O Caminho de Santiago de Compostela já está saturado –há relatos de peregrinos que precisam sair mais cedo e andar mais rápido do que os outros para que, no fim do dia, consigam lugares nos albergues para descansar.

Para quem prefere encontrar a si mesmo na caminhada, em vez de turistas barulhentos com seus celulares erguidos em cajados de aço para selfies, o caminho de Santo Inácio de Loyola, também na Espanha, surge como alternativa.

Criado em 2012 pelo jesuíta Jose Luís Iriberri, ele ainda está tomando forma e importância. O trajeto começa em Loyola, no país Basco, e termina 650 quilômetros depois, já na Catalunha, em Manresa, pertinho de Barcelona.

Ao longo do caminho, há um país com igrejas medievais espalhadas por pequenas cidades, onde a bandeira da Espanha é substituída por aquelas da Catalunha ou do País Basco –o que mostra que é mesmo um assunto sério, esse de separatismo.

É preciso estar atento ao cheiro, que antecipa a presença de uma igreja, com o odor das velas e do mofo da madeira. O aroma do vinho e da sidra também costuma chegar antes do gosto.

Ainda perto de Loyola, o peregrino escuta gritos de crianças correndo atrás de uma bola. O som é muito mais alto que o canto dos monges beneditinos do mosteiro de Montserrat, já no fim do caminho, lugar onde santo Inácio deixou roupas e armas para seguir como religioso.

Voltando ao trajeto, as ovelhas da paisagem migram logo da visão para o paladar, na forma do gosto suave do queijo. Na mesa degusta-se carne, embutidos de todas as cores e formas, mas também bacalhau, sardinha e atum.

A arquitetura gótica e romana se mistura à contemporânea, seja na região de Rioja, na intrigante Bodega Ysios, do arquiteto valenciano Santiago Calatrava, ou no moderno hotel Marqués de Riscal, em Araba, com as curvas do canadense Frank Gehry.

Em escalas menores que os prédios, as sobremesas trazem em sua montagem a técnica arquitetônica –com cuidado, a semente de romã se equilibra sobre pedacinhos de nectarina com a mesma precisão dispensada à construção dos telhados de Rioja.

Se não for um ponto de virada na vida, o Caminho Inaciano pode, pelo menos, representar a oportunidade de desfrutar o melhor da gastronomia ibérica.

GASTRONOMIA ESPANHOLA

No Caminho Inaciano, a comida sempre está ao alcance dos dedos –e da boca.

No País Basco, o bacalhau é produto que não falta à mesa, enquanto na Catalunha, mais no fim do trajeto, são os embutidos que dão o tom. Em ambos os casos, tudo regado a vinho e azeite de oliva.

Outra opção é pedir uma taça de sidra, produzida com as maçãs do País Basco –que pode ser acompanhada com o queijo do Caserío Erraizabal, da cidade de Legazpi (o quilo custa mais de R$ 70).

Para a sobremesa, o destino é o entorno do santuário de Arantzazu, em Oñati. Ali, são vendidos produtos típicos, como o pastel basco, que é uma espécie de bolo de textura bem macia.

Acima é possível ver mais fotos do caminho e dos produtos da região. Mas antes de olhar as imagens, uma dica é abrir um vinho da região de La Rioja ou mesmo uma sidra, que é mais em conta e já vale para entrar no clima.

Uma vela acesa ao lado do computador pode garantir um clima medieval enquanto a galeria de fotos vai se apresentando. Para comer, a sugestão é um pão torrado com uma pasta de alho picada e uma massa bem suave. Ou um bacalhau à espanhola.

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Bacalhau à espanhola

Ingredientes

• 600 g de bacalhau fresco em filés
• 600 g de batata cozida em rodelas
• 2 pimentões vermelhos em rodelas
• 2 pimentões verdes em rodelas
• Ovos de codorna cozidos
• 1 xícara (chá) de azeite
• Pimenta-do-reino branca a gosto
• Sal a gosto

Modo de preparo

• Deixe o bacalhau na água para dessalgar. Depois, passe a limpar, tirar a pele e as espinhas do peixe

• Ponha o bacalhau e as batatas em uma grelha e tempere com o sal e a pimenta. Asse os pimentões no forno por uma hora

• Coloque o bacalhau, as batatas, os pimentões e os ovos de codorna em uma travessa e regue com azeite

• É possível servir com fatias de alho dourado