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    Zoo de Buenos Aires desiste de exibir bichos e transfere seus habitantes

    SYLVIA COLOMBO
    EM BUENOS AIRES

    18/08/2016 02h00

    O zoológico de Buenos Aires, localizado no coração de Palermo e uma das atrações turísticas queridas dos brasileiros, logo não terá mais animais em exibição.

    Parece algo raro, mas, na verdade, a instituição argentina segue uma tendência já comum na Europa e nos EUA. O local está sendo transformado num "ecoparque". Seus atuais habitantes serão, pouco a pouco, transferidos para santuários, reservas ou outras instituições no interior do país ou no exterior cujo clima e condições de vida estejam mais de acordo com as características das espécies.

    "A ideia de animais expostos à exibição é muito antiquada e produziu, nos últimos tempos, no nosso caso, certas anomalias", diz à Folha Rosario Espina, diretora-geral de bem-estar animal do zoológico de Buenos Aires.

    De fato, entre elas, pode-se citar a morte de um urso polar que não aguentou a temperatura de 45 graus do verão portenho de 2012 e morreu. Desde então, grupos de defesa de direitos dos animais intensificaram as campanhas para que o zoo de Buenos Aires deixasse de abrigar bichos tão pouco adaptados ao clima local. Também surgiram denúncias de que certos espaços não eram próprios para animais grandes, como o destinado aos elefantes, que lhes causava lesões.

    "Muitas espécies estão mais acostumadas ao calor, e vamos buscar locais no norte do país", diz Espina.

    Entre os animais que não se ajustam à vida num zoológico no centro de Buenos Aires estão o condor, ave própria dos Andes, ou a famosa orangotango Sandra, nascida na Alemanha de um híbrido de espécies típicas da Indonésia. Por Sandra, houve uma campanha tão intensa que a Justiça local chegou a determinar que ela poderia ter um habeas corpus.

    Por um lado, pode parecer triste que um passeio tão tradicional desapareça, pois, além de ter contato com os animais, era possível dar voltas de charrete ao redor do parque. Afinal, o zoológico foi montado há 140 anos e está vinculado à rede de parques que faz com que Palermo seja uma das áreas mais arborizadas da cidade.

    Por outro lado, o projeto apresentado para substitui-lo cumpre funções didáticas antes inexistentes.

    Haverá exposições e passeios para ensinar sobre as diferentes espécies e seus habitats e sobre sustentabilidade. Com o uso de tecnologia, será mostrado ao visitante como os animais vivem na natureza. Um grande espaço, com recursos de 3D, permitirá que ele se sinta dentro de uma floresta.

    As mudanças não serão de uma hora para outra. "Encontrar o lugar ideal para cada espécie que temos aqui é um trabalho delicado, isso tomará alguns anos", diz Espina.

    Dos 1.500 animais, os primeiros liberados foram 46 aves. Elas foram para um lugar transitório, a Reserva Ecológica da Costanera Sur.

    Nesse parque especializado, as aves serão treinadas para a vida ao ar livre. Ficarão em uma "jaula túnel", lugar amplo, mas limitado, até que ganhem músculos e possam voar mais do que antes, no espaço menor destinado a elas no zoo. Monitores também vão ensinar essas aves a buscar alimentos na natureza. Só então serão soltas para voar livremente.

    A ideia é que todos os animais deixem o parque, menos os que são idosos ou doentes e já não têm condições de suportar a mudança.

    Enquanto isso, foram iniciadas as obras de restauração dos antigos pavilhões, da época da abertura original.

    Quem quiser aproveitar os últimos tempos desse tradicional passeio já terá de obedecer a novas regras. Por exemplo: agora, os horários de abertura são mais controlados, há limite de entrada de pessoas e é expressamente proibido alimentar os bichos.

    *

    ECOPARQUE INTERATIVO DE BUENOS AIRES
    Endereço Avenida Sarmiento, 2.601, Palermo
    Horários De quarta a domingo, das 10h às 17h; máximo de 2.000 pessoas por dia
    Quanto $ 190 (R$ 41); crianças menores de 12 anos não pagam

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