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    Após 15 anos, promessas do genoma humano se tornam palpáveis

    GABRIEL ALVES
    ENVIADO ESPECIAL A SAN FRANCISCO (EUA)

    20/09/2015 01h46

    Houve comoção quando, em 2000, o presidente dos EUA, Bill Clinton, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, anunciaram com cientistas os primeiros resultados do mapeamento do genoma humano. Só quinze anos depois as promessas do genoma começam a ficar palpáveis.

    Entre as novidades, estão tratamentos contra o câncer que partem da análise genética dos tumores para que se saiba quais os medicamentos mais adequados.

    Por exemplo, pessoas com câncer de pulmão e com um rearranjo no gene ALK podem ser tratadas com a droga crizotinib, o que diminui significativamente o crescimento do tumor. No entanto, a droga só funciona com tumores ALK positivos, ou seja, naqueles que carregam essa alteração.

    De modo mais geral, os pesquisadores estão descobrindo que, para localizar alterações genéticas, o genoma não precisa ser lido "por inteiro". Basta se ater aos pedaços mais informativos.

    Trata-se de uma postura cautelosa dos pesquisadores. A expectativa inicial era muito grande, especialmente entre os não cientistas: o mapeamento total do genoma permitiria criar uma relação direta entre genes e doenças.

    Não foi bem assim que a coisa se mostrou, no entanto.

    Linha do tempo: O despertar do genoma

    BARATEAMENTO

    Nesses 15 anos, houve um grande barateamento do sequenciamento.

    O projeto genoma humano original, na década de 1990, custou US$ 2,7 bilhões. Hoje, fazer um sequenciamento custa a partir de R$ 10 mil.
    Tal mudança permitiu diversificar as pesquisas.

    Agora há trabalhos, por exemplo, que tentam identificar a fundo a flora microbiana –é possível inclusive conhecer os hábitos alimentares e a região de origem de uma pessoa assim, e há aplicações do diabetes à obesidade.

    Outra aplicação é o que se pode chamar de "peneira genética" para atletas. Olhando alguns marcadores, é possível prever em quais modalidades futuros atletas vão se dar melhor. Esse é um dos projetos ao qual está se dedicando o professor da Unifesp João Bosco Pesquero, por exemplo.

    No caso do câncer, o estudo das mutações também facilita o diagnóstico.

    Um exemplo foi o de Angelina Jolie, que, por causa de uma mutação no gene BRCA1, decidiu remover as duas mamas preventivamente –era praticamente certo (87% de chance) de que ela desenvolveria câncer de mama em algum momento na vida.

    Na maior parte das vezes, porém, o que se sabe é que há uma chance poucos pontos percentuais maior do que a média de se ter determinado problema de saúde.

    A essa questão a pesquisadora Mayana Zatz se dedicou em seu livro "Genética - Escolha que Nossos Avós Não Faziam" (editora Globo). De que adianta saber que há uma chance grande (ou minúscula) de desenvolver uma doença se não há o que fazer para preveni-la ou curá-la?

    '-ÔMICAS'

    Há ainda várias outras áreas com resultados interessantes além da genômica.

    Uma delas é a proteômica, ou seja, o estudo das proteínas, que são produto da expressão gênica. Há ainda a transcriptômica, que estuda o RNA, e a conectômica, que tenta decifrar como neurônios se comunicam.

    Se tudo der certo, em algumas décadas teremos a chance de ter um arsenal de recursos farmacológicos eficazes e baratos contra boa parte das doenças crônicas, como alzheimer e hipertensão.

    Mas, como se vê, expectativas às vezes são frustradas.

    O jornalista viajou a convite da empresa de biotecnologia Thermo Fisher

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