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    mosquito aedes aegypti

    Liberação de mosquitos transgênicos contra dengue e zika avança no país

    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO

    09/06/2017 02h00

    Reprodução/Plos One
    Mosquito Aedes aegypti, que transmite dengue, febre amarela, zika e chikungunya

    Após o sucesso em Piracicaba (SP) com seus mosquitos Aedes aegypti transgênicos, a Oxitec deve soltar os bichinhos para alçar voos mais altos e chegar até mesmo em outros Estados.

    Algumas das prováveis cidades de pouso são a mineira Juiz de Fora e Búzios, na região dos lagos, no Rio. O presidente da Oxitec no país, Jorge Espanha, também diz ter sido procurado por cidades pernambucanas.

    Como o mosquito ainda não pode ser comercializado –já que não tem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para este fim–, a soltura dos Aedes se dá na forma de uma espécie de projeto de pesquisa de parceria entre as prefeituras e a empresa.

    À Folha, a secretária da saúde de Juiz de Fora, Elizabeth Jucá, disse que desde 2015 há conversas com a empresa e que o contrato que firma a parceria deve ser assinado nos próximos dias.

    Segundo a Secretaria da Saúde da cidade, a prefeitura desembolsará R$ 330 mil reais por ano, ao longo de quatro anos.

    No primeiro ano os Aedes machos serão soltos em uma área com cerca de 10 mil habitantes. No ano seguinte será tratada uma área de 20 mil habitantes, e o ritmo de crescimento se manterá até o quarto ano, quando uma área com 40 mil habitantes receberá os insetos.

    No bairro piracicabano do Cecap, de 5.000 habitantes, a empresa liberou semanalmente entre 0,5 e 1,2 milhão de mosquitos. Fazendo as contas, são cerca de 100 e 240 mosquitos por habitante por semana.

    Se a mesma proporção de mosquitos for liberada em Juiz de Fora, é como se um mosquito transgênico custasse, no primeiro ano, algo na ordem de R$ 0,01. Esse valor diminuiria ao longo dos anos.

    (Fatores geográficos como tipo do relevo, clima e nível de aglomeração populacional podem afetar a estratégia de liberação de mosquitos e a quantidade a ser solta na cidade mineira.)

    Segundo Elizabeth Jucá, o montante a ser pago estará abaixo do valor de mercado praticado pela Oxitec quando a prática for efetivamente liberada pela Anvisa. Entre 2015 e 2016, durante um surto de dengue na cidade, foram gastos R$ 7 milhões além dos gastos ordinários com saúde, afirma a secretária.

    A expectativa é que, nos bairros mais afetados, haja redução no número de mosquitos (e, por conseguinte, de arboviroses como zika, dengue, febre amarela e chikungunya) semelhante àquela observada em testes em Piracicaba, onde houve redução de mais de 80% no número de larvas de Aedes aegypti selvagem.

    REGULAÇÃO

    Na avaliação do diretor-presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, a agência está demorando muito para dar um parecer (seja positivo ou negativo) para a possível comercialização do mosquito.

    Segundo ele, o processo já está há dois anos em uma espécie de "limbo regulatório", no qual houve questionamentos até mesmo sobre se é a Anvisa que deveria regular a nova tecnologia. Para Barbosa, a agência deve, sim, regular a questão, já que existe a necessidade de uma avaliação da eficácia da tecnologia sobre a saúde humana.

    Nos próximos 90 dias, diz, deve haver alguma decisão sobre o tema. "A regulação tem que favorecer a inovação, e não impedi-la".

    Os mosquitos da Oxitec (adquirida em 2015 pela gigante biotecnológica Intrexon) têm um gene que faz com que a prole não chegue à fase adulta. Só os machos são liberados.

    A empresa inaugurou no ano passado, em Piracicaba,uma fábrica com capacidade de produzir 60 milhões de mosquitos por semana.

    No caso de uma expansão para o Nordeste, o que poderia haver é um "centro de eclosão de ovos", que seriam fornecidos pela fábrica localizada no interior paulista.

    "Não entendo como uma questão tão relevante, urgente, e que afeta tanta gente no país demore tanto para ter uma decisão oficial", afirma o vice-presidente da Intrexon, Tom Bostick.

    Procurada para se manifestar a respeito da chegada de mosquitos transgênicos, a prefeitura de Búzios (RJ) não respondeu aos contatos da reportagem.

    FRUTAS E PEIXES

    A gigante biotecnológica Intrexon, dona da Oxitec e de outras empresas de tecnologia, pretende, além de ampliar a oferta de insetos transgênicos, trazer novos produtos para a América do Sul e para o Brasil. A maçã que não escurece e o salmão que cresce mais rápido são dois deles.

    Os alimentos foram modificados em laboratório para ganhar valor nas prateleiras do mercado e, dizem os executivos da empresa, até mesmo reduzir o impacto ambiental e o desperdício de comida.

    No caso das maçãs (já comercializadas com a marca Arctic Apple nos EUA e no Canadá), a expressão de uma enzima foi reduzida. Essa enzima, em maçãs comuns, age em resposta ao contato com o oxigênio atmosférico, provocando o envelhecimento natural da fruta –no ambiente selvagem, é algo importante para a viabilidade das sementes.

    Outro produto que a Intrexon deseja expandir para além da América do Norte é o salmão AquAdvantage da AquaBounty, outra companhia do grupo.

    Essa variedade do peixe cresce em cativeiro mais rapidamente que o animal convencional, requerendo 25% menos comida. Esse salmão já é produzido no Panamá, e a ideia é começar a entrar no mercado sul-americano pelo Chile.

    Apesar do custo de implementação, o piscicultor teria retorno financeiro em um ritmo acelerado por causa do crescimento mais rápido do peixe, segundo a empresa.

    No Brasil, o segundo projeto mais adiantado da Intrexon são as moscas-da-fruta transgênicas (a praga causa prejuízos anuais de US$ 2 bi). Nesses moldes, está nos planos produzir uma versão transgênica da broca-da-cana, que afeta o setor sucroalcooleiro.

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