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    Turismo e souvenirs baratos ameaçam antiquários de Londres

    SCOTT REYBURN
    DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

    26/01/2017 02h00

    A galeria londrina The World Famous ("a mais famosa do mundo", em inglês), localizada na Portobello Road, já não é a mesma.

    Há 20 anos, o espaço abrigava 200 comerciantes de antiguidades. Agora, é um dos oito centros comerciais controlados pelo Portobello Group, o maior grupo imobiliário da região, e vende suvenires feitos em massa.

    A transformação resume as mudanças e desafios que a rua, conhecida por seu mercado a céu aberto, em Notting Hill, vem enfrentando nos últimos anos, aprisionada entre a perda de interesse dos consumidores por antiguidades e a alta nos custos.

    A feira, que está no seu 152º ano, fica aberta sete dias por semana, e as antiguidades são tradicionalmente a atração principal no sábado.

    "O lugar serve ao turismo", disse Marion Gettleson, 70, cuja família é dona da Delehar Antiques, estabelecida desde 1919 no número 146 da Portobello Road. "Milhares de pessoas passeiam pela rua. Elas compram um café ou suvenir e vão embora."

    "Não existe controle sobre as porcarias decorativas, sobre quem vende o quê", acrescentou Gettleson, que é uma das mais vigorosas ativistas na campanha pela preservação do lugar das antiguidades na feira. "Continua a existir um núcleo de comerciantes experientes, e ainda há coisas espantosas à venda na feira", ela disse.

    Mesmo assim, mais e mais unidades de varejo vêm se dedicando a "produtos novos" como roupas de tricô escocesas, bijuterias de âmbar e suvenires temáticos londrinos.

    Em 2009, o Portobello Group, controlado pelo investidor imobiliário britânico Warren Todd, substituiu 79 comerciantes que ocupavam a Lipka's Antiques Gallery por uma filial da cadeia de moda AllSaints. Outras galerias comerciais também foram vítimas da tendência.

    Mas os turistas continuam chegando em grande número. De acordo com uma pesquisa encomendada no ano passado pela subprefeitura de Kensington e Chelsea, cerca de 5,5 milhões de pessoas visitaram Portobello Road em 2016. Cerca de 47% deles vão "só para olhar" e 15% têm interesse por antiguidades.

    "O guia 'Lonely Planet' nos falou que esse era um lugar típico de Londres", disse Fred Eral, 43, operário de indústria química em Arles, França, que estava visitando a feira pela primeira vez.

    Por volta do meio-dia, multidões fluem pela rua, em direção às barracas onde o personagem de Hugh Grant no filme "Um Lugar Chamado Notting Hill" comprava frutas. Comerciantes vendem livros de Jane Austen ao lado de barracas com capas para iPhones e bandejas de cerâmica decoradas.

    "Certamente existe um segmento que é basicamente uma armadilha para turistas", disse Mark Atkinson, diretor de desenvolvimento de mercados da subprefeitura.

    Apesar disso, ele afirmou que continua otimista quanto ao futuro da feira. "Portobello pode não ser o que foi no passado, e sua escala pode ter mudado. Mas o lugar é importante." A esperança dele está no renascimento do entusiasmo pelos produtos analógicos entre os jovens da geração milênio.

    Todd, do Portobello Group, não respondeu aos pedidos de entrevista. O filho dele, Ryan Todd, diretor executivo do Portobello Group, afirmou por e-mail que "os produtos novos são um problema".

    "Portobello é um organismo complexo", disse Ryan Todd. "Estamos comprometidos a fazer tudo que pudermos para manter sua personalidade, quando possível."

    "Está ficando mais difícil", disse Matthew Holder, 25, um dos comerciantes mais jovens na galeria Admiral Vernon, propriedade do Portobello Group e repleta de antiguidades. Mas ele afirma que jamais vai desistir do lugar. "Não quero me limitar ao Instagram e a feiras renascentistas. Gosto de chegar aqui às 5h de um sábado", ele contou. "Gosto de negociar."

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