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    Friday, 26-Apr-2024 01:56:29 -03

    Al Gore investe em projetos verdes

    Al Gore quer provar um argumento sobre os telefones celulares, e para isso é muito útil o conjunto de slides que ele guarda em seu laptop. "Quer ver?", pergunta, enquanto vira o MacBook. "Não leva nem duas horas, não se preocupe."

    Faz muito tempo que Gore domina os gestos autodepreciativos que avisam que ele sabe o que você está pensando. E aí ele exibe os slides do mesmo jeito.

    Os slides são ótimos para Gore, ex-vice-presidente e quase presidente dos Estados Unidos, ativista ambiental e agora um bem-sucedido investidor em projetos "verdes".

    Joe Buglewicz/The New York Times
    Al Gore diz estar contente com a reação do mundo aos seus avisos sobre mudança climática
    Al Gore diz estar contente com a reação do mundo aos seus avisos sobre mudança climática

    Sua apresentação de slides sobre a ameaça da mudança climática, apresentada no filme "Uma Verdade Inconveniente", ganhou um Oscar. Seus esforços de conscientização sobre o aquecimento global lhe valeram o Nobel da Paz, em conjunto com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da ONU.

    Ao longo do último ano, porém, o profeta da desgraça se tornou muito mais um profeta da possibilidade –e até, talvez, um otimista.

    Apesar de ainda ser alvo de escárnio da direita política, Gore tem visto aumentar o apoio aos seus pontos de vista dentro da comunidade empresarial: o investimento em fontes energéticas renováveis, como a eólica e a solar, está crescendo rapidamente, enquanto seus custos despencam.

    Especialistas previram em 2000 que a energia eólica chegaria a 30 gigawatts no mundo todo. Mas, em 2010, a capacidade instalada já era de 200 gigawatts, e no ano passado chegou a quase 370, ou quase 12 vezes a estimativa inicial. As previsões de 2002 indicavam que a capacidade instalada da energia solar cresceria à razão de 1 gigawatt por ano por volta de 2010. Mas o ritmo real em 2010 superou a previsão em 17 vezes e em 48 vezes no ano passado.

    "Acho que a maioria das pessoas se surpreendeu, e até se chocou, com a rapidez com que o custo baixou", diz Gore no seu escritório em Nashville.

    Durante uma hora e meia, ele apresenta um fluxo interminável de fatos e tendências vindos de todo o planeta. A cada minuto, em Bangladesh, duas casas ganham painéis solares. A estatal de eletricidade de Dubai aceitou uma oferta para a construção de uma usina de energia solar a um custo inferior a US$ 0,06 por quilowatt-hora. "Uau", diz ele, com os olhos arregalados. "Isso deixou todo mundo alvoroçado."

    Essas mudanças, diz ele, representam uma ruptura com o passado, não uma lenta evolução. Esse é o argumento dos slides em seu laptop. Em 1980, segundo um dos slides, consultores da AT & T estimaram que 900 mil celulares seriam vendidos até 2000. Na verdade, foram 109 milhões. Hoje, há cerca de 7 bilhões desses aparelhos. "Então a questão é: por que eles estavam não apenas errados, mas muito errados?"

    O mesmo ocorre agora com a energia, argumenta, pois a nova tecnologia estaria ultrapassando a velha infraestrutura. Tudo isso significa, diz Gore, que os piores efeitos da mudança climática podem ser enfraquecidos.

    Gore continua a espalhar a palavra. Em fevereiro, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ao final de uma palestra otimista sobre as alterações climáticas, ele e o cantor Pharrell Williams anunciaram um concerto Live Earth, a ser realizado em todos os sete continentes no dia 18 de junho.

    Ele já se reuniu com grandes organizações na Austrália, na Indonésia, no Brasil, na Índia e em outros países para apresentar versões locais do seu slide show sobre mudanças climáticas. Os participantes, por sua vez, repetem essa apresentação aos seus compatriotas, difundindo amplamente sua mensagem.

    Gore também ficou muito rico.

    Ele foi um dos criadores da empresa Generation Investment Management, que compra ações de empresas geridas segundo princípios de sustentabilidade, incluindo os efeitos climáticos que provoca. Também participa do conselho da empresa de capital de risco Kleiner Perkins Caufield & Byers, que investe fortemente em start-ups "verdes".

    O senador James Inhofe, republicano de Oklahoma, que chama a mudança climática de "o maior boato que existe", agora comanda a Comissão de Meio Ambiente e Obras Públicas do Senado.

    Ao responder a pergunta sobre o que pensa de Gore, o senador emitiu uma longa diatribe contra a "campanha alarmista" do ex-vice-presidente.

    Por intermédio de uma porta-voz, ele disse que "a imensa riqueza de Al Gore se deve em grande parte à sua promoção descarada e incessante da pauta liberal do aquecimento global".

    Em resposta, Gore diz que "a realidade da crise climática é avassaladora, e cada vez mais gente a vê e a sente a cada dia".

    Grande parte dos lucros que recebe, diz Al Gore, tem como destino sua ONG, chamada Projeto Realidade Climática.

    "Nunca imaginei, quando era mais jovem, que isso se tornaria o principal foco da minha vida", afirma ele. "Mas, uma vez que você assume esse desafio, não pode se desfazer dele. Eu não posso. Não quero".

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