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    Mercado se mexe para receber melhor turistas transexuais

    EVERTON LOPES BATISTA
    DE SÃO PAULO

    15/06/2017 02h02

    A corrida de empresas de turismo pelo dinheiro rosa, aquele gasto pela comunidade LGBT, explora nova fronteira: viagens, hospedagens e roteiros para transexuais.

    Se os incômodos para gays e lésbicas em visitas a destinos mais populares já estão quase totalmente superados -como pedir cama de casal para dois homens ou duas mulheres-, transexuais ainda enfrentam constrangimentos específicos.

    Marcus Leoni/15.mai.2017/Folhapress
    Raquel Virgínia, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira
    Raquel Virgínia, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira

    Para Assucena Assucena, 30, e Raquel Virgínia, 28, mulheres trans e vocalistas da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, o que mais incomoda é quando hotéis não usam o nome social ou o pronome de tratamento correto.

    "É algo que diminui nossa identidade", diz Assucena.

    Marcus Leoni/15.mai.2017/Folhapress
    Assucena Assucena, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira
    Assucena Assucena, vocalista da banda As Bahias e a Cozinha Mineira

    Virgínia, que vai regularmente sozinha ao Rio e a Salvador, diz que muitas vezes foi tratada como garota de programa. "Já fiquei em hotel em que me ofereceram desconto caso eu levasse alguém para passar a noite. Não pensam que eu posso ter meu dinheiro por ser uma cantora."

    Na visão delas, as companhias aéreas são as mais bem preparadas do setor.

    "A tendência, hoje, é tratar o turismo LGBT como vários segmentos, não como um bloco só", diz Mariana Aldrigui, professora do curso de Lazer e Turismo da USP, que participou do primeiro Fórum de Turismo LGBT do Brasil, na última terça (13) no hotel Meliá Paulista, em São Paulo.

    O evento, patrocinado por empresas de turismo, promoveu painéis de discussão e também capacitação para agências de viagens.

    "Precisamos primeiro mudar internamente para depois levar a transformação ao consumidor", disse Ewerton Camarano, gerente do Novotel Jaraguá, em um dos debates.

    O hotel faz parte do grupo Accor, que distribuiu cartilha a funcionários na qual explica o que é identidade de gênero, entre outros conceitos.

    Em 2016, Fort Lauderdale, na Flórida (EUA), lançou uma campanha de turismo com modelos transexuais. A cidade, que é sede de um congresso sobre o tema, quer também se tornar o principal destino turístico para essas pessoas.

    "Antes, bastava estender uma bandeira de arco-íris para atrair as pessoas LGBT, mas é um público que está cada vez mais exigente", diz Richard Gray, diretor de turismo LGBT de Fort Lauderdale.

    Segundo Gray, o Brasil pode ter boa posição nesse mercado, mas deve investir mais na publicidade de destinos e eventos para estrangeiros.

    Para Aldrigui, no entanto, o setor vai seguir o movimento de aceitação de pessoas trans na sociedade, o que, segundo ela, deve levar dez anos. "O Brasil aparece nas estatísticas como um dos países onde mais transexuais são assassinados. Precisamos de tempo para que a sociedade os veja com naturalidade."

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