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    COP23

    Conferência do Clima da ONU alerta para recordes de desastres climáticos

    ANA CAROLINA AMARAL
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BONN (ALEMANHA)

    07/11/2017 02h05

    O planeta está batendo recordes seguidos das maiores temperaturas da história, de aumento do nível do mar, do número de tempestades, secas, inundações, incêndios, furacões e ciclones.

    É o que afirma o relatório apresentado na plenária de abertura da COP-23, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece até o final da próxima semana em Bonn, na Alemanha.

    O documento da OMM (Organização Meteorológica Mundial) –agência da ONU para questões de clima, tempo e água- compila dados de diversas agências sobre a ocorrência de eventos climáticos extremos no mundo e revela um 2017 de recordes absolutos na frequência e na intensidade desses fenômenos.

    O aumento da ocorrência de eventos extremos acompanha a curva de crescimento das emissões de gases-estufa e do aumento da média de temperatura global, como mostra o relatório.

    De 2015 a 2016, a taxa de emissões de gases-estufa foi a maior já registrada, chegando a um total de 403,3 partes por milhão na atmosfera. Já a média de cinco anos, de 2013 a 2017, é 1,03°C acima do período pré-industrial e também a mais quente já registrada.

    O nível do mar, no entanto, está retornando a valores mais próximos da tendência de longo prazo, depois de um pico em 2016 com aumento de 10 mm acima da média da última década -influenciada pelo último El Niño.

    Os oceanos seguem, mesmo assim, entre as três maiores médias de temperatura já registradas, o que vem aumentando a destruição de corais e a acidificação das águas. As geleiras do Ártico e da Antártica também batem recordes negativos: as cinco extensões máximas mais baixas ocorreram de 2006 para cá.

    EVENTOS EXTREMOS

    COP23

    Secas e tempestades aparecem no relatório da OMM como os eventos extremos com mais danos calculados. Na China, as perdas pela inundação na bacia do rio Yangtze, em 2017, somaram U$ 5 bilhões e 56 mortes.

    Em Bangladesh, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de 13 mil casos de doenças transmitidas pela água e infecções respiratórias foram relatados durante as ocorrências de tempestades com inundações e deslizamentos de terra neste ano.

    Fortes chuvas também causaram desastres em Serroa Leoa, Colômbia, Nepal, Índia, Peru e Inglaterra. Entre outros recordes, o último inverno nos EUA foi o mais chuvoso registrado para Nevada e o segundo mais úmido para a Califórnia.

    Já a severidade das secas castiga com mais danos os países mais pobres.

    Com os rebanhos reduzidos em até 60% desde dezembro de 2016, a Somália tem hoje o dobro de pessoas à beira da fome: já são mais de 800 mil afetadas pelos prejuízos na agricultura e a redução de rebanhos, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU.

    As ondas de calor também chegaram a novos limites, passando de 54°C em vários locais do Oriente Médio e chegando a 43,5°C em janeiro em Puerto Madryn, na Argentina -a maior temperatura já registrado tão ao sul da Terra.

    Os dados da OMM também mostram que o calor extremo e a seca contribuíram para incêndios florestais destrutivos recentes no Chile, Brasil, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Portugal, Espanha, Croácia, Itália e França.

    Mas o extremo mais impressionante foi a série de furacões neste ano no Atlântico Norte.

    Foi a primeira vez que dois furacões da Categoria 4 (Harvey e Irma) atingiram a terra no mesmo ano nos EUA. Irma teve ventos de 300 km/h por 37 horas -o mais longo no registro de satélite naquela intensidade, tendo passado três dias consecutivos como um furacão de Categoria 5, também o mais longo registrado.

    Maria também atingiu a categoria 5 e causou grandes destruições. Para a OMM, "é provável que a mudança climática induzida pelo ser humano torne as taxas de precipitação mais intensas e que o aumento contínuo do nível do mar exacerbem os impactos das ondas de tempestade."

    NEGOCIAÇÃO

    É a primeira vez que um pequeno país insular preside a COP do Clima: Fiji, uma das ilhas mais vulneráveis à mudança climática, conduz as negociações da COP-23, que acontece na Alemanha por falta de condição de Fiji receber seus participantes. A ilha, que corre risco de extinção, podendo ficar totalmente submersa, foi devastada no ano passado pelo ciclone Winston, que matou 44 pessoas e destruiu um terço do PIB do país.

    Com as negociações conduzidas pelos que mais dependem do seu sucesso, a expectativa é que o mecanismo de perdas e danos e as finanças para a adaptação aos impactos das mudanças climáticas ganhem maior importância na mesa.

    Apesar da situação de vulnerabilidade, a presidência de Fiji pretende conduzir a COP com o que esse país chama de "Espírito Bula": com inclusão, simpatia e solidariedade. "Não se trata de apontar o dedo e culpar, mas de ouvir e aprender uns com os outros, compartilhar histórias, habilidades e experiências".

    "Ao se concentrar nos benefícios da ação, esse processo movimentará a agenda global do clima", afirmou à imprensa o presidente da COP-23 e primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama.

    Para o climatologista da USP Paulo Artaxo, a presidência de Fiji bate em uma tecla fundamental para o funcionamento do Acordo de Paris. "Mecanismos de compensação e transferência de tecnologia precisam sair de baixo da mesa para o centro da negociação", afirma.

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    Perguntas e Respostas

    O que está em jogo

    O que é a COP-23?
    A 23ª conferência das partes da Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas é um encontro internacional que tem o objetivo de discutir medidas para desacelerar o aquecimento global. O país-anfitrião é Fiji, mas o evento acontece em Bonn, na Alemanha, até o dia 17 de novembro.

    Por que Bonn?
    Embora Fiji esteja presidindo politicamente a conferência, o país não tem estrutura para receber as delegações. Por isso, a Alemanha se comprometeu a sediar a COP-23.

    Quem participa?
    Cerca de 25 mil pessoas estarão presentes na COP-23. Entre eles os integrantes das delegações de 195 países, além de lobistas, cientistas e ambientalistas.

    O que será discutido?
    O principal objetivo é definir regras para o cumprimento do Acordo de Paris. A ideia é detalhar como serão atingidas as metas de redução do aquecimento global estabelecidas pelo documento, e determinar parâmetros de fiscalização do desempenho dos países.

    O que é o Acordo de Paris?
    O documento foi assinado por 195 partes durante a COP-21, em 2015. Na ocasião, foi firmado o compromisso de limitar o aumento na temperatura média global em menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais, com intenção de não ultrapassar 1,5ºC.

    O que esperar dos EUA na COP-23?
    Em junho, o presidente americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos deixarão o Acordo de Paris. Ainda assim, a delegação americana deve participar ativamente nas negociações sobre a implementação do acordo.

    Segundo país que mais polui no mundo, atrás apenas da China, os EUA só poderão abandonar o tratado em 2020.

    E do Brasil?
    A comitiva brasileira chega à COP-23 pressionada pelo crescimento do desmatamento da Amazônia nos últimos anos e o aumento de 9% nas emissões de gases de efeito estufa em 2016.

    A delegação encabeçada pelo ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney (PV-MA), realizará debates sobre desmatamento e buscará captar recursos internacionais para preservação ambiental.

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    OS RECORDES QUE BATERAM EM NÓS
    Os eventos climáticos extremos cresceram exponencialmente na última década

    Aumento das emissões

    De 2015 a 2016, a taxa de emissões de gases-estufa foi a maior já registrada, atingindo um total de 403,3 partes por milhão na atmosfera

    Temperatura global

    As temperaturas em 2015 e 2016 foram impulsionadas por um El Niño excepcionalmente forte. Mas 2017 é o ano mais quente registrado sem uma influência de El Niño. A média de cinco anos entre 2013 e 2017 é 1,03°C acima do período pré-industrial e também o período mais quente já registrado

    Oceanos revoltos

    Com o aumento da temperatura média da água do mar, crescem o branqueamento de corais e a acidificação das águas. O nível do mar, no entanto, está voltando a valores próximos da tendência de longo prazo, depois de um pico em 2016 com aumento de 10mm acima da tendência da última década, motivada pelo El Niño

    Derretimento dos polos

    A extensão do gelo do mar do Ártico bateu recordes de baixa nos primeiros quatro meses de 2017. As cinco extensões máximas mais baixas da história ocorreram de 2006 para cá. A extensão do gelo do mar da Antártida também foi bem abaixo da média e próxima ao recorde negativo. As condições de gelo do mar na Antártida têm sido altamente variáveis ao longo dos últimos anos

    Ondas de calor

    Uma onda de calor extrema afetou Chile e Argentina em janeiro, quando diversos locais atingiram suas temperaturas recordes na história. O sudoeste asiático foi atingido em maio, com temperaturas chegando a 54ºC em Turbat, no Paquistão. O Mediterrâneo também experimentou uma onda de calor em julho, com 46,9ºC em Córdoba, na Espanha. Em agosto, foi a vez de Itália, Croácia e França experimentarem ondas de calor

    Ciclones tropicais

    Foi a primeira vez que dois furacões da Categoria 4 (Harvey e Irma) atingiram a terra no mesmo ano nos EUA. Em outubro, Ophelia alcançou seu ápice (categoria 3) a mais de 1.000 km além do nordeste do que qualquer outro furacão do Atlântico Norte. Isso causou danos na Irlanda, enquanto os ventos associados à sua circulação contribuíram para incêndios em Portugal e Espanha

    Secas

    A África Oriental foi atingida por severas secas em 2016 e 2017. Na Somália, por exemplo, mais da metade da área de cultivo foi afetada. No Mediterrâneo, diversas regiões também sofreram com as secas. A mais intensa aconteceu na Itália, onde a produção de azeite caiu 62% em 2017, em comparação ao ano anterior

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