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    Folha Verão

    Praia do Cupe é saída para a superlotação de Porto de Galinhas

    SÉRGIO RODRIGUES
    COLUNISTA DA FOLHA

    29/12/2016 02h00

    Encontrei a mais perfeita fusão de céu e terra do litoral brasileiro há algum tempo, por acaso, depois que fui parar em Porto de Galinhas desavisadamente. Vale a pena falar das circunstâncias da viagem para deixar mais clara a importância do achado.

    Aconteceu que, embora eu estivesse de férias, precisava trabalhar –paradoxo que está longe de ser raro quando você é escritor. Andava pelo meio de um romance, o cronograma ia atrasado, e fiz a proposta que minha mulher, também em busca de sossego, topou. Uma praia tranquila do Nordeste em que eu pudesse escrever com o pé na areia parecia a solução.

    A escolha do destino foi um erro, mas abriu as portas para um acerto. Combinamos que começaríamos os trabalhos em Olinda antes de seguir para uma praia pernambucana qualquer. A opção por Porto de Galinhas foi quase automática. A fama do lugar parecia falar por si.

    Um minuto e meio após a chegada percebemos que a praia era o oposto do que procurávamos. Superlotada, sujinha, crivada de serviços ruins e infraestrutura precária, tinha todas as marcas típicas do balneário brasileiro estragado pela fama.

    Foi aí que demos sorte. Meio no susto, em ritmo de fuga, miramos na vizinha praia do Cupe, uma longa extensão quase reta de areia orlada de coqueiros tombados pelo vento, ao norte de Porto de Galinhas. É um daqueles lugares dos quais se costuma dizer: "Não tem nada lá". Na verdade, não faltam no Cupe opções de bons hotéis e pousadas em que os fundos –com piscina, bar, mesas com cobertura de sapê– dá para a areia, o Atlântico, a brisa.

    Optamos por uma pousada pequena e confortável. Tudo dentro das especificações, à primeira vista, mas... como as especificações foram superadas! Em minha primeira manhã de cara para o trabalho e o mar, fui surpreendido pelo pequeno número de pessoas em meu campo de visão.

    O Cupe não é uma praia deserta. É só uma praia bem comprida, com mais de quatro quilômetros de extensão, e de faixa de areia larga, meia dúzia de dezenas de metros entre a vegetação e o ponto em que as ondas quebram. Como não há por ali uma só vila ou aglomerado humano significativo além de alguns hotéis e restaurantes, o efeito é quase o mesmo. Não sendo deserta, a praia parecia só nossa. E era o auge do verão.

    A raridade disso pode ser melhor avaliada quando se pensa na vizinha praia dos Carneiros. Situada numa Área de Proteção Ambiental ao sul de Porto de Galinhas, essa, sim, tem a fama de ser uma das últimas "praias desertas" do nosso litoral –há mecanismos de controle de acesso para que continue assim. O problema é que esse título virou tiro no pé: praia deserta atrai gente à beça.

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    Hoje, para desfrutar de suas piscinas entre recifes ou comer em um de seus restaurantes carinhos, só se armando de paciência para disputar espaço às cotoveladas com uma pequena multidão.

    Enquanto isso, protegida por sua despretensão, a praia do Cupe se saiu melhor que a encomenda. E ainda nem falei da atração mais luxuosa: o prazer de caminhar na areia firme enquanto a tarde ia caindo e o filme de água deixado pelas ondas virava um espelho, duplicando os coqueiros e o céu cheio de nuvens rosadas. Coisa de maluco.

    Nunca encontrei em lugar nenhum um efeito tão impressionante de céu na terra. Tenho certeza de que o romance em que matutava naquelas caminhadas, chamado "O Drible", incorporou um pouco da magia do lugar.

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