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    Em Londres, tradição do chá das cinco volta e atrai moradores e turistas

    DA AFP

    26/08/2016 13h00

    O renovado entusiasmo pelo clássico "chá das cinco" tem gerado um mercado efervescente em Londres, em que os grandes hotéis competem por atrair fãs desse costume típico.

    Símbolo da aristocracia inglesa, sinônimo de refinamento, luxo e bom gosto, o chá da tarde é uma tradição ineludível britânica.

    Atribui-se sua invenção à duquesa de Bedford, por volta de 1840. Sua ideia era preencher as horas vagas entre o almoço e o jantar, que começava a ser programado para cada vez mais tarde.

    O chá nunca vem sozinho: é acompanhado de um minibufê, servido em uma bandeja de três níveis –no primeiro, sanduíches de pepino, no segundo "scones" [tipo de pão inglês] com creme e geleia, e no terceiro uma seleção de bolos doces–, que permite matar a fome até o jantar.

    Hoje, a tradição está propagada sobretudo entre os grandes hotéis, para os quais "a hora do chá" é algo lucrativo –eles podem chegar a cobrar o equivalente a R$ 220 por comensal.

    "O jubileu de diamante da rainha Elizabeth e os Jogos Olímpicos de Londres [ambos em 2012] despertaram o interesse do público por todo o estilo de vida 'british'. Desde então, a popularidade da hora do chá tem aumentado consideravelmente", explica Keith Newton, fundador da Afternoon Tea Week (semana do chá das cinco), que se comemora em agosto –neste ano, entre os dias 8 e 14.

    "Os turistas integraram o chá das cinco à lista de coisas para fazer –ainda que o grosso da clientela siga sendo de britânicos", acrescenta.

    'ALICE'

    Com a concorrência, os diferentes hotéis londrinos rivalizam em termos de criatividade.

    O Sanderson, próximo à região de Oxford Circus, levou o prêmio da Afternoon Tea Week deste ano com seu "Chá das Cinco do Chapeleiro Maluco", de pâtisserie bem cuidada, que incluía sanduíches e macarons, inspirada em "Alice no País das Maravilhas".

    Por sua vez, o K West se inspirou no conceito de "rock glamoroso", com chaleiras de um tom azul-elétrico em bandejas em formato de disco.

    No Lancaster London, o charme é um kit para levar, que pode ser consumido ao ar livre, no Hyde Park, ali ao lado. Além do ARTea, menu que oferece as geleias em tubos de pintura.

    "A concorrência é feroz, então há que se destacar", diz Newton. "Mas também não se pode fazer qualquer coisa. As pessoas gostam de tradição, é preciso ser criativo sem se afastar demais dos códigos clássicos".

    Sobretudo, não se pode esquecer do chá.

    "Tudo gira em torno do chá, é o produto-estrela", reafirma Max Eisenhammer, conhecido como "Senhor Chá".

    Eisenhammer é o responsável pelas vendas da Rare Tea Company, marca que abastece, entre outros, o hotel Claridge's, palácio cinco-estrelas de Londres, e o Nome, premiado restaurantes de Copenhague (Dinamarca).

    SACRILÉGIO

    "Os clientes do chá das cinco querem só o melhor", diz Eisenhammer, que assegura se fazer presente em algumas cozinhas para se assegurar que o chá seja preparado corretamente, com a temperatura adequada e com o tempo de infusão apropriado para cada variedade.

    No hotel Kensington, a seleção inclui o chá branco conhecido como agulha de prata, procedente da China e perfumado com pétalas de jasmim durante seis dias.

    Para Fabio Adler, diretor de gastronomia do hotel, a popularidade da hora do chá tem muito a ver com a "convivência".

    "Todo mundo consome a mesma coisa, no mesmo momento", explica.

    Ele também reconhece a rivalidade "ultracompetitiva" entre os hotéis e faz uma crítica às propostas que beiram o "sacrilégio" em sua tentativa de sobressair.

    "Oferecer um 'chá das cinco' às 11h da manhã não faz sentido. Um 'chá das cinco' à espanhola, com minitapas, para mim, é ir longe demais", afirma.

    Alison Hayward, dona da casa de chás The Bridge Tea Rooms, localizada em Bradford-on-Avon, no sudoeste da Inglaterra, compartilha da mesma opinião.

    A casa, em que as garçonetes usam vestidos pretos e aventais brancos, como na época vitoriana, já recebeu muitos prêmios. "A tradição é sempre o que funciona melhor", assegura Hayward.

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