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    Camundongo perde pele para distrair predador, diz estudo

    RICARDO BONALUME NETO
    DE SÃO PAULO

    02/10/2012 11h56

    Lagartixas perdem suas caudas para escapar de predadores, mas as caudas se regeneram; salamandras fazem o mesmo até com membros. Essa capacidade de "autoamputação" era considerada exclusiva de répteis e anfíbios e outros animais, como crustáceos, com exceção dos mamíferos; mas agora uma equipe de pesquisadores demonstrou um fenômeno parecido em um camundongo africano.

    Os camundongos espinhosos do gênero Acomys (foram estudados o Acomys kempi e o Acomys percivali) podem perder uma boa parte da pele e dos pêlos, que lembram espinhos, se atacados por um predador, e regenerar a perda rapidamente. É a primeira demonstração dessa "autoamputação", ou "autotomia", da pele em mamíferos, afirmam os autores em estudo na revista científica britânica "Nature".

    Ashley Seifert
    O camundongo africano Acomys percivali
    O camundongo africano "Acomys percivali"

    E não se trata de mera curiosidade científica. O método pelo qual eles perdem pele e pêlos e regeneram a perda poderá dar boas pistas para a regeneração de tecidos em outros mamíferos, como o ser humano, algo muito limitado no momento.

    O estudo foi liderado por Ashley Seifert, da Universidade da Flórida em Gainesville, EUA. Os camundongos africanos foram coletados no Quênia. Os experimentos envolveram comparações com camundongos comuns, do gênero Mus.

    Foram retirados pedaços da pele do dorso dos animais e também feitos furos nas orelhas (com os bichos devidamente anestesiados, claro). Também foram estudadas feridas ocorridas previamente na natureza.

    A pele do camundongo comum do gênero Mus se revelou vinte vezes mais resistente que a do Acomys. Foi preciso 77 vezes mais energia para quebrar a pele do Mus.

    Já a orelha do Mus criou cicatriz, enquanto a do seu primo africano se regenerou completamente -- tanto a cartilagem quanto os folículos dos pêlos e as glândulas sebáceas.

    As diferenças bioquímicas entre os processos de cicatrização ou regeneração entre os dois roedores podem dar pistas sobre como tratar feridas em seres humanos. Por exemplo, já se notou diferentes proporções de duas formas de uma proteína, o colágeno, em torno dos ferimentos.

    Estudos futuros com esse bicho exótico, dizem os autores do estudo, poderão mostrar como a regeneração e a cicatrização podem ser balanceadas em contraste com processos como infecção e inflamação.

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