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    Pererecas usam cabeçadas para envenenar inimigos

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    26/07/2015 01h45

    Laboratório de Biologia Celular/Instituto Butantan
    Perereca-de-capacete da caatinga brasileira, que tem crânio e corpo repleto de espinhos venenosos
    Perereca-de-capacete da caatinga brasileira, que tem crânio e corpo repleto de espinhos venenosos

    Na cabeça delas não quase não há pele, mas sim espinhos capazes de injetar veneno nos predadores.

    Trata-se de uma descoberta importante, pois faz com que duas espécies nacionais, conhecidas como pererecas-de-capacete, devam mudar de categoria: de animais venenosos para peçonhentos.

    O trabalho, já aceito para publicação na revista "Current Biology", é uma parceria entre o Instituto Butantan e a Universidade de Utah.

    Venenosos são aqueles organismos –como taturana, sapos, algumas plantas e o baiacu– que produzem veneno mas não têm um mecanismo capaz de injetá-lo.

    Já os organismos peçonhentos –como aranha armadeira, jararaca, arraias e água-viva– têm essa capacidade para agredir quem incomoda.

    Os animais do primeiro grupo têm a chamada defesa passiva. O segundo grupo, ativa.

    Até então, as pererecas teriam defesa passiva porque, como os sapos, apresentam glândulas de veneno na pele, que só com um evento físico (como uma mordida) afetavam o predador.

    A mudança de categoria das pererecas-de-capacete veio de uma experiência bastante real, sofrida pelo biólogo Carlos Jared, pesquisador do Instituto Butantan e um dos autores do estudo (veja depoimento abaixo).

    Além das cabeçadas, os animais têm também uma outra defesa, passiva: um muco secretado que, em contato com a mucosa de predadores, faz com que eles vomitem.

    Pererecas venenosas

    QUEM É QUEM

    As espécies –Corythomantis greeningi e Aparasphenodon brunoi– foram descritas há mais de um século, mas até então o comportamento de dar cabeçadas não havia sido documentado.

    Editoria de Arte/Folhapress
    defesa passiva ou ativa

    A flexibilidade dos bichos é descomunal: mesmo com o corpo imobilizado, conseguem mexer o pescoço em grandes amplitudes, permitindo golpes venenosos.

    As cabeças são úteis tanto para defesa quanto para evitar perda de umidade. A C. greeningi (da caatinga, também conhecida como jia-de-parede) se esconde em buracos em troncos de árvores e entre pedras, deixando só a cabeça para fora. As cabeçonas vedam os buracos, mantendo os bicho hidratados.

    As A. brunoi são da mata atlântica e tem aparência menos enrugada que os animais da caatinga; seu veneno é 25 vezes mais potente que o da jararaca (o da C. greeningi é só duas vezes mais potente).

    "Esse estudo, entre outras coisas, serve para o público e os biologistas perceberem que pererecas nem sempre são tão gentis quanto pensamos", diz Edmund Brodie, pesquisador da Universidade de Utah.

    *

    Veja depoimento de Carlos Jared, que foi envenenado:

    "Desde 1987 vou à caatinga, e a perereca foi o primeiro bicho que eu estudei lá.

    Uma vez, fazia anos que não chovia. E choveu. Era uma explosão de bichos para todo lado, a gente coletou um monte. Quando pegava, via que elas mexiam a cabeça e, de repente, me deu uma dor incrível no braço, que durou cinco horas. É o que dá catar perereca com pressa.

    Outra vez, não fui atacado, mas tive contato com o muco. De novo, que dor. Imagina o que um bicho desses faz com a mucosa da boca de quem o morde..."

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