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    depoimento

    No avião, nem eu nem o gato conseguimos relaxar

    JULIANA VINES
    EDITORA-ADJUNTA DE SUPLEMENTOS

    22/09/2016 02h00

    Há um ano, voltei para o Brasil depois de uma temporada vivendo em Bogotá. O maior perrengue da mudança não foi atochar mais de cem quilos de roupas, livros e eletrodomésticos em três malas. O problema mesmo foi trazer comigo o meu gato colombiano, um ragdoll chamado Tom Collins.

    Comecei a me preparar um mês antes. Li reportagens e blogs sobre o tema, vasculhei sites de companhias aéreas e, depois, falei com um veterinário de confiança. Coincidentemente, ele tinha acabado de despachar um gato para o Brasil.

    Em vez de ajudar, tanta informação atrapalhou. Cada um falava uma coisa. Para começar, a lista de documentos da companhia não era a mesma do veterinário. Liguei no SAC da empresa duas vezes só para garantir e resolvi seguir o caminho oficial.

    Outra preocupação: o gato é de uma raça gigante, um pouco maior que o permitido para viajar como bagagem de mão. Enquanto o veterinário garantia que jamais mediriam o bicho no check-in e o importante era ele caber na bolsa de transporte, a companhia dizia que, por dois centímetros, poderia barrar o embarque.

    Decidi arriscar, porque a outra opção –contratar uma empresa de transporte de cargas– não era uma opção. Além de sair mais caro (cerca de R$ 1.400 na época), o gato esperaria seis horas sozinho antes de embarcar. Juntando com o tempo da viagem, seriam mais de 12 horas sem comer nem fazer xixi. Sem chance.

    Comprei uma passagem na classe executiva, para ter mais espaço e direito a mala extra, e reservei o primeiro assento, que tem mais espaço ainda. Juntei a pilha de documentos, incluindo um certificado tirado "pessoalmente" na véspera e um atestado veterinário internacional, e cheguei ao aeroporto com duas horas de antecedência.

    Fui morrendo de medo para a fila de check-in. A atendente pegou a papelada, olhou de canto para a bolsa e só. Não mediu o bicho, não fez perguntas, nada. Como o veterinário tinha avisado, as normas são super-rígidas, mas muitas delas ficam só no papel.

    As seis horas de voo demoraram a passar. Nem eu nem o gato conseguimos relaxar. Ele miava, se mexia dentro da bolsa e eu tentava acalmá-lo.

    No fim, deu tudo certo. Tom saiu ileso e chegou em casa faminto. Ficou catatônico por uns dias –mais pelo ambiente novo, acho– e logo voltou ao normal.

    Mesmo com tudo correndo bem, não pretendo fazer isso de novo –e acho que o gato também não. Por turismo, então, nem pensar.

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