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    Quer viajar sozinho? Veja serviços e agências especializadas

    RAFAELA CARVALHO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    10/08/2017 02h00

    Eduardo Knapp/Folhapress
    A designer Celina Martins, 57, em São Paulo
    A designer Celina Martins, 57, em São Paulo

    A busca por montar a programação da viagem do jeito que bem entender e reformular tudo à sua maneira está fazendo com que brasileiros tomem coragem de fazer as malas e sair por aí completamente sozinhos.

    "É um tipo de turismo que só cresce", diz Edmar Bull, presidente da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens). "Geralmente são pessoas que adotaram essa prática como estilo de vida."

    Tanto que já surgiram agências de viagem especializadas em atender essa demanda. Em comum, todas têm um desafio: montar uma programação que garanta conforto e, ao mesmo tempo, promova a sensação de independência –sentimento tão valorizado por quem viaja só.

    Para empresas como a Single Trips, especializada no modelo, a melhor estratégia é formar grupos pequenos para cada excursão. A agência estabelece datas, monta roteiros e cuida de toda a burocracia. O comprador do pacote precisa apenas se programar para ir.

    A diretora da empresa, Renata Guedes, diz que o ideal é que cada grupo tenha no máximo 20 integrantes. Assim, o medo de estar sozinho se dissipa com as amizades. "Com essa quantidade de pessoas, não existe a formação de 'panelinhas'", explica. "A viagem flui melhor e se torna uma grande experiência compartilhada."

    Atualmente, a maior parte da clientela é formada por mulheres de 30 a 60 anos, entre solteiras, divorciadas e viúvas. Os destinos mais procurados são cidades litorâneas do Brasil, mas a agência já atende uma demanda crescente por destinos específicos como Machu Picchu, Egito, Dubai, Bonito (MS) e cidades da Amazônia.

    SEM NINGUÉM

    Mas o melhor jeito de montar a viagem à própria maneira ainda é fazer tudo por conta própria, tirando dúvidas na internet, em guias de viagem e com quem já fez roteiros semelhantes.

    No caso de Felipe Vazami, 28, o planejamento minucioso foi fundamental. O fotógrafo decidiu atravessar as Américas e chegar até o México, gastando apenas R$ 600 por mês durante dois anos.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Felipe Vazami, 28, decidiu viajar sozinho de São Paulo até o México de carona
    Felipe Vazami, 28, decidiu viajar sozinho de São Paulo até o México de carona

    Para economizar, fez a maior parte do trajeto de carona. A acomodação foi em uma barraca de camping ou na casa de algum morador que acabava conhecendo em redes sociais ou com a ajuda do site Couchsurfing, que permite a hospedagem compartilhada e gratuita em casas de moradores.

    "A tecnologia é a ferramenta mais útil para qualquer viajante solitário", diz. Seja para tirar dúvidas sobre o destino ou consultar a melhor forma de fazer a próxima parte do trajeto, ter um aparelho conectado à internet é a melhor opção.

    Vazami também percebeu que não é difícil encontrar gente disposta a ajudar e a indicar passeios. "Pessoas que eu nunca havia visto me ofereceram casa, comida, conversa e carona", conta. "Isso fez com que eu voltasse para casa com uma visão mais positiva do mundo."

    Para a designer Celina Martins, 57, pedir ajuda para moradores é parte fundamental de qualquer viagem sem companhia –e isso já começa no planejamento. "Planejar já é viajar", diz. Seu primeiro destino sem companhia foi Paris, aos 48 anos, onde foi recebida por um amigo francês que conheceu pela internet.

    Segundo ela, o uso de pacotes de viagem pode ser positivo para quem ainda sente medo de viajar só. Mas ressalta: as agências devem ser apenas o primeiro passo para ganhar experiência. "É como um 'esquenta'", afirma. "Depois de aprender como tudo funciona, dá para viajar de forma autônoma."

    A dica dela é salvar no celular mapas com todos os lugares que deseja visitar. A partir daí, tentar fazer um trajeto que passe por todos eles –mas, ao mesmo tempo, deixar as portas abertas para desvios de rota e passeios por ruas adjacentes. "O acaso é a parte mais deliciosa de viajar sozinho. Não existe graça em conhecer os grandes cartões-postais sem aproveitar o caminho até eles."

    BRASILEIRAS ESTÃO ENTRE AS QUE MAIS VIAJAM

    Sem residência fixa e viajando sozinha há três anos, a turismóloga Cris Marques, 32, refuta qualquer argumento que desencoraja mulheres a embarcar para qualquer destino sem acompanhantes.

    "É claro que os perigos existem, mas não podemos nos privar de realizar nossos sonhos por medo", afirma. Desde 2014, ela já passou por 27 países. "Não é uma questão de gênero. É apenas uma escolha pessoal."

    A brasiliense é parte de um grupo de mulheres que está crescendo ano a ano. Segundo o Ministério do Turismo, 17,8% das brasileiras farão sua próxima viagem sozinhas –entre os homens, esse índice é de 11,8%.

    De acordo com um levantamento feito pela plataforma de hospedagem Airbnb, as brasileiras estão entre as que mais fazem turismo sozinhas, ao lado de russas, japonesas e chinesas.

    "Viajar só nos coloca à frente de nossas inseguranças e incertezas", diz Marques. "E, ao compartilhar informações na internet sobre essas viagens, cria-se uma faísca para quem está buscando inspiração para fazer o mesmo", afirma.

    Foi uma dessas centelhas que despertaram a designer Celina Martins, 57. Depois de criar os filhos e encontrar estabilidade financeira, a carioca finalmente conseguiu se programar para ir à Europa pela primeira vez em 2007.

    Visitou Londres, Amsterdã, Budapeste, Berlim e Roma. Sua experiência serviu para ela entender de vez que nunca é tarde para colocar o pé na estrada.

    "Estou na melhor fase da vida para aproveitar minha própria companhia." A designer conta que, sozinha, fica mais fácil se misturar à multidão e viver a cultura local. "Ser anônimo em um lugar estranho e jantar sem dividir a mesa com ninguém é um programa absolutamente normal, delicioso e, principalmente, seguro."

    Esquecer o medo foi o grande aprendizado de Martins: "Perdi a vergonha de tirar dúvidas ou solicitar informações. Ao me abrir para o mundo, percebi que ele está repleto de pessoas dispostas a ajudar."

    Para Cris Marques, o ensinamento é o mesmo. "Você só estará sozinho se quiser", afirma.

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    VOU SOZINHO, E AGORA?
    Algumas precauções ajudam o turista solitário

    • Tenha todas as informações anotadas em um papel para o caso de a bateria do celular acabar. É bom escrever também frases básicas no idioma local, para poder se comunicar caso não o domine
    • Se não souber a língua do lugar, tenha fotos de coisas importantes no celular: remédios, produtos de primeiros socorros, destinos que quer conhecer, placa do banheiro Assim, basta mostrar a imagem que corresponde ao que está procurando
    • Faça compras em supermercados e tente cozinhar para economizar -afinal, não existe ninguém para dividir os custos
    • Deixe sempre um contato de emergência atualizado: alguém que conheça sua programação e saiba onde você está em qualquer horário. Mande mensagens ou ligue periodicamente para essa pessoa para dizer que está tudo bem
    • Não tenha vergonha de pedir ajuda. Mesmo se achar que está fazendo papel de bobo ou se a resposta for fácil. Lembre-se: é melhor pedir auxílio do que se perder e acabar entrando em alguma região que coloque em risco a sua segurança
    • Caminhe. Além de economizar no transporte, conhecer as ruas sem precisar seguir alguma programação e descobrir lugares é uma das melhores formas de explorar cada destino
    • Tenha uma mala fácil de carregar sozinho. Isso garante autonomia e independência durante toda a viagem
    • Se bater a solidão, redes de hospedagem compartilhada como Couchsurfing (couchsurfing.com) ou de carona como o Blablacar (blablacar.com.br) ajudam a economizar e a conhecer outros turistas ou moradores

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