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    Rio de Janeiro

    Centro do Rio de Janeiro é palco de festa junina com sotaque português

    CAROLINA CHAGAS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

    09/06/2016 02h00

    No começo do século passado, quando nascia uma menina em Viana de Castelo, em Portugal, uma peça de lã preta era encomendada às mulheres da família. A menina crescia e era convidada a acrescentar miçangas ao tecido, que, com uma mantilha branca e um buquê de flores, viraria seu vestido de noiva –e, quando o marido morresse, seu traje de luto.

    Alguns desses vestidos, vindos na bagagem de portuguesas que se mudaram para o Rio décadas atrás –e preservados na Casa do Minho, um clube lusitano em Laranjeiras–, serão exibidos neste domingo (12), por cerca de cem integrantes do rancho folclórico Maria da Fonte.

    O desfile de vestimentas tradicionais fará parte da Festa dos Santos Populares Portugueses, versão lusitana das festas juninas brasileiras, organizada pela primeira vez na capital fluminense.

    Também será o primeiro evento realizado na praça 15 de Novembro após sua revitalização. Foi nesse espaço no centro do Rio, à época chamado de largo do Paço, que dom João 6º desembarcou com a corte portuguesa em 1808.

    "Vamos aproveitar a importância desse sítio para a história do Brasil e de Portugal para celebrar nossas semelhanças e diferenças", diz a produtora do evento, a portuguesa Connie Lopes, radicada no Rio há mais de duas décadas.

    Segundo Felipe Tassara, que assina os enfeites da praça com Daniela Thomas, "há muitos elementos comuns entre a festa portuguesa e as comemorações de São João do Nordeste do Brasil".

    Entre eles, as bandeirinhas e os estandartes com imagens dos santos.

    Tanto lá quanto cá, a festa começa em 10 de junho, dia de santo Anjo de Portugal (apelido de são Miguel Arcanjo, padroeiro do país), e vai até a véspera do dia de santo Antônio, nascido em Lisboa e padroeiro da cidade.

    Nos três dias de festa na praça 15 de Novembro haverá atrações musicais, gastronômicas, literárias e artísticas.

    Na parte musical, destacam-se o grupo Deolinda, que faz uma releitura dançante do fado, e a sanfoneira Rosinha, queridinha dos jovens portugueses, com letras de duplo sentido.

    "Vai ser legal para os brasileiros perceberem que a sanfona, o reco-reco e o triângulo vieram de Portugal", diz Connie Lopes.

    A praça 15 será tomada por food trucks da Casa do Minho e do restaurante Gruta de Santo Antônio, de Niterói. Sardinhas, punheta (salada de bacalhau), bolinhos de bacalhau, bifanas (sanduíches de carne de porco) e alheiras estarão no cardápio, além dos tradicionais doces à base de ovos e castanhas, e de vinhos tinto, branco e verde, e a ginginha (licor de uma variação de cereja).

    Entre as atrações artísticas, haverá leitura de poemas portugueses pelos atores Luis Lobianco (do "Porta dos Fundos") e Ricardo Pereira (galã da TV Globo), e um debate entre o jornalista brasileiro Laurentino Gomes e o historiador português Jorge Couto sobre a chegada dos portugueses ao Brasil. Também serão expostas maquetes gigantes da cidade do Porto e do Rio de 1800.

    Durante o evento, gratuito, o Cristo Redentor estará iluminado com as cores portuguesas. A programação completa pode ser vista no site do evento.

    PARA PEDIR AO SANTO

    A um quilômetro da praça, no largo da Carioca, fica a igreja de Santo Antônio –os outros dois santos juninos, Pedro e João, têm referências menores na capital fluminense.

    Mas é o casamenteiro, entre os três santos reverenciados em junho, o que mais costuma atender aos pedidos de fiéis (a ele se costumava recorrer antes de são Longuinho).

    São Pedro, pescador rude, cuida das chuvas, mas não tem paciência com problemas mundanos. João, responsável pelo batismo de Jesus, é um santo festeiro, amante de quadrilhas –mas não é popular em distribuir graças.

    Já dizia uma marchinha do carioca Lamartine Babo, gravada por Carmen Miranda, em que uma fiel pede ajuda a Pedro e a João para arrumar marido: "Isso é lá com santo Antônio".

    No domingo e na segunda haverá missas com bênçãos para noivos e casais na igreja no largo da Carioca. No dia 12, às 10h e às 16h; no dia 13, às 6h, 7h, 8h, 10h, 12h, 15h e 18h.

    Ao final de cada cerimônia, um pão de santo Antônio é abençoado e entregue aos fiéis –ele deve ser guardado na despensa o ano todo, para que não falte comida.

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