o custo de nossos alimentos ou bebidas a bordo", respondeu por e-mail Boris Ogursky, porta-voz da Lufthansa, uma das únicas duas companhias aéreas (de um total de oito) que responderam ao pedido de entrevista da reportagem.

    A colombiana Avianca, uma das maiores da América Latina concordou em falar sobre os custos.

    "Para a Avianca [o custo por passageiro para servir uma refeição na classe econômica] varia de US$ 1 a US$ 13 (R$ 3,60 a R$ 46,60), dependendo da distância do voo", afirmou Claudia Arenas, diretora internacional de comunicação e assuntos corporativos da empresa.

    Ela ressalva que os custos para a classe executiva ou primeira classe são mais elevados, "entre US$ 5 e US$ 30" (R$ 18 e R$ 107,60).

    As cifras coincidem com os dados enviados à BBC Mundo pelo Bureau de Estatísticas de Transportes (BTS, na sigla em inglês) do Departamento de Transportes dos Estados Unidos.

    Segundo o órgão, o gasto médio em 2014 das dez companhias estudadas em todas as classes e distâncias foi de US$ 3,61 por pessoa (R$ 12,95).

    A que mais investiu na área foi a American Airlines (US$ 6,43 ou R$ 23) e a que menos investiu foi a Spirit, uma companhia aérea de baixo custo, com apenas US$ 0,26 (R$ 0,93).

    Altos e baixos

    De acordo com o BTS, desde 2001, houve uma queda de 25% nos recursos investidos nesse tipo de serviço.

    As estatísticas não englobam outros custos associados à alimentação nos aviões, entre eles: transporte, armazenamento, serviço e descarte de lixo.

    Contudo, não é possível evitá-los, ainda que as companhias queiram cobrá-los à parte: os aviões precisam ter os produtos à bordo e à disposição dos passageiros.

    Esse pode ser um dos motivos pelos quais os preços sejam tão altos: um levantamento realizado em 2013 por um site de comparação de preços na Grã-Bretanha descobriu que, em média, comprar comida e bebida em um avião era pelo menos 241% mais caro do que no supermercado.

    Por isso, economizar pouco mais de US$ 3 (R$ 10,76) por passageiro (e, em teoria, no preço da passagem) não parece muito.

    A pergunta é se faz sentido, em termos financeiros, excluir a alimentação do preço da passagem.

    "Faz sentido, e ao fazê-lo, reduz-se o preço –que é ponto de entrada– aumentando a demanda", disse à BBC Mundo Bob Mann, consultor de serviços para o setor aéreo baseado em Washington.

    "Não podemos nos esquecer, contudo, que a concorrência é muito forte nesse setor. Assim, muitas vezes, é preciso oferecer comida e bebida gratuitamente para atrair o passageiro", acrescentou.

    Outro questionamento comum é se a redução da oferta deste tipo de serviço teve um impacto negativo no público, como um sinônimo de uma queda na qualidade do serviço.

    "Não. É irônico, mas, antigamente, as refeições eram depreciadas porque eram gratuitas. Agora, no entanto, têm um outro tipo de valor agregado para os clientes e acabam representando um dividendo para as empresas aéreas", disse Mann.

    "O único caso em que houve um impacto na venda de passagens foi quando as empresas aéreas começaram a cobrar pela água a bordo. A reação foi tão negativa que a iniciativa foi abandonada", acrescentou ele.

    "Eu imagino que não há uma razão para (afirmar que) as empresas aéreas 'deveriam' oferecer refeições como parte da passagem; é um avião, não é um restaurante", disse à BBC Mundo Marco Hart, do site AirlineMeals.net, que se dedica a documentar o que é servido em aviões com fotografias da comida, cardápios e outros.

    "Acho que você recebe aquilo que está disposto a pagar. Algumas empresas aéreas vendem passagens em uma tarifa 'regular' e a comida está incluída (...). Outras vendem passagens baratas para pessoas que querem um voo barato. Se você quer comer, paga à parte, e acho que assim está tudo bem", disse.

    No Brasil, no entanto, a queda no preço internacional do petróleo não permitiu o mesmo alívio financeiro já que a crise econômica e a alta no dólar elevam os custos e o endividamento das empresas, apontam especialistas.

    Mas no mundo, para Hart, a situação está melhorando.

    "Há mais opções, novos conceitos com ingredientes frescos, melhores técnicas e infraestrutura. O futuro parece bom", afirmou.

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