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    Tráfico de fósseis leva 50% de tesouro do Araripe

    REINALDO JOSÉ LOPES
    ENVIADO AO RIO

    25/07/2010 20h25

    Pesquisadores acabam de mapear o tamanho do estrago que o comércio ilegal de fósseis na bacia do Araripe, no Nordeste, já causou à ciência brasileira.

    Das 41 espécies de vertebrados terrestres extintos já descobertas no Araripe, 21 têm seus exemplares de referência armazenados em museus do exterior. Ou seja, cientistas do país precisam ir para a Europa, os Estados Unidos e o Japão para poder estudar tais bichos direito.

    MarkWitton/Divulgação
    Pterossauro do Araripe; hoje, fóssil está no Reino Unido
    Pterossauro do Araripe; hoje, fóssil está no Reino Unido

    O caso é ainda mais grave no caso dos pterossauros, répteis voadores que são o símbolo da riqueza fóssil do Araripe. De 24 espécies descobertas, 14 têm seus exemplares de referência (os ditos holótipos) no exterior.

    Cada novo trabalho sobre um fóssil, principalmente quando se quer entender as relações de parentesco entre os seres vivos, envolve a comparação com os holótipos. "O custo disso para o cientista brasileiro nesses casos é algo muito sério", diz um dos autores do estudo, Felipe Augusto Correa Monteiro, mestrando da Universidade Federal do Ceará.

    Mais complicado ainda: no caso do tráfico de fósseis do Araripe, o que é vendido ilegalmente para museus e colecionadores estrangeiros "é sempre o material com melhor estado de preservação", afirma outro membro do grupo, Felipe Lima Pinheiro, mestrando da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

    No caso do Araripe, essa preservação pode chegar a níveis espetaculares, revelando tecidos moles (pele e até vasos sanguíneos dos bichos de 100 milhões de anos). "É o material que acaba dando capa da "Nature" e da "Science" para o paleontólogo", diz Marcos Fontenele Sales, da Universidade Federal do Ceará, referindo-se às duas principais revistas científicas do mundo.

    Embora o número de holótipos surrupiados tenha sido mapeado só agora, a situação já é conhecida há anos. Para os pesquisadores, o único jeito de contorná-la é dar alternativas de renda à população pobre da área, que hoje repassa os fósseis a atravessadores por uma ninharia.

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