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    Nobel 2017

    Nobel de Física vai para cientistas que detectaram ondas gravitacionais

    FERNANDO TADEU MORAES
    DE SÃO PAULO

    03/10/2017 07h11 - Atualizado às 09h46

    O Nobel de Física de 2017 vai para os americanos Rainer Weiss, 85, Kip Thorne, 77, e Barry Barish, 81, membros da colaboração Ligo (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro a Laser, na sigla em Inglês) por suas contribuições para a detecção das ondas gravitacionais.

    Ao anunciar o prêmio, na manhã desta terça-feira (3), a Academia Real Sueca de Ciências chamou o feito do trio de "uma descoberta que abalou o mundo".

    Nobel 2017

    Previstas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) há um século, essas ondas são perturbações no tecido que os físicos denominam espaço-tempo e se propagam na velocidade da luz. Grosso modo, tudo se passa como as oscilações na superfície de um lago, produzidas pelo impacto de uma pedra.

    Tais perturbações do espaço-tempo são produzidas por quaisquer massas em aceleração (como uma pessoa correndo ou um carro numa estrada), mas só eventos cataclísmicos podem ser detectados atualmente, explica o físico italiano Riccardo Sturani, membro da colaboração Ligo e professor titular do Instituto Internacional de Física da UFRN.

    Foi o caso do processo de colisão de dois massivos buracos negros, ocorrida há 1,3 bilhão de anos, cujas vibrações no espaço-tempo foram detectadas pelo Ligo em setembro de 2015 e anunciadas em 11 de fevereiro 2016.

    sistema Ligo

    A observação direta dessas ondas restava como a última das grandes predições da Teoria da Relatividade Geral ainda a ser provada.

    O prêmio deste ano não foi exatamente uma surpresa. A escolha das ondas gravitacionais para o Nobel de Física foi a principal aposta de cientistas brasileiros que participaram do "bolão" promovido pela Folha. Dos 14 palpites recebidos, 11 apontavam a detecção do fenômeno como a favorita para levar a honraria.

    O detector utilizado, o Ligo, começou a ser concebido no início dos anos 1990 e constitui uma das maiores realizações tecnológicas da história. Sua sensibilidade extraordinária permite medir oscilações no espaço-tempo causadas por ondas gravitacionais da ordem de um décimo de milésimo do diâmetro de um próton, uma partícula subatômica invisível ao mais potente microscópio.

    "O Ligo é a régua mais precisa que a humanidade já construiu", resume Sturani.

    Os vencedores de 2017 dividirão um prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,5 milhões). Weiss ficará com metade do dinheiro, enquanto Thorne e Barish dividirão a outra metade.

    ondas gravitacionais

    OUVIR O UNIVERSO

    A capacidade do Ligo de captar as ondas gravitacionais abriu um novo mundo para a astronomia. "Ele permite observar o Universo de uma outra forma, diferente da proporcionada por ondas eletromagnéticas, neutrinos ou raios cósmicos", diz o físico Odylio Aguiar, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e que também integra a colaboração Ligo.

    "Dois buracos negros orbitando um em torno do outro, por exemplo, não produzem ondas eletromagnéticas ou partículas que pudessem ser detectadas. Só conseguimos observar eventos como esse no canal das ondas gravitacionais", diz o cientista.

    Quando do anúncio da detecção, em 2016, Kip Thorne disse que antes nós apenas víamos o Universo; agora, começamos a ouvi-lo.

    Sturani se vale de outra imagem. "É como se até hoje só tivéssemos visto filmes mudos do Universos e agora passássemos também a assisti-los com som. É como ter um novo sentido", diz.

    As duas equipes brasileiras que integram a colaboração Ligo tem papel distintos. O trabalho de Sturani é voltado para a análise e modelagem dos sinais captados, ao passo que o de Aguiar, mais experimental, é direcionado para o desenvolvimento de melhorias instrumentais do observatório.

    De acordo com Aguiar, além dos três observatórios de ondas gravitacionais hoje existentes (dois no EUA e um na Itália), nos próximos anos devem ser inaugurados um no Japão e outro na Índia. "Em breve teremos cinco interferômetros supersensíveis, que formação uma rede", diz.

    "Estamos somente no começo dessa nova jornada pelo Universo", conclui o pesquisador do Inpe.

    MEDICINA

    Nesta última segunda-feira a Academia Real Sueca de Ciências anunciou que um trio de cientistas americanos venceu o Nobel de Fisiologia ou Medicina por pesquisas relacionadas ao relógio biológico.

    ESCOLHA

    A escolha do vencedor do prêmio mais importante da área é feita pela Academia Real Sueca de Ciências, na Suécia, escolhida por Alfred Nobel em seu testamento para eleger e premiar com a láurea o os autores de feitos notáveis para a humanidade.

    O prazo para o comitê receber as indicações foi dia 31 de janeiros. De 350 a 400 nomes estavam no páreo.

    Podem indicar nomes membros do comitê do Nobel do Instituto Karolinska, membros da Academia Real Sueca de Ciências, vencedores dos Nobéis de física, professores titulares de física de instituições suecas, norueguesas, finlandesas, islandesas ou dinamarquesas e acadêmicos e cientistas selecionados pelo comitê do Nobel –autoindicações são desconsideradas.

    A cerimônia de premiação propriamente dita dos vencedores deste ano só ocorre em dezembro.

    Entre os cientistas premiados no passado estão Max Planck (1918), por ter lançado as bases da física quântica; Albert Einstein (1921), pela descoberta do efeito fotoelétrico; Niels Bohr (1922), por suas contribuições para o entendimento da estrutura atômica e Paul Dirac e Erwin Schrödinger (1933), pelo desenvolvimento de novas versões da teoria quântica.

    Foram premiados ainda Arno Penzias e Robert Wilson (1978), pela descoberta e detecção da radiação de fundo do Universo; o trio William Bradford Shockley, John Bardeen e Walter Houser Brattain (1956), por pesquisa na área de semicondutores e pela descoberta do efeito transistor e da dupla Peter W. Higgs e François Englert (2013) por seus trabalhos sobre como as partículas adquirem massa.

    O físico brasileiro César Lattes (1924-2005), que teve participação decisiva em uma das descobertas científicas mais importantes do século passado: a detecção do méson pi (ou píon), partícula que mantém prótons e nêutrons unidos no núcleo dos átomos, foi indicado ao Nobel de Física sete vezes, mas nunca levou o prêmio.

    Nobel 2016

    Os vencedores de 2017 dividirão o prêmio de 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 3,5 milhões). O dinheiro vem de um fundo de mais de 4 bilhões de coroas suecas (em valores atuais) deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Os prêmios são distribuídos desde 1901. Além do valor em dinheiro, o laureado recebe uma medalha e um diploma

    QUÍMICA

    Nesta quarta (4) será anunciado o prêmio de química. Assim como o de física, ele é distribuído pela Academia Real Sueca de Ciências.

    No mesmo ano, o prêmio de química ficou com três pesquisadores responsáveis pela aurora da área das nanomáquinas, dispositivos moleculares capazes de tarefas extraordinárias, ao menos em teoria, como levar um carregamento de uma determinada droga diretamente para um tumor, combatendo-o.

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