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    No interior de SP, cidade natal de Portinari conserva suas obras

    JÚLIA ZAREMBA
    ENVIADA ESPECIAL A BRODOWSKI

    07/09/2017 02h00

    Brodowski é uma típica cidade do interior de São Paulo, com praça, coreto, igrejinha e nenhum prédio. Mas uma peculiaridade é capaz de levar paulistanos a encarar mais de 300 quilômetros de estrada para conhecê-la: nasceu ali o artista plástico Candido Portinari (1903-1962).

    "Aqui, é possível entender a essência da arte dele. Foi em Brodowski que ele se descobriu artista", diz Angelica Fabbri, diretora do Museu Casa de Portinari, localizado na casa em que ele viveu na infância e aonde sempre retornava para se inspirar.

    Inaugurado em 1970, o museu é parada obrigatória para turistas e admiradores do pintor que vão ao município de cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE. Suas paredes abrigam 22 obras, entre afrescos e murais a seco -19 de Portinari e três de amigos.

    Em 2014, um novo afresco foi descoberto ali. A partir de um pontinho na parede, restauradores chegaram à pintura "Madona com Menino Jesus". A autoria de Portinari foi confirmada por peritos.
    "Foi na casa que ele se debruçou sobre a técnica de pintura mural, deixando registrada a sua presença artística", observa Fabbri.

    A história do pintor também é contada aos visitantes por meio de jogos interativos, uma linha do tempo e roupas que ele usava quando adulto. A entrada no espaço, que pertence ao governo estadual e recebe cerca de 4.000 visitantes por mês, é gratuita.

    O museu é ainda ponto de partida do passeio "Caminhos de Portinari", que continua por outros cinco lugares de Brodowski que fizeram parte da vida do artista: praça Candido Portinari, igreja de Santo Antônio, coreto Lauro J. Almeida Pinto, antiga estação ferroviária e bebedouro público de animais.

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    Segundo levantamento do museu, a cidade e seus moradores inspiraram mais de 70 obras do artista. É o caso das pinturas "Casamento na Roça", de 1944, "Noite em Brodowski", de 1955, e "Futebol em Brodowski", de 1958.

    Na igreja, há ainda uma tela de santo Antônio de dois metros pintada em 1942 por Portinari, que não pôde ser transferida a seu pedido.

    Para percorrer todos os lugares, próximos uns dos outros, leva-se em torno de 20 minutos. O caminho é indicado por meio de pegadas pintadas no asfalto. Ou seja, o risco de se perder é mínimo.

    No trajeto, há ainda painéis a céu aberto de outros artistas, pintados uma vez ao ano há mais de 30 anos, numa ação do museu. "Acreditamos que, ao levar a arte para o espaço urbano, são criadas oportunidades para artistas e para o público, que vai desfrutar disso", diz Fabbri.

    No 104° aniversário da cidade, comemorado em 22 de agosto, começou um processo de revitalização de três pontos turísticos -a estação ferroviária, o coreto e o bebedouro- por meio de uma parceria entre a prefeitura, o museu e a marca de tintas Coral.

    A proposta é pintá-los com cores semelhantes às originais, definidas após pesquisas lideradas pelo especialista em restauração e consultor do Museu Casa de Portinari Júlio Moraes. As pegadas no chão, desbotadas, também ganharão novos tons.

    "A renovação dará mais vida à cidade. Pintura desbotada não chama a atenção", diz a professora aposentada Ana Graça Mazucato, 69. A aposentada Alice Caridade, 91, também defende a preservação dos espaços. "São as coisas mais ricas que ainda temos. Outras coisas do passado, como dois cinemas e um colégio, foram demolidas."

    Outra novidade para a região está em processo de gestação: o memorial Candido Portinari, projetado por Oscar Niemeyer em 2002, que deve ser construído na fazenda em que o artista viveu.

    O prefeito de Brodowski, José Luiz Perez (PSDB), diz que empresários do Rio Grande do Sul buscam viabilizar o projeto por meio da Lei Rouanet. "Em breve, eles vão procurar multinacionais e bancos para levantar os R$ 20 milhões para a construção."

    A jornalista viajou a convite da Coral

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