• Turismo

    Sunday, 05-May-2024 18:56:06 -03

    Tunísia começa a se reerguer após ataques contra turistas em 2015

    PATRICK SCOTT
    DO 'NEW YORK TIMES'

    08/06/2017 02h00

    Sami Boukef/AP
    Guardas fazem segurança em frente a resort em Sousse, na Tunísia, que foi alvo de ataque em 2015
    Guardas fazem segurança em frente a resort em Sousse, na Tunísia, que foi alvo de ataque em 2015

    No ano passado, o russo Simon Marsov, 25, viajou a Sousse (Tunísia) porque queria uma viagem internacional a preço baixo. Já o argelino Lalioui Faouzi, 26, foi até Hamamet, na costa leste da Tunísia, porque os hotéis são mais baratos do que os da Argélia, as praias são agitadas e ele não precisava de visto.

    Visitantes de Argélia e Rússia ajudaram a salvar os hotéis tunisianos de um segundo verão de resultados ruins.

    Os europeus ocidentais continuam em geral a evitar o pequeno país do norte da África, depois de dois ataques a turistas em 2015. Mas agora há sinais de que eles estão voltando, principalmente da França e da Alemanha, o que gera a esperança de que o setor se reerga neste ano.

    Ainda assim, o número de visitantes estrangeiros no país está bem abaixo dos anos de pico: 4,5 milhões em 2016 ante 6,9 milhões em 2010.

    Após crises políticas em 2011, o turismo estava se recuperando, mas os navios de cruzeiro pararam de atracar porque havia passageiros deles entre os 21 mortos por extremistas em um museu de Túnis, em março de 2015. Três meses depois, 38 banhistas -30 dos quais britânicos- foram mortos a tiros em um resort perto de Sousse.

    O Reino Unido impôs restrições, que continuam em vigor, a viagens de seus cidadãos. Outros países, entre os quais os Estados Unidos, divulgaram alertas contra visitas a certas regiões da Tunísia, como a da fronteira com a Líbia.

    "Isso foi um nocaute", lembra Zouhair Mbarek, cuja agência de viagens, a Batouta Voyages & Events, costumava organizar excursões para norte-americanos e japoneses. Suas operações continuaram em queda até o terceiro trimestre do ano passado, quando turistas chineses começaram a chegar.

    Ele brinca que, em setembro, abriu champanhe quando uma agência de viagens de Hong Kong fechou acordo para enviar sete excursões culturais nos meses seguintes.

    Desde então, ele vem recebendo grupos de 20 a 30 chineses a cada semana para conhecer cidades como Douz, à beira do Saara, e Kairouan, que abriga uma das mais sagradas mesquitas muçulmanas, na região centro-norte.

    O setor tenta também reformular o modelo de viagem. A Tunísia por décadas foi divulgada só como um destino barato para viagens de praia e excursões em grupo.

    A prioridade foi a segurança. Agora, policiais de uniforme preto e armados com fuzis ficam na entrada dos resorts e patrulham os bulevares coloniais da era francesa usando veículos blindados.

    Antes de 2015, os hotéis não tinham praticamente segurança alguma. Agora, as bagagens que chegam são revistadas, assim como os carros que passam pelos portões. Hotéis de luxo contam com detectores de metais.

    A polícia também monitora os percursos dos viajantes em lugares históricos, como as ruínas romanas na cidade de Dougga. Outra atração promovida na região é o bem preservado anfiteatro de El Jem, um dos maiores do Império Romano, inspirado pelo Coliseu de Roma.

    Páginas também foram criadas em plataformas digitais, como Twitter e Instagram, direcionadas aos mercados de países específicos, como a Argélia e a Rússia, bem como a Bélgica, que aliviou suas restrições de viagens à Tunísia.

    Os esforços para atrair os russos se mostraram produtivos, com alta de mais de 1.000% de turistas no ano passado, passando para 623 mil.

    No segundo trimestre de 2016, Abdellatif Hamam, então presidente do Departamento Nacional de Turismo da Tunísia, convidou 440 agentes de viagens russos para uma visita ao país, e os mimou em hotéis da ilha de Djerba, mostrando as novas patrulhas armadas, a fim de convencê-los a começar a organizar excursões.

    Ele foi auxiliado pelo fato de que, no final de 2015, os russos foram praticamente proibidos de visitar dois de seus destinos favoritos -Egito e Turquia-, o que criou uma oportunidade.

    A Rússia ainda não autoriza voos ao Egito, desde que um jato de passageiros russo explodiu sobre a península do Sinai, em outubro de 2015. Também proibiu voos fretados à Turquia em boa parte do ano passado, depois que um caça turco abateu um avião militar russo perto da fronteira entre a Turquia e a Síria, em novembro de 2015.

    A suspensão das restrições, no verão passado, provavelmente resultará em menos turistas russos para a Tunísia e mais visitas à Turquia, onde os preços são ainda mais baixos, conta Marsov. Ele tirou férias na Turquia há alguns anos, mas ficou tão impressionado com a Tunísia que pensa em voltar.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024