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    Queijo feito na serra da Canastra é patrimônio cultural

    CAROLINA PINHEIRO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA SERRA DA CANASTRA

    17/08/2017 02h01

    É nas margens dos cursos d'água localizados na serra da Canastra que ficam sete municípios destacados pela produção artesanal do símbolo da região: o queijo.

    São Roque de Minas, Bambuí, Delfinópolis, Medeiros, Piumhi, Vargem Bonita e Tapiraí integram o circuito envolvendo o trabalho de 800 famílias. Elas mantêm viva uma tradição secular.

    A região atrai a atenção de visitantes de todas as partes. O queijo da serra da Canastra é patrimônio cultural e imaterial brasileiro, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Agora, com selo de origem, a marca só pode ser usada pelas propriedades dos sete municípios.

    Como o produto é artesanal, cada peça tem características singulares. O legítimo Canastra chegou ao cardápio de restaurantes paulistanos de referência gastronômica como o Maní e o D.O.M.

    O universo da produção local da iguaria inspira histórias contadas à beira do fogão. A oralidade é o canal de comunicação entre gerações, e os costumes regionais são passados de pai para filho.

    Na zona rural, o ritmo de trabalho segue o fluxo dos rebanhos. Toda porção de terra tem um casal dividindo tarefas para que o queijo chegue ao mercado.

    Os maridos ordenham a vaca, transportam e acondicionam o leite. Já as mulheres transformam a matéria-prima em peças de aproximadamente 1,2 quilo cada uma.

    Cada propriedade fabrica cerca de 15 unidades por dia. Faça chuva ou sol, a lida não para, porque a qualidade do queijo depende da constância da produção. O preço de uma peça vai de R$ 35 a R$ 70, dependendo do tipo, do tamanho e da maturação.

    Os produtores são anfitriões. Recebem turistas e levam os interessados a uma gostosa jornada de sabores. Na cozinha, na varanda de casa, na porteira da horta cultivada no quintal, qualquer canto é lugar para esticar uma prosa.

    O produtor Ivair José de Oliveira, 46, conta que teve sua dedicação compensada. "Trabalhei a vida inteira para realizar o meu sonho. Teve momentos em que quase desisti. Não é fácil essa vida, mas não existe coisa melhor. Eu e a família seguimos em frente, 365 dias por ano. Hoje, as pessoas já batem na nossa porta querendo nosso queijo. Dá vontade de chorar de felicidade. Valeu a pena a luta. O negócio é acreditar."

    O contato com a tradição local realça a experiência do viajante, que desfruta de conversas animadas pelo inseparável café, por "quitandas" (quitutes caseiros como bolo de fubá, broa de milho) e pelo queijo, é lógico. Em algumas fazendas, há espaço específico para degustação. Mas todas têm o ingrediente principal que encanta o forasteiro: o estilo da roça.

    Nada como um toque de afeto e um pedaço de queijo para tornar a viagem inesquecível.

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