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    Richard Dawkins diz que religião é um 'vírus' para a mente humana

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    28/05/2015 02h00

    Desde 1976, quando lançou o livro "O Gene Egoísta", sabe-se que Richard Dawkins, 74, tem talento para fazer metáforas. Nesta quarta (27) no evento Fronteiras do Pensamento, em São Paulo, ele disse que a religião é como um vírus de computador que se instala no cérebro com a instrução de se apenas se replicar com o passar das gerações.

    Para o zoólogo de Oxford, a religião, ao longo de eras, se aproveitou de boas características da psicologia humana como a obediência, confiança e disciplina para continuar existindo.

    A religião seria um efeito colateral do desenvolvimento da cultura: ao mesmo tempo que os homens adquiriram sabedoria com os pais e anciãos (conseguir água, alimentos e ser manter saudável), também aprenderam coisas sem sentido como "você deve sacrificar uma cabra na lua cheia" ou a seguir um livro sagrado.

    Questionado se era 100% ateu, Dawkins disse que em uma escala de 1 (totalmente crente) a 7 (totalmente ateu) estaria na posição 6 (ou 6,9) já que não seria possível a um cientista sério provar que algo não existe. Deus, para ele, está na mesma categoria que fadas, goblins ou o Monstro de Espaguete Voador. Se houvesse boas evidências da existência de Deus, ele diz que mudaria de opinião.

    Fabio Braga/Folhapress
    Zoólogo Richard Dawkins em palestra nno evento Fronteiras do Pensamento, em São Paulo
    Zoólogo britânico Richard Dawkins em palestra no evento Fronteiras do Pensamento, em São Paulo

    RELOJOEIRO CEGO

    Uma das grandes preocupações que Dawkins mostrou é com relação ao grande espaço ocupado (principalmente nos EUA) pelo criacionismo e pelo design inteligente –hipótese pseudocientífica que afirma haver um designer, um arquiteto que tenha criado a vida na Terra tal como existe hoje.

    "São pessoas que dizem que a Terra tem menos de 10 mil anos", diz –nosso planeta tem 4,5 bilhões de anos. Para ele, religião deve ser estudada com distanciamento e não como uma alternativa de explicação para o mundo atual

    No livro "O Relojoeiro Cego" (1986), Dawkins argumenta contra a necessidade de um arquiteto ou relojoeiro que seria responsável pela complexidade da vida na Terra.

    Para o zoólogo, que tem uma fundação que promove divulgação do conhecimento científico (Richard Dawkins Foundation), ao aprender sobre evolução e seleção natural as crianças poderiam até mesmo conhecer o sentido da vida.

    São duas maneiras de pensar: a primeira seria apenas se reproduzir e perpetuar seus genes. Já a segunda pode estar ligada ao passatempo ou talento das pessoas, como esportes ou música. "E nenhuma delas precisa de religião", afirma.

    GENE EGOÍSTA

    Antes de dedicar-se às polêmicas de ateísmo versus religião, Dawkins deu ao longo de 45 minutos uma excelente aula sobre evolução para o auditório lotado do teatro Ciec, em Pinheiros (zona oeste). A principal comparação que ele usou para falar do assunto foi a de uma corrida armamentista (ao mesmo tempo que o leão teve de evoluir e se aperfeiçoar para capturar a gazela, a gazela teve de se adaptar e se aperfeiçoar para fugir do leão).

    As espécies de hoje em dia seriam o resultado de uma "equação econômica" cujo resultado depende de onde os bichos investem energia –recurso escasso na natureza.

    Os animais e organismos investem energia para que possam se reproduzir e passar seus genes adiante. E é justamente no gene, potencialmente imortal, que Dawkins vê a teoria da seleção natural fazer sentido. O gene tem a tendência a se perpetuar e isso transcende tanto o bem-estar do indivíduo quanto o do grupo –daí o nome de seu primeiro livro.

    Mesmo assim, segundo o cientista, é possível haver duas formas colaboração entre indivíduos: ou você compartilha características genéticas (no caso de um familiar) ou no caso de um altruísmo recíproco ("eu coço suas costas você coça as minhas"). O tema dessa edição do Fronteiras do Pensamento é "Como viver juntos".

    POLÊMICAS

    Na fase de perguntas, não faltaram temas provocativos. Dawkins reforçou sua posição pró-aborto e disse que não condena moralmente quem tenha feito aborto ao saber que o embrião seria portador de Síndrome de Down.

    Ele, tentando fugir de mais polêmica, disse que sua posição não deveria ser confundida com algo contra pessoas com down, e que se tivesse um filho com a síndrome provavelmente o amaria.

    Outro assunto polêmico foi a utilização em humanos da tecnologia do DNA recombinante, capaz de produzir plantas e animais transgênicos. Dawkins diz que por milênios a espécie humana manipulou o fator seleção de outras espécies, como cães e cavalos, além de plantas, mas não o fator mutação.

    Esse conhecimento de seleção artificial, talvez por uma questão moral, nunca foi aplicado em seres humanos para construir pessoas mais altas, fortes ou inteligentes, por exemplo.

    Mesmo com os avanços tecnológicos ele disse torcer para que a mesma barreira moral impedisse que a manipulação genética fosse empregada na nossa espécie.

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