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    Companhia aérea implanta 'lei do silêncio' em voos e revela tendência

    CHICO FELITTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO MÉXICO

    12/01/2017 02h00

    Alpino

    O avião está prestes a decolar, antes de o Sol ter começado a escalar o céu. Os comissários de bordo ensinam em cinco segundos como afivelar o cinto de segurança, apontam com ambas as mãos onde estão as saídas de emergência e somem dos corredores. Nada de comercial com animação gráfica explicando por que aquela empresa é bacana nem vídeos com cenas do destino. Só silêncio.

    Uma companhia aérea mexicana adaptou os voos que partem antes das 8h ou depois das 22h, tornando-os silenciosos. As luzes são apagadas durante voo inteiro, com exceção da hora do pouso e da decolagem, quando precisam estar acesas por motivos de segurança.

    "Os passageiros desses horários querem descansar. A gente decidiu respeitar isso", afirma Juan Carlos Zuazua, presidente da VivaAerobus. Assim como os passageiros, o mercado reagiu bem à iniciativa, assegura o executivo.

    Mas não há planos de estender a lei do silêncio para outros horários. Zuazua não respondeu se a iniciativa feriu o lucro com vendas de lanchinhos ou quinquilharias do catálogo de free shop.

    A empreitada é uma tendência no setor, na opinião de especialistas. "O dinheiro pode comprar um lugar melhor no avião, que vire uma cama. Mas não pode comprar silêncio. Ainda", avalia o turismólogo inglês David Kaley.

    Para ele, é só uma questão de tempo que o silêncio passe a ser um bem comercializável. "Hotéis que não aceitam crianças, por exemplo, vendem o silêncio, a tranquilidade. Por que aviões não podem fazer o mesmo?"

    TREM SEM BARULHO

    Ou mesmo trens. A Finlândia foi um dos primeiros países do mundo a reservar alguns vagões da linha férrea que corta o país da Lapônia (norte) até Helsinque (no sul) em que era proibido ouvir falar ao telefone ou mesmo ouvir música que vazasse dos fones de ouvido.

    O silêncio desses carros era ensurdecedor para um latino, e eles viravam ponto turístico para quem quisesse ouvir na vida real a discrição desse povo nórdico. "Foi um experimento que começou em 2005 e durou alguns anos", diz Mika Heijari, do grupo VR, que administra as estradas de ferro finlandesas.

    Mas os carros com controle de decibéis foram extintos em 2009. Não porque o conceito falhou, muito pelo contrário: o silêncio virou a regra, e foram designados alguns espaços onde é permitido fazer barulho.

    "Instalamos cabines telefônicas à prova de som para quem quiser fazer ligações." Há também na linha férrea finlandesa carros especiais para quem quiser trabalhar a bordo, com mesas e internet sem fio. "É que os finlandeses tendem a ficar em silêncio naturalmente. O barulho é uma exceção."

    Enquanto isso, no avião que deveria ser silencioso, no México, uma criança ameaça abrir o berreiro. Uma americana que viajava ao lado faz uma careta e comenta com o homem que a acompanha. "Achei que fosse proibido entrar com criança também."

    Ao que o presidente da empresa aérea responde: "Não, nunca faríamos isso".

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