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    Ameríndios e siberianos têm raiz linguística comum

    NICHOLAS WADE
    DO "NEW YORK TIMES"

    01/04/2014 02h50

    Usando um novo método para investigar antigas relações entre línguas, linguistas acharam provas que esclarecem melhor o povoamento da América do Norte há cerca de 14 mil anos.

    Suas descobertas seguem uma teoria recente de que antepassados de ameríndios viveram por 15 mil anos em uma planície hoje submersa antes de chegar à América do Norte.

    Essa ideia tem sido desenvolvida por geneticistas e arqueólogos nos últimos sete anos. Segundo essa hipótese, os antepassados de ameríndios só passaram pela ponte terrestre gelada que ligava a Sibéria ao Alasca no final da última Era do Gelo, 10 mil anos atrás. Geneticistas dizem que esses antepassados devem ter vivido isolados por cerca de 15 mil anos para acumular as mutações de DNA hoje encontradas especificamente em ameríndios.

    Pelo exame de partes profundas do oceano no estreito de Bering, arqueólogos acreditam que ali existiu um bioma especial de tundra de arbustos durante o Último Máximo Glacial, período excepcionalmente frio ocorrido entre 30 mil e 15 mil anos atrás. Frequentemente citada como ponte, a região da Beríngia, atualmente submersa, era uma vasta planície relativamente quente, onde havia árvores como abeto e bétula e animais de pasto.

    Até agora, linguistas não haviam conseguido contribuir para essa síntese de dados genéticos e arqueológicos.

    Em 2008, porém, Edward Vajda, linguista na Universidade de Western Washington em Bellingham, Washington, disse que havia documentado uma relação entre o ienisseiano -grupo de línguas, em sua maioria extintas, faladas ao longo do rio Ienissei, na região central da Sibéria- e o na-dene. As línguas na-dene são faladas no Alasca e no oeste do Canadá, com dois bolsões atípicos no sudoeste dos Estados Unidos, o navajo e o apache.

    A reboque do êxito do doutor Vajda, dois linguistas, Mark A. Sicoli, da Universidade Georgetown em Washington, D.C., e Gary Holton, da Universidade do Alasca, avaliaram a relação das duas famílias linguísticas, com base em características gramaticais comuns. Em um trabalho publicado recentemente na revista científica "PLoS One", eles relatam sua descoberta surpreendente de que o na-dene não descende do ienisseiano, como seria de se esperar se os falantes de ienisseiano na Sibéria fossem a população original da migração dos na-dene.

    Segundo eles, ambas as famílias linguísticas descendem de uma matriz linguística perdida, falada na Beríngia.

    Os falantes dessa língua migraram para leste e oeste. O grupo que foi para leste chegou à América do Norte, tornando-se os falantes de na-dene, ao passo que o grupo que rumou para oeste voltou à Sibéria e se fixou ao longo do rio Ienissei.

    Resta investigar a relação entre as duas populações. "Talvez múltiplas correntes migratórias tenham se originado da mesma fonte em épocas diferentes", disse Dennis H. O'Rourke, geneticista antropológico na Universidade de Utah.

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