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    Fotógrafo joga o flash sobre a faceta kitsch da indústria do turismo

    DAIGO OLIVA
    EDITOR-ADJUNTO DE IMAGEM

    06/04/2017 02h00

    Martin Parr
    A imagem do casal se bronzeando no navio é parte de um ensaio realizado em 2002
    A imagem do casal se bronzeando no navio é parte de um ensaio realizado em 2002

    Viajar num cruzeiro de luxo é tão gostoso quanto cafona. Cafonice essa que se manifesta em canudos de cores berrantes ou em jantares de traje "esporte fino" que dão direito a um retrato com o capitão do navio.

    Nessas viagens, todos parecem horrivelmente felizes em boias coloridas e cadeiras de praia, enquanto o som da aula de lambaeróbica toca em agressivos decibéis.

    É sobre essa faceta kitsch da indústria do turismo que o britânico Martin Parr se debruça há mais de três décadas, despejando ácido sulfúrico sobre corpos que buscam bronzeados à la Trump.

    Quase sempre com um flash estourado –o que dá o tom irônico de sua produção–, a fotografia de Parr, 64, registra hábitos e símbolos do consumismo, o que fez ele se tornar a principal referência na fotografia contemporânea sobre o tema.

    A visão corrosiva do artista sobre o mercado, porém, não começou nos cruzeiros ou nas piscinas artificiais japonesas, mas no balneário britânico de New Brighton.

    Martin Parr
    Passageiros posam para fotos durante um cruzeiro pelo Caribe, obra de Martin Parr
    Passageiros posam para fotos durante um cruzeiro pelo Caribe, obra de Martin Parr

    Ali, substituiu o suposto clima de diversão das pobres famílias inglesas que visitavam aquelas praias por um retrato melancólico do lugar: cheio de sujeira, de concreto e de bebês berrando.

    As imagens geraram o celebrado fotolivro "Last Resort", e desde então a praia é o seu melhor personagem.

    Foi na areia que ele fotografou aulas coletivas de ioga, sungas estampadas com a bandeira americana, costas peludas e variados estilos de bronzeado, sempre valorizando as cores berrantes de toalhas e biquínis.

    Parr, no entanto, não se limitou ao litoral. Registrou turistas que todos os dias "empurram" a torre de Pisa para fazer a irresistível recordação clichê, assim como fez imagens de viajantes em frente às pirâmides do Egito.

    Fotografou também comidas, roupas e suvenires em close, destacando sinais do cotidiano que muitas vezes passam despercebidos.

    A abordagem sarcástica do também presidente da agência Magnum já gerou críticas de quem o vê como alguém grosseiro, que observa os retratados de cima para baixo. Por baixo da piada superficial, entretanto, revela-se um observador atento do que nos rodeia.

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