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    DNA do diamante: PF cria método para definir origem das pedras preciosas

    REYNALDO TUROLLO JR.
    ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

    12/07/2015 01h46

    Peritos da área de geologia da Polícia Federal desenvolveram um método para definir qual é o local de origem de diamantes brutos extraídos em território brasileiro. A técnica tem ajudado autoridades a coibir a exploração de diamantes em áreas proibidas, como terras indígenas.

    Investigações apontam que garimpeiros extraem diamantes em locais restritos e, depois, levam as pedras para áreas onde a mineração é permitida, para "esquentá-las". Com a fraude, visam obter o selo necessário para comercializá-los, o certificado Kimberley.

    Para evitar esse mercado ilegal, o método desenvolvido pelos peritos consiste na descrição dos diamantes brutos de um lote suspeito e na posterior comparação de suas características com um banco de dados, o que permite identificar sua origem.

    Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

    Para cada diamante, são observados 60 parâmetros, como morfologia (forma), peso, presença de pontos de irradiação (marcas) e de outros minerais, cor e transparência.

    Esses itens variam conforme o local de origem da pedra.

    "Durante a ascensão do diamante do manto [onde ele é formado] para a crosta terrestre, são impressas nas faces do cristal algumas feições que podem ser como um DNA, como uma identificação de onde a pedra foi gerada", afirma a perita Sara Lenharo, que participou do início das pesquisas, em 2007.

    Daí o projeto ter sido batizado de DNA do Diamante.

    BANCO DE DADOS

    Em um primeiro momento, os pesquisadores criaram um banco de dados com as características de diamantes provenientes de sete locais onde há extração (legal ou ilegal): a terra indígena Roosevelt (RO), Juína (MT), Gilbués (PI), Braúna e Chapada Diamantina (ambas na BA) e Espinhaço e Coromandel (MG).

    "De cada depósito, analisamos no mínimo 200 pedras para chegar a um padrão daquela área", diz Lenharo.

    A ideia é abastecer continuamente o banco de dados com características de novas áreas. Mais cinco serão incluídas até o fim do ano que vem.

    Hoje, o acesso ao banco é restrito aos policiais federais.

    Quando a PF apreende um lote de diamantes sob suspeita, peritos que receberam treinamento para observar e descrever as pedras aplicam o método desenvolvido.

    Os parâmetros descritos são convertidos em números, que passam por uma análise estatística em um programa de computador. Esse software cruza as feições das pedras analisadas com o banco de dados e, automaticamente, aponta a provável origem.

    Por se tratar de um trabalho estatístico, não é possível definir o local de origem de uma única pedra. É preciso analisar lotes com, no mínimo, de 60 a 100 diamantes.

    Os resultados auxiliam a PF em investigações e viram provas técnicas em processos contra traficantes de pedras –como em 2010, quando um lote de 60 diamantes, apreendido em Minas, foi identificado como sendo proveniente da terra indígena Roosevelt, onde a exploração é proibida.

    Segundo Lenharo, a técnica requer apenas uma lupa, uma pinça e um perito bem treinado. Pode ser aplicada em qualquer local, e não apenas em centros de pesquisa, e não destrói o diamante.

    Neste ano, técnicos do processo internacional de certificação Kimberley, segundo a perita, demonstraram interesse de levar a técnica, inédita, para outros países.

    "Às vezes, as pessoas acham que é preciso fazer um mundo de coisas para chegar a uma solução. Mas a gente consegue, com um trabalho simples, descritivo, chegar a um resultado como esse", diz.

    Parte do projeto consta da dissertação de mestrado de Marcos Paulo Carvalho de Alencar Borges, apresentada ao instituto de Geociências da UnB (Universidade de Brasília), em 2009.

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