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    Trump mima hóspede com camas e lixeiras douradas em Washington

    ISABEL FLECK
    DE WASHINGTON

    22/06/2017 02h00

    Enquanto abre as cortinas apertando um botão próximo à generosa janela, o mensageiro do Trump International Hotel, em Washington, explica que foi ali, em frente ao hotel, que o então novo presidente Trump desceu do Cadillac One para percorrer um trecho do desfile de posse a pé.

    O hotel fica em um dos endereços mais prestigiados da capital americana, na avenida Pensilvânia, entre o Congresso e a Casa Branca, onde pode-se chegar em pouco mais de dez minutos de caminhada.

    O funcionário faz questão de, no trajeto da recepção ao quarto, se certificar de que o hóspede saiba que a família Trump fez um "excelente trabalho" ao transformar o Old Post Office, o antigo prédio dos correios, no hotel cinco estrelas. Segundo a imprensa americana, foram gastos mais de US$ 200 milhões na reformulação do prédio que, ironicamente, também já abrigou escritórios do FBI entre as décadas de 50 e 70.

    De fato, é preciso um certo esforço -ou a ajuda de um site de pesquisa no celular- para visualizar como a popular praça de alimentação do Old Post Office, uma das principais atrações turísticas de Washington até 2014, se tornou o suntuoso lobby do hotel.

    Hoje, os arcos de ferro que cobriam o antigo pavilhão central sustentam quatro grandes candelabros com cristais Swarovski, que servem mais como decoração diante da iluminação natural proporcionada pelo teto de vidro do átrio. Ao lado, uma enorme bandeira americana cobre quatro dos oito andares.

    Embaixo dos lustres, sofás e poltronas de veludo em tons de azul e bege recebem famílias após um longo dia de passeios e casais ávidos pelos drinques servidos no luxuoso Benjamin Bar & Lounge. Há ainda empresários, que também usam o lobby como um ponto de encontro para negócios, e delegações estrangeiras que preferem se hospedar no hotel do presidente.

    O hotel foi oficialmente inaugurado por Donald Trump duas semanas antes de ele ser eleito presidente. Na cerimônia, o bilionário não só não fez questão de dissociar o novo negócio de sua disputa pela presidência, como comparou a transformação feita no prédio às suas promessas para o país: "tornamos uma propriedade negligenciada por décadas em um grande gerador de receita e empregos".

    Desde então, o hotel tem sido um dos maiores símbolos do possível conflito de interesses entre o Trump empresário e o presidente. Antes de assumir o poder, ele cedeu o controle dos negócios aos filhos, mas se manteve como proprietário da Organização Trump.

    O prédio do hotel pertence ao governo federal, e seu contrato de aluguel –de US$ 250 mil por mês, fechado por 60 anos– proíbe que membros do governo tenham lucro sobre o espaço. Em março, a agência responsável, contudo, disse não haver violação porque os lucros não iam diretamente para o presidente.

    Nas últimas semanas, o hotel foi objeto de uma ação que dois procuradores-gerais movem contra a União por pagamentos feitos por governos estrangeiros a empresas de Trump.

    Quem se hospeda no Trump International Hotel, um dos 14 hotéis do grupo, no entanto, tem pouco a reclamar, como mostra a maioria das avaliações feitas em dois sites independentes. "O hotel do presidente é absolutamente ótimo! O prédio é muito elegante e bonito!", escreveu um cliente americano que se identificou só como Nagano num desses sites.

    O serviço é visivelmente trabalhado para ser uma das marcas do local, com hóspedes mimados pelo ritual cuidadoso do serviço de quarto.

    Os quartos mais básicos, que custam pelo menos US$ 380, têm 40 metros quadrados, cama king com detalhes talhados na madeira e pintados de dourado, uma espaçosa banheira e lustres com cristais sobre a cama (são 630 candelabros por todo o hotel) e no banheiro. Neste último, o mármore foi escolhido por uma equipe do hotel em viagem à Itália, segundo a revista das Organizações Trump disponível no quarto.

    Os detalhes em dourado estão em todo canto: nas torneiras, na lixeira, nos cabides e na privada. Assim como o nome "Trump", presente no xampu, no enxaguante bucal, no potinho com jujubas e na garrafa de vinho (os dois últimos, à venda).

    Os quartos mais exclusivos têm o valor disponível apenas sob consulta, mas a diária na suíte presidencial, de 370 metros quadrados, custa em torno de US$ 10 mil. Há ainda a Trump Townhouse –o "maior quarto de hotel em Washington", segundo o site do hotel–, um duplex com 585 metros quadrados, com massagista, chef e personal trainer 24 horas.

    Para quem não tem o serviço incluído na diária, os funcionários oferecem as massagens de US$ 225 (por 90 minutos) do Spa by Ivanka Trump, no subsolo, que também têm tratamento facial por US$ 375.

    As recepcionistas também não deixam de sugerir um passeio pela torre do prédio, a única parte que ficou fora do complexo do hotel. As más divulgação e sinalização fizeram o movimento no mirante do 12º andar cair, já que muitos turistas pensam que a torre não está mais aberta ao público após a construção do hotel.

    O visitante não paga nada para subir. Ao descer, passa pela loja de produtos Trump, estrategicamente posicionada, onde se pode comprar um confortável roupão, igual ao disponível para o uso no quarto, por US$ 175.

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