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    Será que os hotéis de Donald Trump são tão cafonas quanto ele?

    STEPHANIE ROSENBLOOM
    DO "NEW YORK TIMES"

    20/07/2016 13h00

    Hiroko Masuike/The New York Times
    At the Trump SoHo New York, even the smallest rooms are a good 420 square feet, New York, June 28, 2016. Donald TrumpÕs presidential candidacy has drawn attention not only to his policy positions, but also to everything that bears the Trump name, including about a dozen high-end hotels and resorts. (Hiroko Masuike/The New York Times) ORG XMIT: XNYT147
    Homem caminha em frente ao hotel Trump de Nova York

    Se você fosse um alienígena e chegasse do espaço a Doral, na Flórida, as letras douradas na fachada do edifício em estilo espanhol, em meio a 320 hectares de pistas de golfe, não deixariam dúvida sobre quem é o dono do lugar: TRUMP.

    Você poderia então se apanhar imaginando o que exatamente esse sujeito faz: lá dentro, em uma lojinha, um chardonnay e um sauvignon blanc da marca Trump estão à venda, bem como conjuntos de esmaltes Trump, bolsas cintilantes da grife Trump e a colônia Empire by Trump.

    Uma área da recepção está decorada por capas de revistas emolduradas, todas mostrando Donald Trump. Na "Newsweek", com a boca aberta e um dedo em riste, com o título "You're fired!" [você está demitido]. Na "Playboy", de smoking ao lado de uma coelhinha da revista. E em uma revista de golfe, "Fairways and Greens", de 2011, com o título "Presidente Trump?"

    A questão se provou presciente. A candidatura de Trump à presidência dos EUA, oficializada nesta terça-feira (19), atraiu atenção não só para suas posições políticas, mas para tudo mais que porta seu nome –o que inclui cerca de uma dúzia de hotéis e resorts de primeira linha, espalhados de Waikiki (Havaí) a Turnberry Ayrshire (Escócia).

    Neste ano, a Trump Hotels, fundada em 2007 por Trump e três de seus filhos (Donald Jr., Ivanka e Eric), planeja inaugurar unidades em Vancouver (Canadá), Washington (EUA) e Rio de Janeiro. Nos próximos anos, a empresa anunciou que planeja se expandir à Ásia.

    Embora o nome de Trump seja onipresente, a rede talvez não seja tão conhecida quanto cadeias com históricos mais extensos, como Marriott ou Hilton. Será que os hotéis Trump são tão grandes, exagerados e cafonas quanto o homem cujo nome portam?

    Em visitas a unidades da rede em Nova York, Miami e Las Vegas, tentei descobrir qual é a sensação de ser hóspede do homem que pode se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos.

    *

    Ao percorrer os caminhos do Trump National Doral Miami em um carrinho de golfe enfeitado com a insígnia de Trump, o ruído dos pássaros se alterna com o das tacadas, e todos os funcionários o cumprimentam amistosamente.

    Hectare após hectare se vê uma paisagem bem cuidada, com canteiros de flores de cores uniformes, fileiras ordeiras de palmeiras e arbustos bem aparados, por onde já jogaram luminares do golfe como Jack Nicklaus e Tiger Woods. Uma folha de palmeira do tamanho de uma prancha de surfe cai, mas fica no solo por apenas alguns minutos antes que um funcionário chegue em um carrinho de golfe para removê-la.

    Era uma tarde abafada de primavera, e o silêncio contrastava com uma notícia surgida dias antes. Um membro da equipe da PGA Tour, a organização de golfe profissional que realiza um torneio anual no Doral há mais de meio século (a propriedade foi adquirida pelos Trump em 2012), revelou que a organização estava planejando transferir o evento –para o México.

    Trump, que no ano passado empregou vocabulário seleto para definir os imigrantes mexicanos, anunciou em 31 de maio que a PGA deixaria seu hotel. "Vão transferir o torneio para a Cidade do México. Espero, aliás, que tenham seguro contra sequestros", disse, em entrevista à rede de notícias Fox News.

    O comissário da PGA Tour disse que a decisão não tinha motivos políticos.

    Ainda que a PGA Tour possa ser coisa do passado, Trump investiu cerca de US$ 250 milhões no resort. Em abril, 50 suítes foram inauguradas perto do Trump Spa, como parte da extensa reforma. Decoradas em tons alegres de azul, com arte abstrata que evoca o oceano, incluem banheiras, acesso às áreas comuns do spa e, à noite, vinho Trump é servido.

    Dentro delas suítes (a diária em junho era de US$ 425), há produtos da Trump Hotel Collection tais como cristais de banho e uma sacola para tapete de ioga, um dos diversos itens de conforto que encorajam o bem-estar.

    O ouro é usado de maneira discreta. Admirando um esfera dourada decorativa, olhei a base de um vaso próximo para ver se ele portava a marca de designers famosos como Kelly Wearstler ou Jonathan Adler. Mas a etiqueta dizia West Elm [loja moderninha de preços acessíveis].

    As tendências atuais do design misturam caro e barato sem muita preocupação; é fácil imaginar jovens adeptos da decoração usando o Pinterest para trocar fotos das suítes. A esfera dourada custa US$ 39 no site da West Elm; os porta-copos em tons de creme e dourado na mesinha de centro custam US$ 31. Um charmoso vaso tinha etiqueta da CB2 e preço de US$ 10,95.

    Em termos gerais, os corredores e os quartos dos hotéis Trump são surpreendentemente discretos, se excetuarmos alguns floreios característicos como uma válvula dourada no vaso sanitário ou candelabros que parecem ter sido criados para o gigante Wun Wun de "Game of Thrones".

    Por trás dos dourados e dos exteriores reluzentes e saguões de mármore, os espaços privados são discretos, e ostentam tons de cinzento, creme e marrom.

    Essa sutileza se estende a outros aspectos das propriedades. A música nas piscinas e restaurantes muitas vezes não é alta –uma surpresa agradável. E os hotéis não têm vagas para fumantes, mesmo em Las Vegas. O Trump International Hotel Las Vegas, aliás, não tem cassino. Em lugar disso, vende cofres de porquinho com a marca Trump por US$ 10.

    A fachada do imóvel é coisa completamente diferente: o hotel não economiza no toque de Midas e o edifício parece uma barra de ouro gigante. Na Trump Store, bonés com o lema "Vamos tornar a América grande de novo" (US$ 30) estão à venda e decoram as prateleiras do bar da piscina.

    "Se você tiver que pensar, então pense grande", diz uma citação de Trump gravada em um espelho que recobre uma parede. A máxima se aplica aos quartos. Em Las Vegas, fiquei em uma suíte com refrigerador, fogão e lavadora de louças. Mesmo no Trump SoHo New York, os menores quartos registram 38 metros quadrados.

    Os preços de admissão são dignos de um hotel de luxo. A diária do quarto mais barato para um fim de semana em julho era de US$ 563; na unidade de Chicago, US$ 420. Mas em Las Vegas acham-se diárias de US$ 165. [No hotel Trump no Rio, que abre no próximo dia 1º de agosto, pesquisa da Folha para um fim de semana em setembro, pós-Olimpíada, achou diárias a partir de R$ 826].

    Divulgação
    Projeção da fachada do hotel Trump que será aberto no Rio de Janeiro para a Olimpíada
    Projeção da fachada do hotel Trump, que será aberto no Rio de Janeiro para a Olimpíada

    Em visitas recentes aos hotéis Trump, conversei com hóspedes de férias ou a negócios, alguns acompanhados da família. Falavam inglês, francês, hebraico e mais. O site da Trump Hotels oferece diversas opções de idioma, entre as quais chinês e árabe –embora Trump proponha pressionar a China economicamente e barrar a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.

    Solicitados a descrever seus hóspedes, funcionários do Trump SoHo dizem que eles são presidentes de empresas, atletas e atores. A família Kardashian está entre os visitantes frequentes. Outras celebridades que se hospedaram nos hotéis também expressaram sua opinião.

    Depois que Trump disse que proibiria a entrada de muçulmanos nos Estados Unidos, Lucy Lawless, que interpretava a protagonista do seriado de TV "Xena, a Princesa Guerreira", recorreu ao Twitter para dizer que costumava me hospedar nos hotéis Trump. "Não vou mais poder", disse, e instou seus mais de 140 mil seguidores a boicotar a marca. Recentemente, o talk show "Jimmy Kimmel Live!" criou um falso comercial para a Trump Hotels, com o slogan "Não é culpa nossa!", e pedidos de desculpas a grupos que Trump pode ter ofendido.

    Algumas empresas acreditam que a campanha de Trump possa ter prejudicado seus negócios na hotelaria. O Hipmunk, site de comparações de experiências de viagem, afirmou em maio que "embora as reservas de hotéis no site estejam em alta, o mesmo não pode ser dito sobre as reservas da Trump Hotels". No site, a porcentagem de reservas na rede em relação ao total caiu 59% ante o ano anterior. Mas os executivos da rede afirmam que a marca jamais foi tão forte.

    NA SUPERFÍCIE

    Afinal, os hotéis Trump são tão exagerados quanto o homem cujo nome portam? Só na superfície. Além das fachadas e saguões, a sensação é de calma e conforto. Sem fumo, sem cores vistosas. O serviço foi definido por um funcionário como "fantasma" –onipresente, mas silencioso. Trump também parece onipresente. Mas não é silencioso.

    Nos quartos, ele aparece em vídeos sobre os Trump Hotels em um canal interno de TV que parece viver em loop.

    "A coisa que faço melhor é construir", diz Trump, em um vídeo sobre o novo hotel de sua rede na capital dos Estados Unidos –que deve ser inaugurado semanas antes da eleição presidencial. "Melhor que 'O Aprendiz'", ele diz. "Melhor que a política".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa
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