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    Mulher com doença cardíaca desafia médicos para conhecer o mundo

    CAROLINA MUNIZ
    DE SÃO PAULO

    18/05/2017 02h00

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Marina Kolya no apartamento dela em São Paulo
    Marina Kolya no apartamento dela em São Paulo

    Nascida sem a artéria que liga o coração ao pulmão, a paulistana Marina Kolya, 35, cansou-se de ouvir "não" dos médicos. "Se dependesse deles, eu ficaria ligada ao cilindro de oxigênio 24 horas por dia e só sairia de casa para tomar um solzinho", afirma.

    Mesmo assim, ela não desistiu de conhecer o mundo. Há oito meses, criou um canal de viagens no YouTube, o "Não Viaja, Marina!", em parceria com o marido, Rodrigo Resende, 30.

    Por causa do problema cardíaco, Marina passou por três cirurgias e incontáveis internações ao longo da vida. Desenvolveu ainda uma hipertensão pulmonar, doença que dificulta a passagem de sangue dentro do pulmão e, assim, sobrecarrega o coração, gerando cansaço e falta de ar.

    Apesar das contraindicações médicas, Marina nunca deixou de fazer o que quis. Formou-se em pedagogia e biologia e, durante quase 13 anos, foi professora na rede pública de ensino.

    No início de 2016, porém, seu corpo mandou a conta. A sensação de cansaço aumentou, e ela chegou a desmaiar em sala de aula. Em abril, foi afastada do trabalho. "Chorei muito, mas era isso ou a minha saúde", relembra.

    Foi aí que o marido sugeriu: "Já que você está em casa, por que não faz um canal no YouTube?". Casados há seis anos, já tinham ido juntos à costa leste dos Estados Unidos em 2015 e gravado vídeos para a família e os amigos.

    Daí veio a ideia de inspirar outras pessoas com alguma dificuldade física a conhecer o mundo e também oferecer a qualquer turista sugestões de passeios e restaurantes para visitar em cada destino.

    Para Marina, andar de avião é outra desobediência às recomendações médicas. "O maior risco é a oscilação de pressão dentro da aeronave. Mas conheço meu corpo e sei até onde posso ir."

    O casal viajou para França, Chile, Uruguai, África do Sul e até Japão. "Sempre tive vontade de conhecer o país e não sabia até quando teria condições de fazer uma viagem tão longa", diz Marina.

    Cada detalhe do roteiro é planejado para que sua saúde seja preservada –a começar pelo "Arlindo", um concentrador de oxigênio portátil de cinco quilos que Resende carrega nas costas.

    Ela deve evitar caminhadas e subidas e precisa descansar pelo menos duas horas após cada refeição. "A gente vai devagar, no ritmo dela. Pegamos táxi e visitamos menos pontos que turistas 'normais', mas isso não deixa as viagens menos divertidas", afirma Resende.

    O casal posta vídeos de no máximo cinco minutos uma vez por semana. Exploram cada destino a fundo –a África do Sul, por exemplo, vai render cerca de quatro meses de publicações no canal.

    "Escolhemos mostrar lugares que não são tão conhecidos, como o café temático de 'Alice no País das Maravilhas', em Tóquio", diz Marina. Em setembro, os dois planejam ir a Portugal.

    marina

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