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    Lei permite mineração de asteroides e dá início a nova era da exploração espacial

    SALVADOR NOGUEIRA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/02/2016 01h47

    Quem acompanha os movimentos da indústria aeroespacial sente no ar (ou seria no vácuo?) o cheiro de uma nova corrida do ouro. E de platina. E do que mais se puder obter em asteroides.

    Governos do mundo inteiro começam a se preparar para o que pode vir a ser uma nova era na exploração do espaço, enquanto empresas planejam audaciosamente lucrar onde ninguém jamais esteve.

    No fim do ano passado, o presidente americano Barack Obama sancionou uma lei que reconhece o direito à propriedade, por cidadãos e entidades americanas, de quaisquer recursos naturais obtidos de asteroides.

    O U.S. Commercial Space Launch Competitiveness Act também encoraja a exploração comercial e a utilização de recursos provenientes desses corpos celestes.

    Espaço S.A.

    A iniciativa foi festejada pela empresa Planetary Resources, que em 2012 anunciou seus planos de minerar asteroides, a começar na próxima década.

    "Esse é o maior reconhecimento de direito de propriedade da história", declarou Eric Anderson, diretor da companhia.

    E não é só nos Estados Unidos que essa bola começou a rolar. No início deste mês, o governo de Luxemburgo declarou suas intenções de investir em companhias de mineração espacial e criar legislação para proteger os direitos dessas empresas.

    No Reino Unido, já há um lobby para o estabelecimento de regras semelhantes. Tudo para dar segurança jurídica a iniciativas que poderiam ser vistas como contrárias ao Tratado do Espaço, criado em 1967.

    O documento basicamente declara a Lua e os demais corpos celestes, assim como o próprio espaço, "não estão sujeitos a apropriação nacional (...) por qualquer meio" e que "a exploração e o uso do espaço exterior deve ser conduzido em benefício e no interesse de todos os países".

    Na época, as cláusulas mais importantes eram as que proibiam a colocação de ogivas nucleares ou outras armas de destruição em massa no espaço.

    Agora, contudo, a discussão do uso e da posse de recursos espaciais começa a se tornar imperativa. Por quê? Porque pela primeira vez começa a parecer que essa atividade pode vir a se tornar economicamente viável.

    O CUSTO DO TRANSPORTE ESPACIAL

    O futuro depende basicamente da capacidade de reduzir o custo do acesso ao espaço _o "santo graal" da indústria aeroespacial desde a criação dos ônibus espaciais, no fim da década de 1970.

    Reutilizáveis, eles foram concebidos pela Nasa para baratear o transporte espacial _e acabaram se saindo mais caros e perigosos do que foguetes convencionais.

    Agora, uma nova tentativa está emergindo da iniciativa privada. A empresa americana SpaceX está desenvolvendo foguetes que, depois de levar sua carga ao espaço, retornam e pousam sobre plataformas no mar ou em terra.

    Eles já realizaram um retorno bem-sucedido, mas ainda precisam provar que o custo de recauchutar o foguete usado não será alto a ponto de anular as vantagens de reutilizá-lo.

    "A questão não é se sistemas de lançamento reutilizáveis podem ser construídos, mas se podem ser construídos e fazer sentido do ponto de vista econômico", diz Paul Spudis, pesquisador do Instituto Lunar e Planetário, em Houston.

    Isso a SpaceX ainda não demonstrou. De toda forma, ela está criando tendências. Sua principal concorrente no mercado de lançamentos militares americanos, a ULA, decidiu que seu próximo foguete, o Vulcan, terá um motor reutilizável.

    O mesmo está acontecendo com a francesa Arianespace, que pensa em desenvolver elementos reutilizáveis para seu próximo lançador, o Ariane 6.

    E a mesma premissa está sendo seguida pelas empresas que pretendem oferecer voos suborbitais de turismo espacial: tanto a Virgin Galactic, de Richard Branson, quanto a Blue Origin, de Jeff Bezos, trabalham com sistemas reutilizáveis.

    O QUE VEM POR AÍ

    Ao mesmo tempo, a Nasa está investindo em sua própria cápsula e foguete para exploração do espaço profundo, com o objetivo de levar humanos além da órbita terrestre no começo da próxima década.

    Será a primeira vez que isso acontece desde o fim das missões Apollo, em 1972. E o objetivo declarado da agência espacial americana é levar uma tripulação às imediações de Marte até o fim da década de 2030.

    Em paralelo, a ESA (Agência Espacial Europeia) defende que o próximo passo, depois do fim do programa da Estação Espacial Internacional (marcado para 2024), é o estabelecimento de uma base lunar.

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