• Turismo

    Thursday, 02-May-2024 08:54:45 -03

    Cidade de Amarillo, no Texas, tem trilhas e cavernas à beira de cânion

    CHICO FELITTI
    ENVIADO ESPECIAL AO TEXAS (EUA)

    24/08/2017 02h00

    Um cavalo anda pacatamente até o drive-thru da lanchonete Whataburger. O homem em cima do bicho tira as mãos da rédea, usa uma para pegar o pedido e a outra para cumprimentar a atendente, tirando o chapéu.

    A cena pode ser vista, com alguma variação, todos os dias em Amarillo, cidade de cerca de 200 mil habitantes na ponta norte do Estado do Texas (Estados Unidos). O lugar é uma meca dos cavaleiros.

    Começa com a troca de "hi" ("oi", em português) por "howdy", saudação ouvida em filmes de bangue-bangue e até na boca de Woody, herói da franquia de animação "Toy Story". Quase todo mundo tem um cavalo (o museu American Quarter Horse Hall of Fame é dedicado só ao quarto de milha), e estima-se haver uma arma para cada 15 pessoas -o Texas tem 1 milhão de registros ativos de armas, para cerca de 28 milhões de habitantes.

    É em Amarillo que fica a Oliver Saddle Shop, ateliê de couro de renome mundial, onde uma sela custa, por baixo, US$ 5.000 (mais de R$ 15 mil) e leva um ano para ficar pronta. "Já fiz bastante coisa para brasileiros", diz o patriarca, Richard Oliver. E também para presidentes.

    Oliver é fornecedor informal da Casa Branca. Fez selas para George Bush pai, George Bush filho e agora trabalha em uma para Donald Trump. "Nem pensei em fazer uma para Obama", afirma ele, que nasceu e cresceu no condado, onde Trump teve quatro vezes mais votos que Hillary Clinton em 2016.

    Há até atração turística emulando como comiam os caubóis. O restaurante mais conhecido é o Big Texan, uma espécie de Frango Assado local (só que servindo boi). O lugar é mais conhecido por um desafio glutão do que pela comida: quem comer dois quilos de carne em menos de uma hora sai sem pagar.

    O desafiante se ajeita numa mesa que fica no palco e, enquanto centenas de comensais dão conta de bifes locais, o corajoso encara cortes monstruosos. Se ganhar, comeu de graça. Se perder, paga US$ 72, "mas pode levar as sobras para casa".

    Quando alguém pergunta por que estava fazendo aquilo, o estudante de 18 anos William White responde de bate-pronto: "Por que não?". Meia hora depois, ele tinha perdido o desafio, mas saiu sob aplausos da plateia.

    HORA DA MONTARIA

    Ginetes de primeira viagem podem começar a montaria por ali mesmo. O rancho Cowgirls & Cowboys in The West, comandado só por mulheres, oferece, por US$ 69 (cerca de R$ 220), um passeio de cavalo de uma hora pela beirada do cânion sob os cuidados de Phyllis Nickum, uma amazona simpática de 50 anos.

    O cânion é Palo Duro, o segundo maior do país -perde para o Grand Canyon, mas não faz feio. Além da vista das suas beiradas, é possível descer até o leito, por uma trilha ou de carro, e explorar cavernas e o rio Texas, um dos poucos a cortar a aridez da paisagem. Mas viajantes entre junho e agosto dificilmente poderão aproveitar as caminhadas, já que a temperatura bate os 40º C com frequência.

    Além dos equinos, carros são uma obsessão local, que começa com o Cadillac Ranch, uma instalação artística feita em 1974 pelo coletivo artístico Ant Farm. Os artistas fincaram dez Cadillacs no solo do deserto e deixaram as carcaças dos carros por lá, à mercê da natureza e da destruição -visitantes são incentivados a levar tinta em spray e pichar os automóveis.

    A dois minutos dirigindo (todas as distâncias aqui são percorridas de carro), está um monumento que homenageia uma instituição desse pedaço de América. A estátua de um caubói tem cinco metros de altura e celebra o direito de portar armas nos EUA.

    Os amantes da estrada podem ir ao Bill's Backyard Classics, uma coleção de 170 carros entre Mustangs, Cadillacs e outros clássicos preservados pela fortuna do dono, criador de mais de 20 geringonças agrícolas. Outro ponto turístico do universo automotivo é o RV Museum, um museu no fundo de uma loja de autopeças que exibe trailers, motorhomes e outras casas sobre rodas.

    Se o viajante tiver tempo e paciência, vale a visita ao musical "Texas!", que é encenado ao ar livre no cânion e está em cartaz há 51 anos. O show de três horas (ingressos de R$ 50 a R$ 100) conta a história da colonização daquelas terras -contam-se nos dedos de uma mão os indígenas e negros no palco. Ao final, crianças vestidas com a bandeira americana colhem aplausos, sob a luz de fogos de artifício, que brilha nas lágrimas dos olhos da plateia.

    Mapa - Texas, EUA

    PROBLEMA É TER SÓ DOIS DIAS PARA VISITAR HOUSTON

    Houston, nós temos um problema: há mais coisa para fazer na maior cidade do Texas do que um fim de semana permite. O lugar é um polo científico, lar da Nasa (daí a frase que todo astronauta com problemas profere para a central) e nos últimos anos desenvolveu uma cena cultural e gastronômica comparável às cidades mais cosmopolitas americanas.

    A atração mais peculiar do lugar ainda é o centro da agência espacial americana. O ingresso para conhecer o espaço custa cerca de R$ 100 e dá direito a ver ao menos cinco mostras diferentes. Além da memorabilia de missões passadas, como o módulo da Apollo 17 e um Boeing 747 adaptado que carregava naves espaciais para as estações de lançamento, visitantes podem andar por uma projeção da superfície de Marte em 4D.

    Depois de um dia sob o sol no centro espacial, pode-se ir a uma churrascaria Rudy's BBQ, uma das redes prediletas do Texas, que serve costelas e vende um molho secreto idolatrado por locais.

    Além da ciência, Houston oferece arte a rodo. O centro da cidade tem uma versão em miniatura do paredão de museus Smithsonian, em Washington: são dez espalhados por poucos quarteirões (quase todos pagos), com uma oferta que vai de arte contemporânea a arte para crianças.

    O Health Museum, que tem um coração gigante e um intestino grosso pelo qual se pode esgueirar, foi sede de uma mostra da artista brasileira Angélica Dass, que fotografou pessoas aleatórias em todo mundo para criar uma escala de tons de pele inspirada na escala Pantone. Ali do lado fica o Museu de História Natural, com dinossauros e uma coleção de animais empalhados.

    A cisterna do parque Buffalo Bayou, um dos principais da cidade, recebe com frequência obras de arte feitas para sua arquitetura. No primeiro semestre deste ano, a artista venezuelana Magdalena Fernández fez chover dentro do lugar.

    O turista só não deve esperar ver caubóis circulando por Houston. As pessoas de lá não têm sotaque de texano pronunciado, como em Dallas -ou na novelona "Dallas", que fez sucesso na Brasil na década de 1980.
    É mais provável ouvir a cadência dos latinos, que compõem um quarto da população local.

    A identidade mexicana é comemorada no restaurante mais famoso na cidade, o Xochi, do chef Hugo Ortega, que serve para a elite pratos mexicanos, como o queijo com trio de insetos (grilos, gusanos e formigas). (CF)

    O jornalista viajou a convite dos órgãos de turismo do Texas e de Amarillo

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024