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    Friday, 19-Apr-2024 09:51:06 -03

    Fragmentação deixa 70% das florestas sob ameaça, aponta estudo

    Está cada vez mais difícil ficar perdido na mata. Se uma pessoa for jogada num ponto aleatório em qualquer floresta do mundo, ela terá 70% de chance de conseguir sair da vegetação fechada andando menos de um quilômetro.

    O número saiu de um estudo que compilou os mapas de fragmentação dos principais biomas do planeta e os experimentos sobre o que acontece nas bordas das florestas, onde a influência humana é ameaça à biodiversidade.

    O problema dos pedaços isolados de floresta é que, quando são muito pequenos, não acomodam uma população mínima de certas espécies de animais ou plantas. Apesar de não serem contados como desmatamento, bordas de biomas podem perder de 13% a 75% de sua biodiversidade original.

    "Um fragmento pequeno pode não conter número suficiente de indivíduos de uma espécie para que haja reprodução e manutenção da população", afirma Clinton Jenkins, do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), coautor do estudo publicado na revista "Science Advances". O trabalho foi liderado por Nick Haddad, da Universidade do Estado da Carolina do Norte.

    Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress

    Florestas tropicais intocadas tinham tipicamente 90% da área fora da zona de risco, situadas perto dos limites do ecossistema. Na Amazônia, esse número se reduziu para 75%, o que significa que ela ainda está em áreas relativamente contínuas, comparada à média mundial. Mas a mata atlântica, que foi quase toda destruída, só 9% das áreas remanescentes estão a mais de 1 km de distância da influência humana.

    Na África subsaariana, praticamente metade da floresta que resta está em fragmentos, e no Sudeste Asiático, onde uma parte significativa das florestas fica em ilhas, a área vulnerável é grande.

    O limite de 1 km não foi escolhido arbitrariamente. Experimentos longos como o Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, operando desde 1979 no Amazonas, mostram que é nas bordas que ocorrem coisas como invasão de espécies, colapso do microclima e mudanças na composição de plantas. Nesse cenário, "a tendência geral é que o número de espécies presentes se reduza", diz Jenkins. Essa redução porém, não é linear.

    DÍVIDA DE EXTINÇÕES

    "Se você reduz pela metade o tamanho do de um fragmento de floresta, você reduz em cerca de 10% o número de espécies", explica o ecólogo. "Se você corta 90% de uma floresta você perde metade das espécies, e para os 10% restantes, cada pedacinho que você corta tem um impacto maior na biodiversidade."

    Experimentos indicam, porém, que populações de alguns animais e plantas demoram a sumir, e muitos fragmentos florestais ainda tem uma "dívida de extinções".

    "Se restaram dois papagaios dentro de um pedaço de floresta, eles podem viver por muito tempo, mas isso não significa que eles poderão ampliar sua população", diz o biólogo americano.

    A demora no pagamento da dívida de extinções sinaliza que ainda há tempo para salvar algumas criaturas dentro de pequenos fragmentos. Isso requer reflorestamento ou deixar que essas áreas sejam recolonizadas por mata secundária, o que é lento, caro e incerto.

    A preservação de grandes fragmentos que já existem é, portanto, prioritária. Mas o Código Florestal, a legislação brasileira sobre cobertura vegetal, não favorece isso nem em sua encarnação antiga nem na nova versão, vigente a partir de 2013.

    "A lei brasileira se concentra em um percentual de floresta que deve ser preservado em dada propriedade, mas às vezes isso resulta em pedaços isolados de floresta", diz Jenkins. "Não existe muito incentivo para proteger floresta que já esteja conectada a outras florestas, em vez de proteger a área mais fácil."

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