A empresa britânica Oxitec inaugurou nesta terça-feira (29) em Campinas sua primeira fábrica de mosquitos transgênicos Aedes aegypti, nova tecnologia de combate à dengue.
Com capacidade inicial para produzir 2 milhões de mosquitos machos estéreis por semana, a empresa já está em negociação com alguns municípios paulistas para implementar sua estratégia de erradicação do inseto transmissor da doença.
Entre as prefeituras que enviaram representantes à inauguração da fábrica ontem, a de Piracicaba era aquela que estava em conversação mais adiantada para levar o serviço biotecnológico à cidade. Os municípios de Campinas, Nova Odessa e Americana também sondaram a Oxitec, mas não há nenhum acordo em negociação ainda.
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
A bióloga Karla Tepedino segura recipiente cheio de mosquitos na Oxitec, em Campinas |
A empresa, na verdade, ainda não possui licença para comercializar o serviço, que deve ser concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A Oxitec já obteve aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para conduzir testes de campo, porém.
A empresa fez uma proposta à prefeitura de Piracicaba para realizar um teste piloto em uma área de proliferação concentrada do Aedes aegypti. Se o acordo vingar, os mosquitos devem ser soltos por volta de setembro, a melhor época do ano para tentar sabotar a reprodução do mosquito.
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Técnicas da Oxitec recolhem pupas de mosquito para separar insetos machos de fêmeas |
Apenas a fêmea de Aedes aegypti pica pessoas e transmite a doença. O inseto transgênico macho criado pela Oxitec impede a proliferação delas ao fecundá-las com esperma que gera filhotes inviáveis. Ao perder a oportunidade de copular com os machos saudáveis, as fêmeas deixam de se reproduzir, e a população do mosquito começa a diminuir.
Por enquanto, a fábrica de Campinas –localizada no Techno Park, um loteamento empresarial que recebe isenções fiscais– está produzindo mosquitos só a título de demonstração de sua capacidade. Apesar de parecer grande, a taxa de produção atual é suficiente para um plano combate apenas em uma zona habitada por 10 mil a 15 mil pessoas.
"Vamos construir instalações maiores no futuro", disse à Folha Glenn Slade, diretor global de negócios da empresa. "A estimativa de custo para implementar um programa de erradicação de mosquitos em uma cidade de 50 mil pessoas seria entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões para o primeiro ano. Nos anos seguintes o custo anual cai para R$ 1 milhão."
CARNEIRO E PEIXE
A linhagem do mosquito usada pela Oxitec foi criada 12 anos atrás em pesquisas na Universidade de Oxford. Os animais usados hoje são descendentes de mosquitos que foram geneticamente modificados em laboratórios. De lá até aqui, foram R$ 80 milhões investidos em pesquisa e desenvolvimento, diz Slade.
A fábrica de Campinas não requer infraestrutura sofisticada de engenharia genética, porém, apenas gaiolas e recipientes para manter a colônia de mosquitos. Os insetos se alimentam de ração de peixe. As fêmeas recebem também um suprimento de sangue de carneiro, necessário à sua ovulação.
As fêmeas de mosquito não podem ser liberadas na natureza. Para separar os mosquitos por sexo, os cientistas precisam coletar as pupas (casulos) na hora certa e usar peneiras especiais que isolam as fêmeas. Quando o mosquito chega ao tamanho maduro, os machos são colocados separadamente em potes para transporte até o local de soltura.
Os primeiros testes de campo da empresa já foram realizados na Malásia, nas Ilhas Cayman, no Panamá e no Brasil. Distritos nas cidades de Juazeiro (BA) e Jacobina (BA) registraram quedas de até 93% nas populações de mosquito, em testes feitos antes de a Oxitec se instalar no Brasil. Os primeiros testes foram planejadas pela organização Moscamed, criada para implementar a tecnologia no país.
Segundo os técnicos da empresa, os insetos transgênicos superam em eficácia a fumigação de inseticida, hoje uma das principais ações para combater a disseminação do mosquito. "O macho sabe sentir o cheiro da fêmea, sabe onde ela está e vai até ela", diz a bióloga Karla Tepedino, supervisora de produção e ensaios de campo da Oxitec. "Isso o pesticida não faz."